BOTÂNICA E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
A baunilha é uma planta trepadeira (Figura 1A) da família das orquídeas (Orchidaceae), pertencente ao gênero Vanilla. É a única orquídea que possui frutos aromáticos; por isso, é utilizada amplamente na indústria de alimentos, cosméticos e gastronomia. Embora o termo botânico que define o tipo de fruto da baunilha seja “cápsula”, ele é comumente chamado de “fava” ou “vagem” Os frutos somente produzirão aroma quando em plena maturidade, o que pode ocorrer de forma natural ou artificialmente pelo processo de cura (Figura 1C). Nesta publicação, utiliza-se o termo “baunilha” exclusivamente para referir às espécies de Vanilla que produzem frutos aromáticos.
Planta trepadeira de Vanilla planifolia (A)frutos curados de Vanilla planifolia (C)Ao todo, são conhecidas aproximadamente 110 espécies do gênero Vanilla e cerca de 30 a 40 espécies possuem frutos aromáticos. O gênero é mais diversificado na América tropical (52 espécies), mas ocorre também na África, nas ilhas do Oceano Índico, Sudeste Asiático/Nova Guiné e ilhas do Pacífico. As 110 espécies se distribuem em praticamente todos os países que ocupam a faixa tropical (entre os paralelos 27º Norte e Sul), mas estão ausentes na Austrália. As espécies que possuem frutos aromáticos ocorrem somente na América Tropical. Nesse contexto, o Brasil desponta como o País que comporta a maior diversidade, com 35 a 40 espécies, sendo cerca de 15 com frutos aromáticos.
Diferenças entre as baunilhas e as demais orquídeas
As orquídeas podem crescer diretamente no solo (hábito terrestre, Figura 2A) ou sobre outras plantas, sem contato com o solo (hábito epifítico, Figura 2B). As baunilhas apresentam uma forma de crescimento diferente: as sementes germinam no solo, e a planta se desenvolve aderida ou apoiada sobre outras plantas sem perder o contato com o solo (hábito semiepifítico ou hemiepifítico, Figura 2C), característica para a qual se utiliza atualmente o termo nomadic vine ou adpressed climber, ainda sem tradução para o português (Zotz et al., 2021).
Orquídea de hábito terrestre (A)orquídea de hábito epifítico (B)
baunilha (Vanilla pompona) de hábito hemiepifítico (C)
A maioria das orquídeas possui frutos secos, sementes envoltas por membrana que são disseminadas pelo vento. Já as baunilhas, além de serem as únicas orquídeas que possuem frutos aromáticos e carnosos, apresentam sementes lisas e disseminadas por insetos, aves ou pequenos mamíferos.
Principais características morfológicas das baunilhas
Três espécies são cultivadas em maior escala no mundo (V. planifolia, V. tahitensis e V. pompona). V. planifolia é a espécie mais utilizada e representa 95% de toda a baunilha cultivada no mundo, seguida da V. tahitensis e V. pompona. De modo geral, V. planifolia e V. tahitensis são muito semelhantes entre si. Já V. pompona apresenta um conjunto de características que a distingue das outras duas (por exemplo, suas folhas são maiores e mais largas). As folhas de V. tahitensis são as mais estreitas entre as três espécies consideradas (Tabela 1).
V. planifolia
Aspecto geral da folha
Aspecto geral da flor
Aspecto geral do fruto
Corte transversa do fruto
Flor da baunilha
A flor da baunilha é formada por sépalas, pétalas, labelo, coluna e ovário (Figura 3).
O labelo é uma pétala modificada que possui forma e coloração diferentes das demais partes da flor e se encontra em posição contrária à coluna (Figura 4).
Ao contrário das outras famílias botânicas, cujos órgãos reprodutivos masculinos e femininos comumente se encontram livres, nas orquídeas, eles se mostram fundidos numa mesma peça – a coluna (Figura 5), porém em localizações distintas.
A parte masculina se localiza no ápice com a antera protegendo o pólen, como uma capa. A antera pode ter sua posição alterada (versátil), mas sempre volta à posição original.
Logo abaixo dos órgãos masculinos, observa-se uma membrana, em posição perpendicular à coluna, chamada de rostelo, que serve como barreira física impedindo o contato entre os órgãos masculinos e femininos. Imediatamente abaixo do rostelo, observam-se os estigmas (parte dos órgãos femininos), que apresentam aparência úmida, em razão da presença de um líquido denso, aderente, próprio para “segurar, prender” os grãos de pólen que forem ali depositados.