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sábado, 26 de setembro de 2015

Cultura da Araruta (Marantaarundinacea)


Sendo a fécula e a farinha subprodutos de consumo extraídos do seu rizoma, a araruta (Marantaarundinacea) não é classificada como hortaliça sob o conceito das ciências agronômicas. Contudo, a planta foi incluída no grupo de alimentos que, no meio acadêmico, são mais conhecidos como hortaliças não convencionais, a fim de promover o resgate de seu uso nas receitas culinárias.
Antes tradicionais no prato do brasileiro, frutas, folhosas, leguminosas e raízes, assim como a araruta, foram perdendo espaço nas últimas décadas diante das mudanças nos hábitos alimentares da população. Além de não contarem com produção comercial em escala, o crescente processo de urbanização e globalização favoreceu o incremento da demanda por comida industrializada.
Alvo de retomada do plantio por institutos de pesquisas e empresas de extensão rural, com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a araruta é de fácil cultivo. Os próprios órgãos de estudo ou organizações de agricultores fornecem informações técnicas para o plantio, que pode ser em pequenas áreas e apresentam baixo custo.
Cerca de 50 plantas bastam para consumo próprio, rendendo de 5 a 10 quilos de fécula (amido ou polvilho) ou de 15 a 20 quilos de farinha. Para produção comercial, ao menos 500 metros quadrados são necessários para o plantio, cujo custo inclui o preparo do solo, adubação leve e mão de obra.
Dotado de amido fino, branco e de excelente qualidade, a farinha e, especialmente, o polvilho do rizoma contam com a vantagem de serem alimentos muito ricos em carboidratos e altamente nutritivos. Isentos de glúten, são recomendados inclusive para celíacos (pessoas com restrições alimentares à proteína presente no trigo, aveia, cevada e centeio).
Leve e de boa digestão, a fécula branca retirada do rizoma (caule diferenciado e subterrâneo) da planta é adequada para o preparo de mingaus, brevidades, sequilhos, bijus, bolos e biscoitos. Também tem uso na produção de doces, caldas de frutas e no engrossamento de molhos, cremes e sopas.
O rico potencial de utilidade da araruta não se restringe apenas a receitas culinárias, no entanto.As fibras resultantes do processo de extração da fécula podem ser usadas como matéria-prima para a produção de papel.
Conhecida por diferentes nomes, a araruta é oriunda de regiões tropicais da América do Sul. Relatos indicam que o cultivo da planta já ocorria há cerca de 7.000 anos, porém, passou a ser abandonado com o aumento na fabricação de amido de mandioca e de farinha de trigo e milho, produtos mais abundantes para servirem como componentes no processamento de outros alimentos. 
Melhor variedade: comum.


Plantio: No Brasil o cultivo da araruta encontra boas condições ao nível do mar e em clima temperado. Solos arenosos e profundos são os ideais por favorecer o crescimento dos rizomas. A presença de argila pode ser necessária em per;iodos de seca, mas o exsso de umidade leva ao empobrecimento dos rizomas. O solo precisa ser arado com até 20 cm de profundidade para que fique bem fofo. São usados os rizomas inteiros, pois proporcionam maior índice de brotação, ou mudas dessas brotações. Nesse caso, é preferivel plan tar os rizomas em viveiros e depois destacar as mudas quando os brotos atingirem 10 cm. Coloca-se as mudas no fundo dos sulcos de 10 cm, com distância de 40 cm entre eles, recobertos de terra. São necessárias de2 a 3 toneladas de mudas por hectare. Os tratos culturais se restringem às capinas e "chegamento" de terra às plantas, conforme a necessidade. Sempe que for possível, deve-se utilizar adubação organica e mineral. A formulação proposta pelo Cerat --- Centro de Raízes Tropicais, da Unesp --- Universidade Estadual Paulista, campus de Botucatu, SP, que esta desenvolvendo estudos sobre as aplicações e o cultivo da planta, é a seguinte: 415 quilos de superfosfato simples e 72 quilos de cloreto de potássio por hectare. Adubar no sulco e, quando as plantas estiverem com 20 cmde altura, aplicar 125 quilos de sulfato de amônia ou nitrocálcio por hectare. A planta é imune a boas partes das pragas, mas a vaquinha e a broca dos rizomas são as que mais a atingem fazendo com que as raízes apodreçam.
   A colheita que pode ser manual, com enxadões ou mecanizada, é feita após 11 e 12 meses do plantio. As folhas ficam murchas, com coloração parda, tornam-se amarelo-palha e esbranquiçadas, não se mantêm mais eretas e tombam no solo. 

  
Época de plantio: junho - setembro.
Espaçamento: 80 x 30cm.
Mudas necessárias: 2-3t/ha (rizomas).
Combate à erosão: plantar em faixas de nível alternadas com outras culturas.
Adubação: aproveitar o efeito residual dos aplicados para a cultura do ano anterior.
Tratos culturais: capinas e amontoas, preferivelmente mecânicas.
Combate à moléstias e pragas: usar apenas mudas de plantações sadias.
Época de colheita: maio - setembro.
Produção normal: rizomas: 10-20t/ha.
Melhor rotação: milho e adubos verdes.
Utilidade: O rendimento da araruta oscila entre 6 a 12 toneladas de rizomas por hectare e cada 100 quilos de rizomas resultam em 15 a 18 quilos de fécula. Após a colheita, os rizomas destinados ao novo plantio devem ser armazenados em ambiente seco e bem protegido. Os destinados  à produção da fécula precisam ser descascados com cuidado. Caso isso não aconteça, a fécula ficará de cor amarelada e cheiro forte que só tendem a desvalorizá-la. Depois de descascados, são ralados para obter massa, que é, então, lavada com água sobre um pedaç o de tecido de algodão ou peneira. A fécula atravessa o tecido e os resíduos fi cam retidos. O resultado é um pó fino, branco-acinzentado e sem cheiro. Tem reação neutra (pH neurto) e com água fria forma uma pasta não viscosa. A fécula da araruta pode ser utilizada no preparo de mingaus, bolos, cremes e biscoitos. De fácil digestão e tida como restauradora de forças, é idicada para criaças e idosos e para pessoas em convalescença ou com debilidade orgânica. A oferta reduzida desse produto sempre provocou tentativas de falcificação com amido de arroz, trigo , fécula de batata ou mandioca. Uma empresa paulista que oferece a fécula ensacada chegou interromper por alguns meses a produção por não encontrar produto de qualidade no mercado. No entanto, é fácil detectar a fraude. A fécula da araruta pura misturada com água quente proporciona uma pasta transparente. Caso seja falsificada, a pasta fica gosmenta.
*NUNO R. MADEIRA é pesquisador da Embrapa Hortaliças, BR-060, Km 09, Caixa Postal 218, CEP 70359-970, Brasília (DF), tel. (61) 3385-9000, cnph.sac@embrapa.br; Georgeton S. R. Silveira é coordenador estadual de olericultura da Emater-MG, Av. Raja Gabaglia, 1626, Gutierrez, CEP 30441-194, Belo Horizonte (MG), tel. (31) 3250-0337, atende@emater.mg.gov.br
ONDE COMPRAR: os rizomas da araruta, ou porções deles, são as mudas que podem ser adquiridas com outros produtores. A Embrapa Hortaliças, a Epamig, a Emater-MG e o Instituto Emater (Paraná) são parceiros em trabalhos de resgate do cultivo de araruta e podem fornecer informações sobre onde obter mudas
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