A batata-doce se destaca entre as hortaliças pela rusticidade e tolerância ao ataque de pragas. Esta característica favorece o uso de técnicas de manejo integrado, podendo ser este um fator importante para reverter a tendência de declínio da cultura, pois a maior depreciação do produto se deve à presença de danos causados por pragas, principalmente as que formam galerias e orifícios nas raízes.
Fatores que favorecem ou que justificam a utilização de técnicas de manejo de pragas para a cultura da batata-doce.
Resistência da planta
A batata-doce é reconhecidamente resistente a pragas, exercendo o efeito de antibiose, por meio da produção de fitoalexinas, látex e terpenoides, e possuindo grande capacidade de compensação, cicatrizando feridas, repondo fartamente as áreas atacadas e produzindo tecido vascular secundário quando a medula da haste é danificada. Por isso, embora seja hospedeira de diversas espécies fitófagas, são poucas as pragas capazes de causar danos severos. Além disso, boa parte destes danos são apenas de efeito cosmético, por serem ferimentos ou galerias superficiais, que não reduzem a proporção de aproveitamento do produto.
Fisiologia da planta
A batata-doce possui hábito de crescimento indeterminado, ciclo perene, e tuberização contínua, ocorrendo a morte natural da planta somente na ocorrência de fatores climáticos muito severos, tais como geada e seca muito prolongada. Estas características permitem efetuar a colheita durante um período maior de tempo, o que permite ao produtor antecipar a colheita ou prolongar o ciclo cultural mediante uma avaliação do estado fitossanitário da lavoura.
Adaptabilidade e dispersão da espécie
A batata-doce se adapta a uma ampla condição de clima e de solo, sendo encontrada como planta voluntária em todas as regiões brasileiras, em qualquer época do ano, formando fontes permanentes de inóculos.
Especificidade das pragas
São relativamente poucas as pragas e os patógenos que causam danos severos à cultura, sendo que as principais pragas que são Broca-da-raiz e Broca-do-caule e a principal doença, Mal-do-pé, não atacam as maioria das plantas hortícolas.
Produção subterrânea
A parte comercial são raízes tuberosas, que são sujeitas tanto ao ataque de pragas específicas, que realmente se alimentam dos tecidos do vegetal, quanto de pragas ocasionais que danificam as raízes apenas no momento da prova, ou seja, na busca por alimento, as larvas dos insetos fazem incisões de prova e, mesmo que não prossiga alimentando do tecido vegetal estas feridas se ampliam à medida que ocorre o crescimento lateral da raiz. Nesse aspecto, quanto mais precoce a infestação, maior a extensão do dano, além de maior oportunidade de produção de novas gerações da praga.
Reprodução assexuada
Os tecidos vegetais utilizados para a propagação vegetativa, que são as raízes de reserva e segmentos do caule, mais conhecidos como ramas ou ramas-semente, são eficientes fontes primárias de disseminação de fungos bactérias, vírus, nematóides e de pragas, nas diversas formas de disseminação. Isso ocorre mais facilmente em órgãos de reprodução vegetativa pelas seguintes causas:
a) porque estes tecidos se formam enterrados ou relativamente próximo ao solo, sendo portando facilmente contaminados por patógenos e pragas contidas no mesmo;b) são estruturas tenras suculentas e nutritivas, que se formam durante todo o ciclo da cultura, ocorrendo portanto grande oportunidade de se contaminarem;c) não se formam dentro de estruturas de proteção e não possuem estruturas de “filtragem” de vírus, como é o caso das sementes botânicas.
Habitats protegidos
As pragas principais, que são as brocas, cavam galerias onde se protegem dos inimigos naturais, da ação dos entomopatógenos e dos inseticidas.
Práticas culturais que favorecem o manejo de pragas
Utilização de material de propagação isento de pragas
Para obtenção de material sadio deve-se conduzir plantas matrizes em viveiros, sendo que as matrizes devem ser obtidas por meio de cultura de meristema e reproduzidas em ambiente protegido, garantindo-se a ausência de vírus e de todos os inóculos de pragas e patógenos (DUSI; SILVA, 1991). Caso este material não seja disponível, as ramas-semente devem ser retiradas de uma cultura sadia e bem conduzida.
Tratamento de ramas
A utilização de inseticidas e fungicidas, além de eliminar inóculos infestantes, protege os ferimentos feitos quando se realiza a segmentação das ramas.
Escolha da área
Solos arenosos férteis, sem presença de alumínio tóxico, com índice de acidez acima de pH 4,5, área que não tenha sido cultivada com batata-doce nos dois anos anteriores, e sem histórico de ocorrência de pragas severas, doenças fúngicas ou bacterianas e nematóides, são critérios que favorecem o crescimento rápido da planta e portanto a obtenção de raízes em menor tempo evitando que o nível de dano seja elevado.
Isolamento da cultura
O isolamento de plantio quando se fazem cultivos seqüenciais é uma prática que evita a contaminação entre os cultivos. Não existe um parâmetro para essa indicação, mas acredita-se que uma barreira viva de pelo menos 50m deve ser útil para evitar o trânsito de pragas entre as lavouras.
Preparo do solo
O revolvimento do solo promove o esmagamento de larvas, promove sua exposição ao sol e ao ataque por pássaros, destrói abrigos e fontes de alimentos como as plantas hospedeiras.
Adubação, correção da acidez, irrigação e capinas
Estas práticas favorecem o desenvolvimento rápido das plantas, antecipando o ciclo e reduzindo o nível de danos.
Restabelecimento das leiras
Ao reformar as leiras, fecham-se as rachaduras do solo, que se formam em função do crescimento lateral das raízes tuberosas. Isso evita o acesso dos insetos diretamente nas batatas, o que aumenta o nível de dano.
Antecipação da colheita
Ao atingir cerca de 300 g as raízes devem ser colhidas. Entretanto, a colheita pode ser antecipada se houver perspectiva de dano significativo. Isso é possível porque a batata-doce não apresenta um ponto de maturação, permitindo antecipar ou prorrogar o momento da colheita.
Destruição de soqueira
Após a colheita, as sementes botânicas, os restos de caule e pedaços de raiz geram inúmeras plantas voluntárias que se constituem fontes de inóculos e de manutenção da população de pragas. Essas plantas devem ser destruídas com uso de herbicida ou realizando-se capinas mais freqüentes na cultura de sucessão, de forma a impedir a formação de novas raízes tuberosas. É condenável abandonar a área, pois as plantas voluntárias sobrevivem mesmo em condições de grande competição entre plantas.
Rotação de culturas
Visando facilitar a destruição das soqueiras deve-se plantar, em seguida à colheita, uma cultura como milho, ou outra planta de hábito de crescimento bem distinto da batata-doce, para facilitar a eliminação das plantas voluntárias.
Utilização de agrotóxicos
O uso de inseticidas e fungicidas ou outros agrotóxicos se esbarra na legalidade, pelo fato de não haver, até o momento, nenhum produto registrado para essa cultura. No entanto muitos produtores aplicam inseticidas de solo na base das plantas e realizam pulverizações quando ocorre intensa desfolha.
Métodos biológicos
Existem diversos inimigos naturais identificados, mas ocorre grande dificuldade em encontrar espécies capazes de localizar e atacar eficientemente os insetos localizados em habitats protegidos. Em outros países, especialmente onde ocorre a espécie Cylas formicarius são utilizados intensivas práticas de controle, em vista da severidade do dano que causa.
A base do controle preventivo é a obtenção de plantas sadias. Para isso, deve-se partir de plantas submetidas ao processo de cultivo de meristemas e indexadas para viroses. Estas técnicas exigem conhecimento específico, mas podem ser executadas por órgãos de pesquisa, universidades ou laboratórios especializados. Estas plantas matrizes passam por processos de reprodução vegetativa, em ambiente fechado, à prova de insetos, visando evitar a recontaminação das plantas, especialmente por viroses.
A manutenção de sistemas individuais de produção de ramas sadias pode não ser viável, mas alguns produtores ou grupos ou associações de produtores podem se especializar nessa atividade, contando facilmente com o apoio de entidades governamentais para a produção das plantas matrizes.
Enquanto não se tem acesso a estes programas, o produtor deve ter atenção ao selecionar as plantas de onde vai retirar ramas ou raízes, seja para a formação de viveiros, seja para o plantio definitivo. Nesta seleção, além de observar e desclassificar individualmente as plantas que apresentarem sintomas de ataque das pragas e das doenças importantes, deve observar também os aspectos de qualidade das raízes (formato, coloração, uniformidade, dispersão e produtividade). Ou seja, mesmo que se vá retirar somente as ramas, deve-se verificar as características da planta como um todo, visando obter um produto de melhor qualidade.
Desordens não infecciosas
- Fermentação - quando o solo se encharca por longo período próximo à colheita, ocorre falta de troca gasosa e alteração dos processos metabólicos, formando etanol e acúmulo de CO2 nas raízes, resultando na rápida decomposição das raízes após a colheita.
- Entumecimento de lenticelas - ocorre quando o solo apresenta muita umidade. As raízes tem pouco crescimento e forma-se tecidos entumecidos com aparência de bolhas.
- Raiz-chicote - são raízes tuberosas relativamente finas e alongadas que se formam quando há excesso de umidade no solo.
- Rachaduras - podem ser longitudinais ou transversais e são mais freqüentes quando ocorre ataque de nematóides e de bactéria Streptomyces sp. Variações de temperatura, flutuações de umidade no solo e excesso de adubação nitrogenada são fatores que desequilibram o crescimento das raízes, causando as rachaduras.
- Coração duro - a raiz permanece dura após o cozimento. Ocorre quando as raízes são armazenadas à temperaturas baixas (1,5ºC por um dia ou 10ºC por 3 dias).
- Decomposição interna - o tecido da raiz se torna esponjoso ou ocado. Ocorre quando a temperatura do solo é baixa (5 a 10ºC). Ocorre também quando se faz o armazenamento por longo tempo em condições de baixa umidade relativa.
- Mutações somáticas - são deformações, variegações (alterações de cor) e fasciação (ramas geminadas) que surgem esporadicamente.
- Toxidez por herbicidas - deformações diversas causadas por contaminação com herbicidas. Os sintomas variam com o produto e dosagem.
- Deficiência e toxidez por nutrientes - várias alterações podem ser causadas tanto por falta quanto por excesso de elementos minerais e por acidez.
- Brotação prematura da raiz - excesso de adubação com nitrogênio, excesso de adubação com matéria orgânica, excesso de irrigação, dano severo na rama principal, causado pela doença mal-do-pé ou pelo ataque de broca-da-rama.
- Outras defomações - o uso de solos argilosos (pesados), com cascalho ou pedras aumenta a incidência de raízes deformadas, como as tortuosas e com constrições transversais e veias.