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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Doenças da Batata Doce



Disturbios

Na produção em pequena escala, é raro a ocorrência de danos severos causados por pragas e doenças. Isto se deve, além de outros fatores, ao maior isolamento entre plantios, maior rotação da área de cultivo e à menor população de insetos. É comumente citado que a batata-doce é a hortaliça mais fácil de se cultivar. Entretanto, quando a produção é intensiva, ocorre maior oportunidade de ataque de pragas e doenças, exigindo cuidados para evitar que causem danos econômicos, principalmente quando se produz mudas em viveiros (MITIDIERI, 1990).
É muito importante o reconhecimento precoce da incidência desses agentes, para evitar a sua introdução em novas áreas de plantio, para isolar e exterminar focos de disseminação, para impedir ou reduzir os ciclos reprodutivos e, por fim, para proteger a planta com uso de agrotóxicos, se necessário.
Para a cultura da batata-doce, o controle fitossanitário é ainda mais relevante, porque a maioria das pragas e doenças importantes causa danos às raízes, depreciando o produto. Este tipo de ataque é geralmente de difícil controle, pois os patógenos e os insetos localizados no solo não são facilmente atingidos pelos agrotóxicos. A aplicação de qualquer produto químico no solo tem implicações sérias, dos pontos de vista toxicológico, ambiental e econômico, além de provocar desequilíbrio biológico pela exterminação de inimigos naturais e microorganismos antagônicos, favorecendo a reinfestação do solo em condições mais favoráveis aos agentes patogênicos.
O sistema de propagação vegetativo, através de ramas-semente ou de mudas, favorece a disseminação de pragas e doenças pelos seguintes motivos:
  • São segmentos da planta que crescem em contato com o solo ou próximo dele, se contaminando através de contato ou de respingos;
  • Os cortes e ferimentos facilitam a penetração de microorganismos;
  • O teor de umidade dos tecidos é alto e portanto facilita a colonização de patógenos;
  • São formados durante o crescimento vegetativo da planta-mãe e portanto ficam expostos à contaminação e à postura dos insetos por longo período;
  • Não são protegidos por estruturas das flores e dos frutos, como são as sementes verdadeiras;
  • Não possuem mecanismos de "filtragem" de vírus, que ocorre na formação de sementes verdadeiras.
  • Apesar desses inconvenientes, o uso de outros processos reprodutivos apresentam limitações que já foram consideradas.
  • A planta da batata-doce produz compostos fenólicos, fenoloxidase, látex e fitoalexinas que evitam a proliferação ou colonização dos patógenos. Por isso, a maioria dos agentes causadores de enfermidades provocam danos durante as fases de formação de mudas (viveiro) e de pós-colheita, quando são baixas as concentrações dessas substâncias de ação imunológica. A formação de mudas e o armazenamento são de grande importância para os países que têm inverno rigoroso porque, sendo o cultivo feito apenas no período mais quente, há necessidade de armazenar as raízes para o consumo na entre-safra e utilizar parte delas para formação de viveiros.

Doenças

1. Mal-do-pé

Causada pelo fungo Plenodomus destruens, que pode ocasionar destruição total da lavoura e, nas infecções tardias, causar manchas e podridões nas raízes tuberosas. O fungo se instala geralmente na base da planta, formando uma necrose úmida, que anela o caule e interrompe a absorção de água e nutrientes. À medida que a cultura se desenvolve, observa-se grande quantidade de material vegetal seco e ramas com folhas murchas ou amareladas (CLARK; MOYER, 1988).
Na fase inicial, as plantas murcham e amarelecem, mas parte das ramas atacadas pode sobreviver com a absorção de água e nutrientes através das raízes adventícias, sem contudo produzir raiz comercial. Quando o ataque não ocorre no início da formação da lavoura as ramas emitidas pelas plantas sadias recobrem toda a superfície. Com isso, torna-se difícil identificar a ocorrência da doença, cujos danos somente são percebidos por ocasião da colheita.
As necroses, geralmente, se limitam entre 5 e 10 centímetros acima do solo até as raízes tuberosas, sem ocorrer invasão sistêmica. Sobre as necroses mais velhas ou sob a pele das raízes atacadas observam-se pontuações negras brilhantes que são frutificações do fungo. Os conídios são oblongos, hialinos e unicelulares. Nas raízes, formam-se manchas pouco profundas, geralmente no terço proximal. Tanto nas ramas quanto nas raízes observa-se uma limitação nítida entre as áreas atacadas e sadias. Com o passar do tempo, as ramas atacadas morrem.
O ciclo da doença tem como fontes primárias de inóculo, ramas contaminadas oriundas de lavouras doentes ou aparentemente sadias ou ainda obtidas em viveiros contaminados. A partir das ramas contaminadas desenvolvem-se as infecções no coleto da planta, onde se produz grande quantidade de esporos. Estes se disseminam principalmente por respingos, contaminando outras partes da planta, porém não desenvolvendo aí as necroses. Portanto, a ramas podem permanecer aparentemente sadias, se tornando fonte de inóculo para novos plantios. O fungo é também disseminado pela incorporação dos restos da cultura, permanecendo no solo por vários anos. Adubações pesadas com adubos orgânicos facilitam o desenvolvimento da doença (FONTES; LOPES, 1993; LOPES; SILVA, 1991, 1993).
Além do emprego das técnicas de manejo integrado de pragas e doenças, o mal-do-pé pode ser controlado com a desinfecção de ramas com fungicida à base de Thiabendazole (Tecto ou similar) com imersão durante cinco minutos em uma solução contendo 0,5% do princípio ativo, tomando-se o cuidado de utilizar luvas para o manuseio das ramas (LOPES; SILVA, 1991). Ramas-sementes retiradas das partes mais novas das plantas resultam em menor incidência de doença (LOPES; SILVA, 1993).
Dentre as cultivares mais conhecidas, a cultivar Princesa é a que possui maior nível de resistência ao ataque do fungo (LOPES; MIRANDA, 1989).

2. Nanismo

É causada por uma das várias raças do vírus "sweet potato feathery mottle virus" (SPFMV) que é mundialmente disseminado. O SPFMV é um Potyvirus e recebeu diversas descrições em razão dos diferentes sintomas que causa no hospedeiro ou em plantas indicadoras. Estas diferenças atualmente caracterizam as raças. Entre elas: sweet potato ringspot virus; sweet potato leaf spot virus; russet crack virus; e Virus do Enanismo clorótico (DIi FEO, 1989). Embora possa ocorrer outras raças, no Brasil foi detectada a raça causadora do Nanismo, caracterizada anteriormente na Argentina (DI FEO, 1989).
A doença se caracteriza por uma redução de toda a parte aérea da planta, formando folhas cloróticas e pequenas, ramas finas e entre-nós curtos (Figura 1). Entretanto, os sintomas podem variar desde uma suave clorose em forma de mosqueado, sem alterações no desenvolvimento do vegetal, até lesões e necroses nas raízes. Os sintomas são mais evidentes quando se inoculam ou se plantam em campo, ramas originadas de plantas livres de viroses, obtidas por cultura de meristemas.

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Fig. 1. Sintomatologia de nanismo em plantas e raizes de batata-doce

Ao comparar a produtividade de plantas livres de vírus e plantas obtidas de culturas aparentemente sadias, obtiveram-se diferenças superiores a 100% (POZZER et al., 1992, 1993a), porém a degenerescência é muito rápida e, já no segundo ciclo, as plantas originalmente livres de vírus têm produtividades semelhantes ou inferiores àquelas obtidas de ramas do campo de produção (LIAO et al, 1983; POZZER et al., 1992; MOYER, 1985). Esta facilidade de contaminação, que pode se dar por contato ou via vetores como os pulgões Myzus spp, dificulta a promoção de um programa amplo de produção de ramas livres de vírus, pois implicaria na manutenção de viveiros em abrigos à prova de insetos (HILDEBRAND, 1964; GAMA, 1988; POZZER et al., 1993b).
Uma vez a planta infectada, não há recurso tecnológico para evitar o dano por viroses. Portanto, além de uso de ramas sadias, todo esforço deve ser dirigido no sentido de evitar a entrada e a disseminação da doença na lavoura, empregando o conjunto de técnicas do controle integrado pragas e doenças. O isolamento de áreas a uma distância superior a 90 metros constitui-se uma boa maneira de evitar a infecção por vírus (MARTIN; KANTACK, 1960).
A utilização de ramas sadias tende viabilizar-se, principalmente nas situações onde a batata-doce tem exploração mais intensiva, onde os custos com aquisição das plantas sadias, utilização de telados para multiplicá-las e isolamento de áreas, são acompanhados de outros investimentos tais como irrigação, fertilização e correção de solo, que propiciam um retorno econômico maior. Já no caso de pequenos produtores a prática poderia ser adotada mediante a reunião dos mesmos em associações ou cooperativas.

3. Nematóides

Vários gêneros de nematóides são encontrados atacando a batata-doce, mas somente os gêneros Meloidogyne e Rotylenchulus são relatados como causadores de danos econômicos (Costilla, s.d).
No Brasil, os nematóides Meloidogyne, especialmente M. incognita e M. javanica são mais importantes, porque são amplamente disseminados, causando danos em dezenas de espécies vegetais cultivadas e plantas voluntárias (SIVEIRA, 1992).
Ao contrário do que ocorre em outras culturas, os danos maiores não são devidos ao estrangulamento e à queda da eficiência das raízes absorventes e sim, aos ferimentos e às rachaduras feitas nas raízes tuberosas. Isto ocorre porque, à medida que se dá o crescimento lateral das raízes (formação das reservas), os ferimentos feitos pelos nematóides, mesmo que minúsculos, se tornam orifícios, protuberâncias e rachaduras que depreciam sensivelmente o produto.
O sintoma mais conhecido de ataque de Meloidogyne sp. é a presença de galhas. Porém, na batata-doce, elas são muito menores que em outras plantas, podendo ser, em muitos casos, não distinguíveis visualmente (CLARK; MOYER, 1988). Os sintomas secundários tais como: redução de crescimento, amarelecimento das folhas, murcha temporária e florescimento anormal, podem ser causados pela ineficiência do sistema radicular infestado por nematóides. Entretanto, em função do grande vigor vegetativo e da capacidade de enraizamento ao longo das ramas (raízes adventícias) é raro se observarem sintomas na parte aérea que se relacionem com o ataque de nematóides.
Além de passar desapercebido por falta de sintomas aparentes, com o crescimento contínuo dos tecidos das raízes tuberosas, ocorre o recobrimento das galhas de nematóides por camadas de células, formando pequenas "câmaras". As câmaras formadas nas camadas superficiais formam protuberâncias que comumente se rompem formando orifícios que se confundem com danos causados por insetos. Quando o ataque ocorre no início da formação das raízes, estas câmaras podem se localizar em camadas bastante profundas, diminuindo a eficiência do tratamento químico e da termoterapia. Por isso, o uso de raízes para a formação de viveiro pode ser uma fonte de disseminação.

4. Medidas de controle
  • Conhecer o histórico das áreas, evitando aquelas que tenham sido cultivadas com plantas suscetíveis como quiabo, feijão, tomate, alface e batata;
  • Utilizar cultivares resistentes;
  • Formar viveiros a partir de material sadio;
  • Utilizar nematicidas nas áreas de viveiros;
  • Fazer rotação de cultura como arroz, milho, cana ou outras gramíneas;
  • Fazer cultivo de crotalária ou outras plantas antagônicas;
  • Eliminar soqueiras.
5 . Outras doenças

Embora não sejam relatados como causadores de danos econômicos para as condições brasileiras, alguns microorganimos podem estar presentes e ocasionalmente serem importantes, dependendo das condições climáticas que possam favorecer a doença. Por isso, são citados apenas o agente causal e os principais sintomas.

Doenças fúngicas
  • Ceratocystis fimbriata. Causa, na raiz tuberosa, necroses secas de cor cinza ou preta e dá um sabor amargo muito forte e característico. Associado ao ataque por brocas, o fungo pode atingir camadas mais profundas das raízes, causando inutilização do produto, e rejeitado também por animais.
  • Elsinoë batatas (Sphaceloma batatas). Causa pequenas lesões de cor marrom nas nervuras foliares, retardando o crescimento e enrugando as folhas.
  • Albugo ipomoeae-panduratea. Ou ferrugem branca. Forma lesões pulverulentas no limbo foliar se transformando em pústulas salientes de cor leitosa.
  • Alternaria spp. Forma no limbo foliar das folhas mais velhas, lesões necróticas circulares ou irregulares, de cor marrom e halos amarelados. No pecíolo, forma lesões escuras e alongadas. Esta doença só tem importância quando cultivares suscetíveis são plantadas sob alta temperatura e umidade. Mesmo assim, a cultura quando bem conduzida, produz excesso de folhagem que normalmente compensa a queda e o amarelecimento de parte das folhas. Em viveiro a doença pode ser controlada com pulverizações semanais, alternadas, de iprodione, clorotalonil e mancozeb (Miranda et al, 1995).
  • Fusarium spp. Causa manchas e podridões nas raízes e na base das brotações, quando se usa o sistema de produção de mudas em canteiros. Em pós-colheita, causa freqüentemente manchas e podridões. F. oxysporum f. sp. batatas pode causar infecção vascular, independentemente da contaminação das batatas-semente, causando amarelecimento das folhas e murcha. Os vasos se tornam escurecidos.
  • Monilochaetes infuscans. (ou sarna). Causa manchas escuras restritas à epiderme das raízes, que podem se coalescerem e tomar toda a raiz.
  • Sclerotium rolfsii. Causa lesões necróticas na base das brotações e nas raízes-semente, formando um micélio branco e pequenos escleródios esféricos. Praticamente só ocorre nos canteiros de produção de mudas.
  • Rizoctonia solani. Causa necrose na base das brotações, provocando o tombamento. Ocorre apenas nos canteiros de produção de mudas.
  • Cercospora
  • Rhizopus
Observação: Como nenhum fungicida é registrado para o controle de doenças de batata-doce, o controle químico não é recomendado, exceto para a produção de mudas em viveiros.
Doença causada por micoplasma
  • Conhecida como vassoura-de-bruxa, caracteriza-se por um super brotamento, formando um tufo de pequenas ramas de entre-nós curtos e folhas diminutas.
Doenças bacterianas
  • Streptomyces ipomoea. Ataca as raízes, causando manchas necróticas deprimidas, de até 3 cm. Quando o ataque se dá no início da formação das raízes tuberosas, ocorre a restrição do seu crescimento lateral, causando deformações.
  • Erwinia chrysanthemi. Causa podridão mole nas raízes. Ocorre em condições de elevada umidade, havendo ferimentos para entrada da bactéria.
Doenças viróticas
  • Mosaico (Sweet potato vein mosaic virus). Causa clorose irregular em forma de mosaico nas folhas e atrofiamento da planta, afetando o tamanho e o número de raízes.

  • Vírus de nanismo amarelo (Sweet potato yellow dwarf virus). Apresenta sintomas semelhantes ao virus do nanismo caracterizado como raça do SPFMV, mas possui características bioquímicas distintas.

  • Os vírus CMV (Cucumber mosaic virus), TMV (Tobaco mosaic virus), TSV(Tobaco streak virus) também foram isolados em batata-doce. Um vírus denominado de vírus latente (Sweet potato latent virus) não causa sintomas aparentes na planta, mas é detectado através de planta indicadora e de sorologia.





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