google.com, pub-8049697581559549, DIRECT, f08c47fec0942fa0 HORTA E FLORES: setembro 2017

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Nutrição e Adubação da Cebola



Nutrição e adubação

Nitrogênio (N)

O nitrogênio é constituinte da estrutura de aminoácidos, proteínas, vitaminas, clorofila, enzimas e coenzimas. É ativador enzimático e atua nos processos de absorção iônica, fotossíntese, respiração, sínteses, crescimento vegetativo e herança. A necessidade de N para um ótimo crescimento da cebola é de cerca de 40 g kg-1 da matéria seca da parte vegetativa da planta.

Fósforo (P)

O fósforo participa da estrutura dos ésteres de carboidratos, fosfolipídeos, coenzimas e ácidos nucléicos. Atua nos processos de armazenamento e transferência de energia e fixação simbiótica de nitrogênio. A necessidade de P para um ótimo crescimento da cebola é de cerca de 3 g kg-1 da matéria seca da parte vegetativa da planta.

Potássio (K)

O potássio atua em processos osmóticos, na síntese de proteínas e na manutenção de sua estabilidade, na abertura e fechamento de estômatos, na permeabilidade da membrana e no controle de pH. A necessidade de K para um ótimo crescimento da cebola é de cerca de 40 g kg-1 da matéria seca da parte vegetativa da planta.

Cálcio (Ca)

O cálcio é componente da parede celular, sendo indispensável para manutenção da estrutura das membranas celulares, em particular da plasmalema. É indispensável para a germinação do grão de pólen e para o crescimento do tubo polínico, o que se deve ao fato de estar presente na síntese da parede celular ou no funcionamento da plasmalema. A necessidade de Ca para um ótimo crescimento da cebola é de cerca de 4,0 g kg-1 da matéria seca da parte vegetativa da planta.

Magnésio (Mg)

O magnésio é componente da clorofila, sendo que cerca de 10% do Mg total da folha está na sua estrutura. É ativador de diversas enzimas, participando dos processos de fotossíntese, respiração, síntese de compostos orgânicos, absorção iônica e trabalho mecânico, como aprofundamento e expansão da raiz. A absorção de P (na forma de H2PO4-) é máxima na presença de Mg2+, tendo o papel de “carregador de fósforo”, provavelmente, pela sua participação na ativação de ATPases. A necessidade de Mg para um ótimo crescimento da cebola é de cerca de 4,0 g kg-1 da matéria seca da parte vegetativa da planta.

Enxofre (S)

O enxofre é componente importante dos aminoácidos, como a metionina e a cisteína, essencial para a nutrição humana. O suprimento de S pode ser considerado favorável ou desfavorável às plantas, do ponto de vista qualitativo. Em alguns alimentos, ocasiona um sabor mais acentuado e, em outros, diminui sua palatabilidade. A necessidade de S para um ótimo crescimento da cebola é de cerca de 7,0 g kg-1 da matéria seca da parte vegetativa da planta.

Boro (B)

É ativador enzimático e atua nos processos de absorção iônica, transporte de carboidratos, síntese de lignina, celulose, ácidos nucléicos e proteínas. Tem importante função na translocação de açúcares e no metabolismo de carboidratos, no florescimento, no crescimento do tubo polínico, nos processos de frutificação, no metabolismo do N e na atividade de hormônios. Intervém na absorção e no metabolismo dos cátions, principalmente do Ca. As concentrações de boro consideradas adequadas para um crescimento normal das plantas variam entre 12 e 50 mg kg-1.

Zinco (Zn)

É constituinte de diversas enzimas que atuam nos processos de respiração, controle hormonal e síntese de proteínas. Afeta a síntese e conservação de auxinas, hormônios vegetais envolvidos no crescimento. As concentrações de Zn nas plantas variam de 3 a 150 mg kg-1 de matéria seca da planta.

Cobre (Cu)

Faz parte da estrutura de proteínas, sendo constituinte de diversas enzimas que atuam nos processos de fotossíntese, respiração, regulação hormonal, fixação de N e metabolismo de compostos secundários. É essencial no balanço de nutrientes que regulam a transpiração na planta.

Principais sintomas de deficiência

Nitrogênio (N)
Há diminuição do ritmo de crescimento, as folhas mais velhas amarelecem, secam e caem. As poucas folhas novas mostram-se finas e delicadas e os bulbos apresentam-se com tamanho reduzido.
Fósforo (P)
As folhas mais velhas mostram-se amarelecidas e secam facilmente, as intermediárias e as mais novas apresentam coloração verde-escura. Os bulbos apresentam-se com tamanho reduzido.
Potássio (K)
Há murchamento das folhas, as mais velhas apresentam coloração amarelada, progredindo para o secamento nas pontas, reduzindo o desenvolvimento dos bulbos.
Cálcio (Ca)
As folhas novas, de aspecto aparentemente normal, tombam repentinamente sem se fraturarem e após alguns dias secam, a partir do ápice, no sentido da base. Com o progredir da carência, o fenômeno se repete nas folhas intermediárias e nas mais velhas.
Magnésio (Mg)
As folhas mais velhas tornam-se uniformemente amareladas ao longo do seu comprimento, sem evoluir para a morte. Há o secamento do ápice das folhas e os bulbos produzidos são pequenos.
Enxofre (S)
As folhas apresentam-se finas e deformadas, com amarelecimento das folhas novas, ocorrendo reduzido crescimento radicular. Apesar das poucas folhas, há, relativamente, uma boa formação de bulbos.
Boro (B)
Inicialmente, as folhas mais novas adquirem uma tonalidade verde-azulada. As folhas mais novas tornam-se mosqueadas e enrugadas. Surge fendilhamento nas folhas mais velhas, que ficam quebradiças. Há a paralisação do crescimento e morte das folhas, a partir do ápice.
Deficiência de B ocasiona a má formação das cascas externas da cebola, necrose nas escamas do centro e região meristemática, menor consistência e menor poder de conservação pós-colheita. Bulbos tratados com B, em pré-colheita, apresentam incremento na coloração, aumento da resistência da casca e menor perda de peso durante o armazenamento.
Zinco (Zn)
Há o aparecimento de clorose e folhas retorcidas.
Cobre (Cu)
As folhas adquirem coloração amarelo-parda, necrosam nas margens, ficam retorcidas ou dobram-se em ângulos direitos ao descanso da planta. O bulbo torna-se amarelo e fino, faltando solidez e firmeza.
Na cebola, a aplicação de Cu intensifica a coloração da casca e os bulbos demonstraram aumento da resistência da casca e menor perda de peso durante o armazenamento.
Manganês (Mn)
Há o aparecimento de clorose nas folhas exteriores, seguido de necrose. O crescimento é severamente reduzido.

Solos para o cultivo de cebola

Para uma adubação correta, é indispensável que se tenha um conhecimento do solo que vai ser cultivado. A cebola desenvolve-se melhor em solos de textura média, ricos em matéria orgânica e de boa drenagem, que favoreçam um bom desenvolvimento das raízes e dos bulbos. Solos muito argilosos dificultam a formação de bulbos, podendo deformá-los. Solos arenosos apresentam o inconveniente de ter baixa retenção de umidade e de nutrientes. Solos de má drenagem, facilmente encharcáveis, devem ser evitados por dificultar o desenvolvimento fisiológico das plantas e favorecer a ocorrência de doenças.
A salinidade afeta o desenvolvimento das plantas, provocando decréscimos na produtividade de 25%, quando a condutividade elétrica for igual a 2,8 dS/m, e de 50%, quando igual a 4,3 dS/m.

Amostragem de solo

De maneira geral, as plantas obtêm do solo os nutrientes de que precisam. Desta forma, a avaliação da disponibilidade de nutrientes no solo é feita, em geral, com base na análise de fertilidade. As áreas a serem amostradas possuem, muitas vezes, grandes extensões e, somando-se a isso, a heterogeneidade horizontal e vertical, naturais do solo, faz com que critérios científicos necessitem ser seguidos com o maior rigor possível. Desta forma, apesar de parecer simples, a coleta de amostras de solo exige conhecimento e deve ser realizada por técnico devidamente orientado.
Para se avaliar a fertilidade do solo, deve-se, inicialmente, fazer a análise de solo em laboratório, onde é determinado o valor do pH, os teores dos principais nutrientes exigidos pelas plantas e os dos elementos que são tóxicos (alumínio e sódio), informações importantes para que se possa fazer uma adubação adequada, verificar a necessidade de calagem e detectar problemas de salinidade. No entanto, para que a análise do solo represente fielmente as condições reais do solo no campo, é necessário que se faça uma amostragem muito bem feita da área, procedendo-se da seguinte forma:
  • inicialmente, procede-se à divisão da área da propriedade em sub-áreas homogêneas, de, no máximo, 10 ha, levando-se em conta a topografia (baixada, plana, encosta ou topo), a vegetação ou cultura, o tipo de solo quanto à cor (amarelo, vermelho, cinza ou preto), textura (argilosa, média ou arenosa), drenagem, ao grau de erosão e, finalmente, ao uso (virgem ou cultivado, adubado ou não);
  • para cada sub-área homogênea, coletar em forma de ziguezague, no mínimo, vinte amostras simples a uma profundidade de 0-20 cm, colocando a terra numa vasilha (balde plástico) limpa. Misturar toda a terra coletada e, da mistura, retirar uma amostra composta com aproximadamente 0,5 kg de solo e colocá-la num saco plástico limpo ou numa caixinha de papelão. Identificar essa amostra e enviá-la para um laboratório;
  • recomenda-se fazer a amostragem do solo três meses antes do plantio e repeti-la uma vez a cada três anos, no mínimo;
  • não coletar amostras em locais de formigueiro, monturo, coivara ou próximos a curral, estrada e veredas. Antes da coleta, limpar a superfície do terreno, caso haja mato ou resto vegetal. A amostragem é facilitada quando o solo está um pouco úmido.
As amostras podem ser coletadas com trado, com cano galvanizado de ¾ ou de 1,0 polegada.

Análise foliar

Do mesmo modo que a amostragem do solo para fins de avaliação da fertilidade, a amostragem do tecido vegetal é uma das etapas mais importantes para aumentar a probabilidade de sucesso no uso da análise foliar. No entanto, em culturas temporárias, como a cebola, a análise foliar é indicada apenas para identificar algum distúrbio nutricional.
A folha a ser coletada é a mais alta, coletando-se uma folha por planta, num total de 40 folhas por gleba homogênea. O período de coleta indicado é no meio do ciclo da cultura, ou seja, 40-50 dias após o transplantio.
Após a coleta, deve-se acondicionar as amostras em sacos de papel, identificando-as e enviando-as, imediatamente, para um laboratório.

Calagem

A cebola é uma cultura sensível à acidez do solo, desenvolvendo-se melhor em solos com pH de 6,0 a 6,5. Em solos ácidos, a utilização da calagem é essencial para promover a neutralização do alumínio trocável, que é um elemento tóxico às plantas, e aumentar a disponibilidade de fósforo, cálcio, magnésio e molibdênio. Mesmo em solos que não apresentem problemas de acidez, mas que contenham teores baixos de cálcio e magnésio, é necessária a aplicação de calcário para correção dos níveis destes nutrientes para que se obtenha uma maior produtividade e melhor qualidade de bulbos.
O calcário deve ser aplicado a lanço e incorporado ao solo por meio de gradagem, com antecedência mínima de 30 dias do plantio. Deve-se lembrar que a reação do calcário no solo, neutralizando sua acidez, só se processa na presença de umidade, e será mais lenta quanto mais grosseira for a granulometria de suas partículas. Na escolha do calcário, deve-se dar preferência ao calcário dolomítico, porque, além do cálcio, possui, também, teores elevados de magnésio.
É importante, ainda, que o calcário tenha um PRNT (Poder Relativo de Neutralização Total) elevado, igual ou acima de 80%. A quantidade de calcário, assim como a de fertilizante a ser aplicada, deve basear-se nos resultados da análise química do solo.
Com base no resultado da análise de solo, o cálculo da quantidade de calcário a ser aplicada poderá ser feito para a elevação da porcentagem de saturação por bases para 70 ou 80%, conforme a equação a seguir:



sendo:
NC= necessidade de calagem;
V2= valor da saturação por bases desejada;
V1= valor da saturação por bases inicial do solo;
CTC= capacidade de troca de cátions.

A necessidade de calcário também poderá ser calculada pelo método do
Ca2++Mg2+ e do Al3+
NC = [2 x Al] + [3 – (Ca + Mg)], sendo:
NC= necessidade de calagem;
Al= teor de alumínio trocável do solo;
Ca= teor de cálcio trocável do solo;
Mg= teor de magnésio trocável do solo;

A escolha do método deverá ser baseada em critérios técnicos, como textura e capacidade tampão do solo.
A aplicação de calcário ao solo sem considerar os resultados da análise de solo, muito comum entre os agricultores, não é recomendada. Isto porque o pH poderá atingir valores acima de 7,0, o que poderá ocasionar perda de N por volatilização, desequilíbrio entre os nutrientes Ca, Mg e K, reduzindo a absorção do último, e menor disponibilidade de Cu , Fe, Mn e Zn.

Adubação

Assim como a calagem, a adubação da cebola deverá ser baseada nos resultados de análise de solo e no potencial de resposta ao fertilizante.
A cebola, como as demais hortaliças, responde muito bem à adubação orgânica, principalmente em solos arenosos. São recomendados 30 m3 por ha de esterco de curral ou quantidade equivalente de outro produto orgânico.
Com relação à adubação química, recomenda-se a aplicação de 45 kg/ha de N (nitrogênio) e as doses de P2O5 (fósforo) e K2O (potássio) apresentadas na Tabela 1. Independentemente do sistema de plantio, os fertilizantes poderão ser aplicados a lanço e, preferencialmente, incorporados ao solo por ocasião da gradagem.
Tabela 1. Adubação com P2O5 (fósforo) e K2O (potássio) baseada na análise de solo.
Fósforo
Potássio
P no Solo (mg.dm-3)
Dose de P2O5 (kg/ha)
K no solo (cmolc.dm-3)
Dose de K2O (kg/ha)
< 6
180
< 0,08
180
6 - 10
135
0,08 - 0,15
135
11 - 20
90
0,16 - 0,25
90
> 20
45
> 0,25
45
Fonte: Cavalcanti (1998).
Os adubos minerais mais utilizados são as fórmulas comerciais, como 06-24-12 e 10-10-10, o sulfato de amônio (20% de N), a uréia (45% de N), o superfosfato simples (18% de P2O5 ), o superfosfato triplo (42% de P2O5), o cloreto de potássio (60% de K2O) e o sulfato de potássio (50% de K2O).
Em cobertura, recomendam-se 90 kg/ha de N 30 dias após o transplante. Caso o solo seja arenoso, a dose de N em cobertura deve ser parcelada em duas aplicações, uma aos 25 e outra aos 45 dias após o transplante. Nesse caso, a dose de potássio recomendada pela análise de solo (Tabela 1), deve ser dividida em duas aplicações, metade em fundação e metade aos 45 dias após o transplante, juntamente com a última aplicação de nitrogênio.
Em solos alcalinos (pH acima de 7,0), deve-se usar o sulfato de amônio em vez da uréia, porque nesses solos, as possibilidades de perdas de N por volatilização da uréia são maiores do que as do sulfato de amônio.
Como o nitrogênio pode se perder para a atmosfera na forma de amônia (NH3), processo conhecido como volatilização, recomenda-se que os fertilizantes sejam aplicados em pequenos sulcos e cobertos com terra, e que se faça a irrigação logo após a sua aplicação, para facilitar a movimentação de N no perfil do solo e evitar a volatilização. Irrigações pesadas também devem ser evitadas para diminuir as perdas de N por lixiviação.
Recomenda-se usar as combinações sulfato de amônio e superfosfato triplo, ou uréia e superfosfato simples, para garantir o suprimento de enxofre às plantas.
Além dos nutrientes absorvidos em grandes quantidades, conhecidos como macronutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre), há os micronutrientes, como boro, cobre, ferro, manganês, molibdênio e zinco, que são absorvidos em pequenas quantidades. Estes micronutrientes são importantes nos processos de crescimento, síntese e translocação de açúcares na planta, possibilitando maior produtividade e melhor qualidade de bulbos. Os fertilizantes orgânicos, geralmente, contêm esses micronutrientes em quantidades suficientes, que podem corrigir alguma deficiência existente no solo.
A recomendação de adubação deve ser baseada em critérios técnicos, visando a produtividade da cultura, mas os aspectos relacionados à qualidade comercial e à conservação pós-colheita também devem ser considerados.



segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Cultivares de Cebola


As diferentes regiões produtoras de cebola do país apresentam diversidade quanto às épocas de semeadura e colheita. A época de plantio deve ser definida em função da compatibilização das exigências fisiológicas da cultivar a ser plantada com as condições ambientais locais e do mercado consumidor.
No Brasil, em função da localização geográfica das principais áreas produtoras, as cultivares utilizadas enquadram-se nas classes de dias curtos (Bahia/Pernambuco, latitude 9° Leste Sul; São Paulo, 23° Leste Sul) e intermediários (Santa Catarina, 27° Leste Sul e Rio Grande do Sul, 33° Leste Sul). Em linhas gerais, a região Sul (Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná) efetua a semeadura no período compreendido entre abril e junho e a colheita de novembro a janeiro. A região Sudeste (São Paulo e Minas Gerais) faz a semeadura no período de fevereiro a maio e a colheita de julho a novembro. A região Nordeste (Bahia/Pernambuco), pratica a semeadura durante todo o ano, com concentração nos meses de janeiro a março, possibilitando um escalonamento de plantio e produção com oferta de cebola em diferentes períodos do ano.
Essas características regionais criam condições de auto-suficiência no abastecimento interno ao longo do ano.
A cultivar a ser utilizada no plantio pode ser escolhida em função da região produtora, do tipo de bulbo exigido pelo mercado, que pode ser amarelo ou roxo, bem como da época de plantio no primeiro ou segundo semestre. O uso de cultivares não adaptadas à região produtora pode resultar em safras frustrantes em termo de qualidade e produtividade de bulbos comerciais. A melhor cultivar deve ser aquela desenvolvida na própria região de cultivo, ajustada às demandas de fotoperíodo.
Na região Nordeste, recomenda-se, para o primeiro semestre, cultivares de coloração amarela, com ciclo variando de 110 a 130 dias da semeadura à colheita, como ValeOuro IPA-11, Composto IPA-6, Texas Grano-502 PRR e os híbridos Granex-429, Granex-33 e Mercedes, bem como a cultivar Franciscana IPA-10 com bulbo de coloração roxa. Para semeaduras a partir de julho, deve-se dar preferência às cultivares de cor amarela, como: Alfa Tropical, Alfa São Francisco e Franciscana IPA-10, de coloração roxa,. A produtividade obtida com as cultivares plantadas na região varia de 15 a 60 t/ha dependendo da localidade, da época de plantio e dos tratos culturais realizados.

Características das principais cultivares de cebola recomendadas para o Nordeste brasileiro

Brisa IPA-12 - Caracteriza-se por apresentar folhagem semi-ereta, de coloração verde-mediano e com médio teor de cerosidade. Os bulbos possuem película amarela e pouco aderente, formato globoso achatado no topo, polpa branca, e pungência suave. O seu potencial produtivo de bulbos comerciais é superior a 30 t.ha-1 e sua expectativa de armazenamento é de aproximadamente dois meses, quando acondicionados em caixas plásticas vazadas sob condições naturais. A cultivar possui elevada resistência à raiz rosada e comparativamente com a cultivar Texas Grano 502, possui maior resistência ao tripes e ao mal-de-sete-voltas. É uma cultivar precoce, podendo ser colhida aos 85-90 dias após o transplantio. Está adaptada às condições edafoclimáticas do Submédio São Francisco, sendo especialmente recomendada para plantio a partir do mês de abril.
ValeOuro IPA-11 - Caracteriza-se por apresentar plantas com folhagem vigorosa, moderadamente ereta, de cor verde escuro e muito cerosa. Os bulbos são de formato globular-alongado, de conformação simétrica, casca fina e coloração amarela intermediária e pungência elevada. Em condições de campo, esta cultivar tem apresentado ótimo desempenho agronômico, caracterizando-se ainda por apresentar elevado nível de resistência genética ao mal-de-sete-voltas, também denominada antracnose (Colletotrichum gloeosporioides Penz) e moderada tolerância ao trípes (Thrips tabaci), a depender da região, e uma capacidade produtiva superior a 30 t/ha, com boa conservação pós-colheita. Tem apresentado melhor desempenho nas semeaduras realizadas no período de janeiro a julho. O ciclo, após o transplante, é de, aproximadamente 90 dias.
Franciscana IPA-10 - Caracteriza-se por apresentar elevado nível de resistência ao mal-de-sete-voltas e à mancha púrpura (Alternaria porri. ELL.), e moderada tolerância ao Trips tabaci. Os bulbos são de formato globoso achatado, coloração roxa-avermelhada e pungência elevada. No Nordeste brasileiro, pode ser cultivada durante o ano todo. O ponto ideal para colheita é atingido aos 85 dias após o transplante. Apresenta bulbos de cor roxa, com capacidade produtiva superior a 30 t/ha. Tem uma grande aceitação no mercado do Norte e Nordeste e boa conservação pós-colheita.
Composto IPA-6 - Cultivar com bulbos de coloração amarela, formato periforme, pungência elevada e boa conservação pós-colheita. Pode ser cultivada o ano todo no Submédio São Francisco. Entretanto, o seu melhor desempenho ocorre no primeiro semestre, com ciclo de 120 dias após a semeadura. Caracteriza-se, ainda, por apresentar boa resistência à mancha-púrpura, porém, é pouco tolerante ao tripes.
Texas Early Grano 502 PRR - Principal cultivar plantada no Vale do São Francisco, de 1979 até 1997, com sementes importadas do Texas, EUA ou do Chile. O bulbo tem a forma de pião, de coloração amarelo claro, bastante uniforme e sabor suave. A cultivar é altamente suscetível ao mal-de-sete-voltas e à mancha púrpura e tolerante à raiz rosada. Ciclo de 100 -120 dias.
Mercedes - Híbrido de dias curtos para climas tropicais, com época de plantio para o Nordeste no primeiro semestre. É pouco pungente, folhagem vigorosa, bulbos uniformes de casca firme de cor amarelo-dourada, de forma globular, tamanho entre médio e grande, resistente à raiz rosada, com ciclo de 110 a 120 dias.
Granex 33 - Híbrido de dias curtos, ciclo de 110 -120 dias, vigoroso, resistente ao florescimento prematuro, bulbos de formato tipo globoso achatado, sabor suave, casca de cor amarelo claro.
Granex 429- Híbrido de dias curtos, ciclo de 105 a 115 dias, vigorosa, elevada produtividade, bulbos de formato redondo, sabor suave, casca de cor amarelo claro.
Alfa Tropical - Desenvolvida pela Embrapa Hortaliças após onze ciclos de seleções realizados dentro de populações segregantes resultantes do intercruzamento de dez cultivares. Tem sido recomendada para plantio no segundo semestre do ano, sob condições de temperaturas; mais elevadas ciclo em torno de 130 dias.
Alfa São Francisco - Desenvolvida após cinco ciclos de seleção dentro da Alfa Tropical, nas condições do Vale do São Francisco. Recomendada para plantio no segundo semestre do ano, sob condições de temperaturas mais elevadas. Esta cultivar apresenta bulbos de cor amarelo/baia predominante, são arredondados, firmes e de bom aspecto comercial. O rendimento sob semeadura direta, ou transplante, situa-se acima de 33 t/ha.
Outras populações de cebola estão em desenvolvimento na região, como cebola cascuda bronzeada amarela, cebola cascuda bronzeada roxa e cebola suave e doce, bem como híbridos tropicais, de forma a aumentar o leque de opções para o agricultor, possibilitando substituição das importações da Argentina, ocupação de nichos de mercados nacionais e internacionais e aumento de produtividades, sem aumento da área plantada.

Cultivares e sistemas de cultivo de cebola no verão

As cultivares disponíveis no Brasil (Tabela 1) visam atender as exigências do consumidor brasileiro que prefere bulbos de tamanho médio (50-90 mm de diâmetro), de formato globular, com catáfilos (escamas) externos de cor amarela e internos de cor branca e sabor pungente. Cultivares de bulbos arroxeados estão basicamente restritas ao Nordeste Brasileiro.
O mercado ainda é limitado para as cebolas de sabor suave e doce, preferidas para saladas, e para cebola brancas, preferidas pela indústria.
A maioria das cultivares disponíveis são para semeio de final de verão a meados de outono e colheita de agosto a novembro, época considerada ideal para o cultivo de hortaliças em condições de campo no Brasil.
O cultivo de verão (semeio em final de primavera a início de verão) tem como principal inconveniente a bulbificação sob altas temperaturas, chuvas excessivas e maior incidência de doenças, pragas e plantas daninhas. As cultivares Alfa Tropical e BRS Alfa São Francisco, ambas disponibilizadas pela Embrapa, são as únicas para plantio no verão e possuem bom nível de resistência às doenças antracnose e mancha púrpura.
As cultivares Baia Periforme, Baia Periforme Precoce, Baia Periforme Super Precoce, Primavera e Piraouro são adaptadas ao processo de produção por bulbinhos.
Para atender a indústria de processamento, a Embrapa Hortaliças disponibilizou em 1998 a cultivar Beta Cristal, com elevado teor de sólidos solúveis, de escamas brancas e bastante pungentes. Além de adequada para desidratação e produção de pasta, pode ser usada para a indústria de conservas.



Na Tabela 1 estão algumas cultivares de cebola de polinização livre e híbridas disponíveis no mercado brasileiro, bem como algumas de suas características mais importantes. 




quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Solos e Plantio da Cebola

Solos

A cebola se desenvolve melhor em solos de textura média e com teores adequados de matéria orgânica. Estes devem ser livres de impedimentos físicos (camadas compactadas, adensadas e encrostamentos) e serem de boa drenagem para que favoreçam o bom desenvolvimento das raízes e dos bulbos. Solos de textura muito argilosa, principalmente com argila de atividade alta como os Vertissolos dificultam a formação de bulbos, podendo deformá-los. Por outro lado, solos arenosos como os Neossolos Quatzarênicos, apresentam o inconveniente de ter baixa retenção de umidade, baixa disponibilidade de nutrientes e favorecerem a rápida mineralização da matéria orgânica. Solos de má drenagem, que são facilmente encharcáveis, devem ser evitados por dificultar o desenvolvimento fisiológico das plantas e favorecer a ocorrência de doenças. No entanto é possível o plantio nestes solos desde que seja realizada a implantação de sistemas de drenagem (drenos).
Solos de caráter salino e sálico também devem ser evitados pois a salinidade afeta o desenvolvimento das plantas, provocando decréscimos na produtividade de 25%, quando a condutividade elétrica for igual a 2,8 dS/m, e de 50%, quando igual a 4,3 dS/ m.
O preparo do solo é dos requisitos fundamentais para uma produção. Para a sementeira o solo deve ser preparado a uma profundidade de aproximadamente 20 cm e estar bem destorroado. Os canteiros devem seguir as curvas de nível do terreno para evitar a ocorrência de erosão hídrica e deve ter uma superfície uniforme, com leve declividade para não ocasionar escoamento muito rápido das águas da chuva ou irrigação e também o acúmulo de água na superfície, que favoreça a presença de doenças. O local onde será feito a sementeira (canteiro) deve ser de fácil acesso, plano, isento de plantas daninhas de difícil controle e próximo a fonte d`água. O solo deve apresentar boa estrutura, aeração, drenagem, para propiciar boa germinação das sementes e crescimento das plântulas.
A implantação da cultura da cebola é feita, pelos pequenos produtores, por meio do sistema de transplantio de mudas, mas com o desenvolvimento de semeadeiras de precisão, os grandes produtores estão fazendo a semeadura direta.

Produção de mudas

As mudas são produzidas em sementeiras que devem ser instaladas, preferencialmente, em locais próximos à área de transplantio, ensolarados, com solos bem drenados, arejados e que não tenham sido cultivados com cebola recentemente. A qualidade das mudas é de fundamental importância, pois elas são um fator de grande importância para se conseguir alta produtividade e boa qualidade na produção de bulbos.
O preparo das sementeiras consiste de aração e gradagem. O acabamento final é feito normalmente com enxada, os canteiros com dimensões variáveis em função do sistema de irrigação e da topografia do terreno. Admitindo-se utilizar o sistema de irrigação por microaspersão, pode-se confeccionar canteiros com dimensões de 1,0 m de largura por 5,0 m a 10 m de comprimento e altura de 0,10 m, ficando as demais dimensões dos canteiros em função do método de irrigação.
As adubações devem ser feitas com utilização de 50 g/m2 da mistura 6-24-12, incorporados ao solo antes da semeadura. Normalmente, é necessária uma complementação com uma adubação nitrogenada em cobertura, aos 15 -20 dias após a semeadura, empregando-se 10 g de sulfato de amônia/m2, ou 5 g de uréia/m2.
A semeadura deve ser feita com uma quantidade de, aproximadamente, 8 a 10 g de sementes/m2, em sulcos transversais ao comprimento do canteiro, confeccionados a mão ou com auxilio de um riscador de madeira com profundidade em torno de 0,5 a 1,0 cm e distância de 10 cm, sendo necessários 2,5 a 3,0 kg de sementes para o plantio de 01 hectare, semeadas em uma sementeira de 100 m2 para cada kg de sementes.
Logo após a semeadura, como medida preventiva para o controle de pragas, recomenda-se pulverizar sobre as sementes uma solução do inseticida Carbaril na dosagem de 1,5 vez a recomendação comercial. Após esta pulverização, fazer a cobertura das sementes com terra fina ou areia. Em seguida, fazer uma cobertura morta utilizando palha seca de arroz ou capim, ou mesmo tela sombrite, retirando-a no início da emergência das plântulas, sempre ao entardecer As irrigações devem ser feitas, preferencialmente, por microaspersão, com uma freqüência que permita manter o solo sempre úmido, com 80% da umidade disponível.
As pulverizações com inseticidas e fungicidas, bem como as capinas manuais, são práticas utilizadas conforme a necessidade, durante o desenvolvimento e formação das mudas.
Pode-se, também, produzir mudas em bandejas de isopor para plantio de pequenas áreas, sendo necessária a construção de um viveiro com tela ou sombrite para abrigá-las. As bandejas devem ficar apoiadas em bancadas de taboas ou de blocos, para que o fundo fique ao ar livre e não no chão. O substrato para o enchimento das células das bandejas pode ser adquirido no mercado ou preparado na propriedade. Na semeação, podem ser colocadas várias sementes por célula. Os tratos culturais são a irrigação e o manejo de pragas ou doenças.
a) Transplantio de mudas
O transplantio consiste em retirar as mudas da sementeira e levá-las ao local definitivo, onde serão plantadas em solo úmido, manualmente, uma a uma, em espaçamento previamente definido. Na região Nordeste, sob condições normais de cultivo, as mudas alcançam o estágio ideal para transplante entre 30 e 40 dias após o semeio, quando as mesmas apresentam de 4 a 6 mm de diâmetro do pseudocaule e altura média de 18 a 20 cm. As mudas, uma vez arrancadas, devem ser levadas o mais rápido possível para o local definitivo, não sendo necessário fazer nenhum tipo de poda. Deve-se eliminar as mudas fininhas, atrofiadas ou as que apresentarem algum sintoma de doenças.
No local definitivo, as mudas devem ser enterradas até a profundidade em que se encontravam na sementeira, sendo essa prática de transplantio, no Nordeste, efetuada com mão-de-obra feminina. O inconveniente é a necessidade de grande número de mão-de-obra para a operação de transplantio. Entretanto, leva a vantagem de que as mudas são produzidas em sementeiras que ocupam pequeno espaço, gastando-se pouca água nas irrigações e, portanto, menos energia pouca mão-de-obra para os tratos culturais das mudas até a fase de transplantio. Por outro lado, permite a obtenção de um estande desejado, dispensa replantio e raleio.

Espaçamento

A variação do número de plantas por unidade de área afeta a produtividade e a qualidade dos bulbos. Em baixas populações, são obtidos, geralmente, baixos rendimentos e alta percentagem de bulbos médios e grandes. Em cultivos com densidades maiores que a ótima, obtêm-se bulbos pequenos e desuniformes, de mais baixa qualidade comercial, comparativamente ao cultivo em densidade adequada. No Nordeste, são recomendados espaçamentos de 10 x 10 cm e de 15 x 10 cm, por apresentarem as melhores produtividade com bulbos de tamanho médio, comercialmente mais aceitos pelo consumidor. Se a produção visa o mercado externo, o espaçamento deve ser de 15 x 20 cm, pois o mercado externo exige bulbos do tipo Colossal (> 9,5 cm de diâmetro) e Jumbo de (7,5 a 9,5 cm de diâmetro).
b) Semeadura direta
Método utilizado principalmente nos Estados Unidos e em fase de expansão no Brasil, em alguns Estados, como Minas Gerais, Goiás, São Paulo e na Bahia, na região de Irecê e Mucugê. Possui a vantagem de reduzir a utilização da mão-de-obra no plantio e antecipação da colheita em alguns dias. O grande desafio para utilização deste método ainda é o controle de plantas invasoras. No Brasil, ainda não existe um herbicida eficiente e seletivo para controle de plantas daninhas, em especial de folha larga, na fase inicial do cultivo de cebola. Na semeadura direta, há um gasto médio de 2,5 a 5,0 kg de sementes/ha, variando de acordo com o maquinário utilizado. Geralmente, para o plantio direto utiliza-se a irrigação por pivô central,em vez da irrigação por aspersão.

Época de plantio

As distintas regiões produtoras de cebola do país apresentam diversidade quanto às épocas de semeadura e colheita. Isto possibilita o atendimento da demanda nacional, com produção interna durante o ano todo.
A época de plantio deve ser definida em função da compatibilização das exigências fisiológicas da cultivar a ser plantada com as condições ambientais locais e do mercado consumidor. O plantio na época certa, determinada, principalmente, em função das exigências climáticas de cada cultivar em relação ao fotoperíodo e à temperatura, proporciona aumento da produtividade e melhoria considerável na qualidade dos bulbos. Na região Sul (Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná), efetua-se a semeadura no período compreendido entre abril e junho, e a colheita de novembro a janeiro. Na região Sudeste (São Paulo e Minas Gerais), faz-se a semeadura no período de fevereiro a maio, e a colheita de julho a novembro. Na região Centro-Oeste (Goiás), a semeadura é feita de fevereiro a março e a colheita de julho a setembro. No Nordeste, o cultivo da cebola é realizado durante o ano todo, com concentração de plantio nos meses de janeiro a março e colheitas de maio a julho, para atender à demanda dos mercados consumidores das regiões Nordeste, Sul e Sudeste.

Preparo do solo

A cebola desenvolve-se melhor em solos profundos, ricos em matéria orgânica, com boa retenção de umidade, bem drenados e "leves". Em geral, os solos de textura média, quando bem drenados, são os mais indicados por possuírem boas condições físicas e maior eficiência produtiva.
Solos muito arenosos apresentam o inconveniente da baixa retenção de umidade e possibilidade de lixiviação de adubos, que podem contaminar águas subterrâneas causando problemas ambientais. Solos muito argilosos e "pesados" prejudicam o desenvolvimento dos bulbos e podem causar deformações e baixa qualidade comercial.
Com relação à fertilidade, deve-se, com base em análises de solo, fazer a correção e a adubação adequada para cada situação.
Independente do sistema de plantio e do método de cultivo, deve-se utilizar práticas conservacionistas, a começar pelo zoneamento agrícola, considerando-se a aptidão das áreas de cultivo. No plantio em si, deve-se atentar para a adoção de cultivo em nível e com terraceamento ou curvas de nível quando pertinente.
Para o preparo de solo no sistema convencional, são feitas geralmente uma aração e duas gradagens. Em solos que apresentem alguma camada subsuperficial compactada, recomenda-se o uso de subsolador à profundidade de pelo menos 5 a 10 cm abaixo da camada compactada. Em seguida, a finalização do preparo de solo varia conforme o método de plantio.
Quando se utiliza o método de semeadura direta no local definitivo, é comum o uso de rotocultivadores ou enxada rotativa com ou sem encanteirador, de modo a deixar o solo bem destorroado e aplainado, para que se obtenha uniformidade na distribuição das pequenas e irregulares sementes de cebola. O uso de canteiros é comum quando se faz necessário melhorar a drenagem em plantios precoces ou em solos de baixadas suscetíveis ao encharcamento.
No caso do método de plantio de transplante de mudas, o destorroamento não precisa ser tão intenso, de forma que, dependendo das características do solo, em geral basta o sulcamento. Em solos ou épocas passíveis de encharcamento também se pode efetuar o encanteiramento previamente ao sulcamento.
Para os métodos de plantio de bulbinhos ou soqueira seguem-se as mesmas recomendações de preparo do solo para o sistema de mudas.




domingo, 17 de setembro de 2017

Clima para a Cebola

A cebola é uma oleracéa de ciclo vital bienal, compreendendo uma fase vegetativa que culmina com a formação do bulbo no primeiro ano e uma fase reprodutiva, onde se dá o florescimento e, subseqüentemente, a produção de sementes no segundo ano, quando a cultivar está totalmente adaptada às condições climáticas da região.
Tratando-se de uma planta com estas características, para passar da fase vegetativa para a reprodutiva, ela necessita que baixas temperaturas induzam a diferenciação das gemas florais. No Brasil, apenas os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm condições de produção de sementes de cebola sem a vernalização artificial dos bulbos-mãe. Nos demais estados, sobretudo no Nordeste brasileiro, a vernalização é uma prática necessária quando se pretende produzir sementes de cebola. Existe uma interação entre o tempo de vernalização, cultivar e condições climáticas locais, sendo que, em geral, à medida em que se aumenta a distância do Equador, as necessidades de vernalização são cada vez menores, em virtude da diminuição da temperatura média local na época de produção de sementes. Salienta-se que sob condições de vernalização, a produção de sementes ocorre no período de um ano, fato constatado na região Nordeste. Estudos conduzidos no Vale do São Francisco verificaram que a vernalização artificial de bulbos é condição necessária e indispensável para produção de sementes no Nordeste. Verificou-se que existe uma interação entre a cultivar e o tempo, onde o período máximo de vernalização de bulbos se situou entre 90 e 120 dias sob temperaturas de 8 ? 10 ºC.
A formação de bulbos está relacionada com a interação entre a temperatura e o fotoperíodo (duração do dia). Nesta interação, o fator mais importante é o fotoperíodo, o qual determina os limites de adaptação das diferentes cultivares. Estes fatores climáticos controlam a adaptação da cebola e limitam a recomendação de uma mesma cultivar para uma faixa ampla de latitudes. A escolha de cultivares não adequadas para o local e a época resulta em baixa produtividade e qualidade dos bulbos. A temperatura, além de influenciar a bulbificação, afeta diretamente o florescimento. Quando as condições climáticas não satisfazem às exigências da cultivar, não há a bulbificação, com a ocorrência de plantas improdutivas, denominadas de "charutos", emissão de pendão floral e formação de bulbos pequenos.

Fotoperíodo

A cebola é uma planta de dias longos quanto à formação de bulbos, e as cultivares designadas de dias curtos não são, particularmente, plantas de dias curtos; simplesmente exigem menos horas de luz para bulbificarem. Cada cultivar tem sua exigência em horas de luz para iniciar o processo de formação de bulbos. Desse modo, se uma determinada cultivar é exposta a uma condição fotoperiódica menor do que a exigida, haverá um elevado índice de plantas que não irão se desenvolver, formando os conhecidos "charutos". Ao contrário, se uma cultivar é submetida a um fotoperíodo maior que o requerido, a bulbificação ocorrerá precocemente, formando bulbos de tamanho reduzido, sobretudo se essa condição ocorrer num estádio inicial de desenvolvimento das plantas. Quando se cultiva cebola em baixos fotoperíodos (muito curtos), as plantas formam folhas indefinidamente e não formam bulbos.
Na etapa vegetativa do ciclo, há o desenvolvimento e o amadurecimento do bulbo. O fotoperíodo é decisivo na bulbificação, e a espécie de dia longo, para bulbificar requer um fotoperíodo maior que o valor critico da cultivar. Em função do número de horas de luz diária exigido para que as plantas formem bulbos comercializáveis, as cultivares de cebola são classificadas em três grupos: de dias curtos (DC); de dias intermediários (DI) e de dias longos (DL). As DC iniciam a bulbificação em dias com, pelo menos, 11 a 12 horas de luz; as DI exigem dias com 12 a 14 horas de luz e as DL exigem mais de 14 horas de luz diária.
No Brasil, em função dos fotoperíodos que ocorrem ao longo do ano, as cultivares possíveis de serem plantadas em condições normais de temperatura são as dos tipos DC e DI. As cultivares DC se adaptam à maioria das regiões brasileiras, sendo as mais importantes para o cultivo no Nordeste brasileiro, onde são cultivadas cebolas amarelas e roxas desse grupo, denominadas precoces, enquanto as DI são mais adaptadas ao cultivo na região Sul do Brasil, desde que plantadas na época certa. Cultivares DL não bulbificam bem no Brasil, mesmo nas condições de dias intermediários do extremo Sul do Brasil, devido ao fotoperíodo insuficiente para bulbificação.
Na Tabela 1, são apresentadas as variações do fotoperíodo em estados produtores de cebola em função da latitude e da épocas do ano.
Tabela 1. Variação do fotoperíodo em função da latitude e época do ano.
Latitude
Fotoperíodo (horas de luz)
Janeiro
Junho
Dezembro
12,0
12,0
12,0
9º S (PE)
12,5
11,5
12,5
15º S (DF)
12,5
11,1
12,0
23º S (SP)
13,5
10,0
13,5
32º S (RS)
14,5
9,0
14,5
Fonte: Sílvia e Vizzotto (1990).
O fotoperíodo é o fator mais importante na fase vegetativa do ciclo da cebola, período que vai da germinação da semente à formação do bulbo. Por outro lado, ainda que a duração do dia seja o principal fator indutivo da bulbificação, seus efeitos são modificados pela temperatura do ar.

Temperatura

A formação de bulbos é acelerada em condições de altas temperaturas e, sob condições de temperaturas baixas, o processo é retardado. Temperaturas altas (acima de 32 ºC) na fase inicial de desenvolvimento das plantas podem provocar a bulbificação prematura indesejável. Ao contrário, a exposição das plantas a períodos prolongados de temperaturas baixas (< 10 ºC), pode induzir o florescimento prematuro ("bolting"), que é altamente indesejável, quando se visa a produção comercial de bulbos e não de sementes. Temperaturas em torno de 15,5 a 21,1 ºC promovem a formação de melhores bulbos e maior produção.
Resumindo, pode-se dizer que satisfeitas as necessidades de fotoperíodo, somente haverá boa formação de bulbos se a temperatura for favorável à cultivar plantada. Temperaturas baixas predispõem as plantas de cebola ao florescimento precoce, sem formação de bulbos, enquanto sob temperaturas elevadas o tamanho dos bulbos será reduzido e a maturação mais rápida.
Na passagem da fase vegetativa para a reprodutiva da cebola, a temperatura é fator de maior importância. A iniciação do processo de florescimento ocorre dentro das partes vegetativas da planta, verificando-se, subseqüentemente, a emissão e a elongação do escapo floral. Apesar de existirem poucas informações sobre as trocas bioquímicas associadas com a transição da fase vegetativa para a reprodutiva da cebola, tem sido observada uma intensificação da atividade hormonal (giberelina), justamente antes do início da formação da inflorescência em bulbos armazenados, sugerindo uma associação com o frio (vernalização).
Os efeitos da temperatura em bulbos armazenados sobre a iniciação floral e a subseqüente emergência são complexos, porque a temperatura afeta mais de um processo, simultaneamente. A condição de dormência e baixa atividade fisiológica dentro do bulbo são mantidas por temperaturas muito baixas (0 ºC), ou altas (25 a 30 ºC). A taxa máxima de desenvolvimento no interior do bulbo ocorre a 15 ºC. Destaca-se, ainda, que a iniciação floral, normalmente, requer temperaturas baixas, não devendo exceder 17 ºC. A faixa de temperatura mais favorável é de 9 a 13 ºC. Isso pode ser interpretado como um efeito direto sobre o processo de vernalização, ou pode envolver uma interação entre vernalização e taxa de desenvolvimento. A emergência das hastes florais é favorecida sob temperaturas ao redor de 17 ºC. A reversão do estádio floral à condição vegetativa (desvernalização) pode ocorrer quando bulbos que iniciaram a fase reprodutiva são submetidos a temperaturas de armazenamento na faixa de 28 a 30 ºC.
O florescimento em uma cultura de cebola destinada à produção de bulbos (florescimento prematuro ou "bolting") é prejudicial e ocorre quando as plantas são expostas a períodos prolongados de frio, após terem atingido determinada idade fisiológica. As cultivares desenvolvidas para a região Nordeste do Brasil, como as da série IPA, são menos exigentes a baixas temperatura e tempo de exposição ao frio para florescer do que as cultivares desenvolvidas para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
A Tabela 2 mostra a relação entre o fotoperíodo e a temperatura do ar na bulbificação e floração da cebola.
Tabela 2. Relação entre fotoperíodo e temperatura do ar na bulbificação e floração, em função do valor crítico de exigência de cultivares de cebola.
Fotoperíodo
Temperatura do ar
Abaixo do crítico
Acima do crítico
Bulbo
Flor
Bulbo
Flor
Abaixo do crítico
Não
Sim
Não
Não
Acima do crítico
Sim
Sim
Sim
Não
Fonte: Neves (1977).

Precipitação e umidade

A precipitação e umidade, embora não exerçam efeito sobre a iniciação da bulbificação e florescimento, exercem efeito sobre a rapidez de desenvolvimento dos bulbos e estrutura floral, além de afetar o estado fitossanitário e a qualidade dos bulbos na colheita.
A ocorrência de chuvas em excesso, por ocasião da maturação, favorece o apodrecimento dos bulbos ainda no campo, diminuindo consideravelmente sua conservação. Além disso, chuvas em excesso em qualquer etapa do desenvolvimento da cultura afetam diretamente o seu rendimento, pela maior ocorrência de doenças foliares e de raízes. Para boa qualidade dos bulbos, é necessário tempo seco durante a colheita e a cura da cebola. Bulbos que são colhidos em tempo úmido normalmente apodrecem imediatamente. A umidade relativa elevada favorece a incidência de doenças foliares, aumentando o custo de produção, podendo, inclusive, comprometer a produção.


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Botânica e Composição química da Cebola



Botânica
A primeira classificação da cebola foi feita por Carl Van Lineus em seu livro “Species Plantarum” como pertencente à família Liliaceae e ao gênero Allium, sendo a espécie A. cepa L. Porém, estudos recentes têm questionado o posicionamento do gênero Allium. Para alguns taxononistas, com base nas características morfológicas e fisiológicas, a classificação dentro da família Liliaceae ou da Amaryllidaceae (classe Monocotyledoneae, ordem Asparagales) deve ser mantida. Por outro lado, estudos morfológicos e moleculares têm reforçado a idéia de que o gênero Allium pertence a uma família monofilética (Alliaceae), que apresenta características distintas, porém estreitamente relacionadas com a família Amaryllidaceae. No presente trabalho, a classificação adotada é: Sub-divisão – Angiospermae; Classe – Monocotiledoneae; Sub-classe – Liliidae; Ordem – Liliales; Família – Alliaceae; Gênero – Allium e Espécie - Allium cepa L. Além da cebola, o gênero Allium inclui outras espécies de importância econômica como o alho (A. sativum L.), o alho porró (A. ampeloprasum L. var. porrum (L.) J. Gay), a cebolinha (A. fistulosum L.), entre outros.
Quanto ao centro de origem da cebola, até o presente, persistem dúvidas, pois não foram encontradas espécies selvagens de Allium cepa. A maioria dos botânicos, todavia, aponta a Ásia Central, que compreende um território relativamente pequeno do Noroeste da Índia (Punjab, Cachemira), todo o Afeganistão, as ex-Repúblicas Soviéticas de Tadjiquistão e de Uzbequistão, e a parte ocidental de Tian-chan, como o seu provável centro de origem ou primário. Esta região foi assim considerada devido à grande diversidade de invasoras do gênero Allium encontrada nessa área. Por outro lado, são considerados prováveis centros de domesticação ou centros secundários de origem o Oriente Próximo, que abrange o interior da Ásia Menor, toda a Transcaucásia, o Irã, as terras altas do Turcomenistão e as regiões do Mediterrâneo, que compreendem os países em torno do mar Mediterrâneo. Nessas regiões, são encontradas as cebolas de bulbos grandes.
Morfologicamente, a cebola é descrita como uma planta herbácea, cuja parte comercial é um bulbo tunicado, que apresenta variação em formato, cor, pungência, tamanho e conservação pós-colheita.
No desenvolvimento da planta, as folhas, que podem ser cerosas ou não, apresentam disposição alternada, formando duas fileiras ao longo do caule. As bainhas foliares, nas quais as folhas se inserem, projetam-se acima da superfície do solo e formam uma estrutura firme, comumente chamada de caule, mas que, na realidade, é um pseudocaule. O caule verdadeiro está localizado abaixo da superfície do solo e é composto por um disco achatado (prato), situado na extremidade inferior do bulbo (Fig. 1), que emite raízes fasciculadas, pouco ramificadas, com maior concentração nos primeiros 30 cm do solo, mas que podem alcançar 60 cm de profundidade. De forma geral, as raízes raramente alcançam 25 cm de profundidade, sendo que lateralmente não superam a 15 cm.

Fonte: Vidal Vidal (1992)
Figura 1. Detalhe do bulbo tunicado de Allium cepa L., mostrando a região do prato na porção inferior e as gemas na porção central do bulbo.
O florescimento em cebola é condicionado, primeiramente, por temperaturas baixas. Quando a planta é induzida a florescer, a gema apical pára de emitir primórdios foliares e inicia a formação da inflorescência, com subseqüente elongação da haste ou escapo floral. A altura das hastes florais, em geral, varia de 0,5 a 1,5 m. Cada planta poderá emitir de 1 a 20 hastes florais, dependendo do número de gemas laterais existentes no caule.
A haste floral é, inicialmente, uma estrutura sólida, mas, à medida em que cresce, torna-se oca. No topo da haste floral desenvolve-se uma inflorescência de forma esférica, em cimeira. Essa estrutura floral é chamada de umbela, possuindo de 50 até 2.000 flores. Na verdade, a inflorescência é constituída por um agregado de muitas pequenas inflorescências de 5 a 10 flores (cimeiras), cada uma delas abrindo em uma seqüência definida, o que causa considerável irregularidade no processo de abertura das flores. Em geral, há uma amplitude de 25 até mais de 30 dias, entre a abertura da primeira e da última flor de uma mesma umbela.
Individualmente, cada flor da cebola é hermafrodita, apresentando androceu composto por seis estames (três internos e três externos), gineceu formado por três carpelos unidos com um único pistilo e perianto com seis segmentos, estando encerrada por brácteas. As pétalas são de coloração violácea ou branca. O pistilo contém três lóculos, cada um dos quais com dois óvulos. As flores contêm nectários localizados na base dos estames e o néctar é acumulado entre o ovário e os estames internos.
As anteras dos três estames internos abrem-se primeiro e, uma após outra, liberam o pólen. Depois há a deiscência das anteras dos três estames externos, também em intervalos irregulares. A maior parte do pólen é liberada entre 9 horas e 17 horas do primeiro dia em que ocorreu a abertura da flor. As anteras liberam pólen em um período de três a quatro dias antes de o estilete alcançar o comprimento máximo e o estigma tornar-se receptivo.
Essa assincronia entre a maturidade dos órgãos sexuais (protandria) favorece a polinização cruzada, que ocorre com, aproximadamente, 93%. A baixa taxa de autofecundação existente dá-se por meio da transferência de pólen entre flores de uma mesma umbela ou entre flores de umbelas diferentes de uma mesma planta, mas é impossível a sua ocorrência dentro de uma flor, individualmente. Os efeitos da depressão por autofecundações sucessivas na cebola são bem acentuados, sendo mais pronunciados na segunda geração (S2). Em condições de cultivo comercial, as plantas autofecundadas são eliminadas devido à menor capacidade de sobrevivência.
Quanto às formas horticulturais de Allium cepa L., estas podem ser colocadas em três grupos:
Grupo Typsicum (Regel) - grupo das cebolas comuns que apresentam bulbos simples e grandes, inflorescência tipicamente sem bulbilhos, plantas quase sempre originárias de sementes verdadeiras e de ciclo bienal. Neste grupo, estão todas as cebolas comercialmente importantes.
Grupo Aggregatum (G. Don) (Allium cepa var. aggregatum) - grupo das cebolas com bulbos compostos, inflorescência tipicamente sem bulbilhos, podendo produzir sementes ou ser estéreis, de ciclo anual e multiplicação quase que exclusivamente vegetativa. Este grupo é caracterizado por bulbos que se multiplicam livremente e são comumente usados para a propagação. Possui três formas distintas:
a) Cebola múltipla ou batata (Potato onion) - os bulbos são agregados, apresentam coloração externa marrom e a propagação ocorre por meio da formação de numerosos bulbos laterais. Esses, por sua vez, podem originar uma nova planta e, no segundo ano, produzem bulbos que variam de 2 a 20 bulbilhos. Raramente florescem e as sementes são esparsas e de baixa germinação.
b) Cebola sempre- pronta (Every-Ready onions) - na Inglaterra, servem para suprir a falta de bulbos comerciais. Este tipo de cebola assemelha-se ao tipo comum; no entanto, é perene e possui poucos bulbos e folhas, a haste floral é curta e a umbela é menor. Raramente florescem e são propagadas por divisão, nunca por sementes. Um bulbo produz de 10 a 12 bulbos.
c) Chalota (Shallot) - alguns autores a consideram pertencente à espécie A. ascolonicum; no entanto, é uma forma de A. cepa. Usualmente, é de pequena altura, mas as flores e inflorescências são tipicamente da cebola comum.
Grupo Proliferum (Allium cepa var. proliferum) - grupo das cebolas com bulbos, às vezes deficientemente desenvolvidos. As inflorescências apresentam-se carregadas de bulbinhos usualmente sem sementes verdadeiras. A propagação é feita vegetativamente pelos bulbilhos da inflorescência.
Quanto aos recursos florais, o néctar secretado atrai os insetos (abelhas, vespas e moscas, entre outros), que são os principais agentes polinizadores. Para Allium cepa, são conhecidas 276 espécies de insetos que visitam suas flores, sendo que destes, Hymenoptera e Diptera são os mais importantes polinizadores (Bohart et al., 1970; Williams & Free, 1974; Ewies & El-Sahhar, 1977; Woyke, 1981). Da ordem Hymenoptera, Apis mellifera destaca-se como a mais importante espécie polinizadora (Bohart et al., 1970; Woyke, 1981; Witter & Blochtein, 2003), sendo indicada para o manejo na produção comercial de sementes.
No que se refere à citogenética, o número básico de cromossomos da cebola é 2n = 16, sendo uma das espécies mais polimórficas, exibindo diferenças quanto ao formato, tamanho, cor, conteúdo de matéria seca, reação a fotoperiodismo e outros caracteres da planta.

Composição química


Pelo fato de a cebola ser mais usada como condimento que como alimento, seu consumo diário "per capita" é pequeno e a própria quantidade ingerida limita sua contribuição nutricional. Porém, sob o ponto de vista alimentar, tem sido muito utilizada, com crescente importância na indústria de alimentos. Além de utilizada como condimento, por ser a base para todos os temperos, combinando com quase todos os tipos de pratos, dando-lhes sabor especial, a cebola possui princípios químicos que têm sido utilizados com freqüência na indústria farmacêutica. Para tal uso, bem como na alimentação, necessário se torna que a cebola (matéria-prima) tenha quantidades adequadas de alguns constituintes responsáveis por um maior rendimento industrial e um produto processado de melhor qualidade.
No processamento, tem sido industrializada nas formas cozida, picles congelada, desidratada (pó, flocos), essência (óleo de cebola), bulbos enlatados (conserva), e liofilizada. No Brasil, as formas industrializadas mais facilmente encontradas são a de flocos desidratados, creme de cebola, picles e bulbos enlatados (conserva). Nos últimos anos, a ciência da nutrição tem tomado outro rumo. Novas fronteiras se abrem, ligando nutrição e medicina, com o surgimento do conceito de alimentos funcionais. A nutrição continua tendo seu papel, que é o estudar fornecimento de nutrientes, mas a descoberta de que os alimentos contêm componentes ativos, capazes de reduzir ou prevenir o risco de doenças, inclusive o câncer, faz com que essa ciência associe-se à medicina e ganhe uma dimensão extra no século 21. Os termos alimento funcional ou nutracêuticos representam um novo conceito, que engloba uma ampla variedade de compostos que atuam maximizando funções fisiológicas relevantes, físicas ou mentais, em adição a suas propriedades nutricionais.
Há fortes evidências do papel da cebola na dieta alimentar em melhorar as performances mental e física, retardar o processo de envelhecimento, auxiliar na perda de peso e na resistência a doenças (melhoria do sistema imunológico do ser humano).
A cebola, em função dos baixos teores de proteína, ácidos graxos e carboidratos, não pode ser considerada fonte nutricional, tendo seu valor como condimentar e medicinal. É utilizada em diversos pratos e apresenta consumo crescente, sendo atualmente, de 7,2 kg/pessoa/ano.
Comparativamente a outras hortaliças frescas, é relativamente rica em caloria, em cálcio e em riboflavina. Possui diferentes minerais, como cálcio, ferro, fósforo, magnésio, potássio, sódio e selênio. Destes, a contribuição da cebola em uma dieta padrão é significativa para o selênio, mineral que o organismo requer em quantidades mínimas, mas cuja deficiência causa catarata, distrofia muscular, depressão, necrose do fígado, infertilidade, doenças cardíacas. Este mineral oferece, ainda, proteção contra doenças crônicas associadas ao envelhecimento, como arteriosclerose (doenças das artérias coronarianas, cerebrovascular e vascular periférica), câncer, artrite, cirrose e efisema.
A cebola também é rica em vitaminas B1 (tiamina) e B2 (riboflavina), possuindo teores medianos de vitamina C (ácido ascórbico), como apresentado na Tabela 1. A vitamina B1 é indispensável à saúde do sistema nervoso e co-fator do crescimento normal, da regularidade do metabolismo e da manutenção do apetite. A geração de energia na célula é severamente comprometida na ausência de tiamina. A deficiência severa de tiamina é chamada beribéri e se caracteriza por sintomas neuromusculares avançados, incluindo atrofia e fraqueza muscular. A vitamina B2 tem como uma das principais funções atuar como coenzima de sistemas que intervêm nas oxidações celulares. Também exerce ação promotora do crescimento e atua na regeneração sangüínea. A vitamina C é necessária para a formação dos ossos, a manutenção do tecido conjuntivo normal, a cicatrização de ferimentos, a absorção de ferro, dentre outras importantes funções.
Há muito tempo já é conhecida a ação terapêutica das plantas do gênero Allium, principalmente o alho e a cebola. Esta ação tem sido atribuída aos compostos orgânicos sulfurados, abundantes nos tecidos destas plantas. Entre as principais ações terapêuticas, está a ação inibidora sobre alguns microorganismos, como a presença de substâncias com atividade antibiótica sobre Staphylococcus aureus. Observou-se que o óleo de cebola possui um composto sulfurado, com capacidade de diminuir o nível de glicose do sangue de ratos.
É particularmente rica em dois grupos de compostos com comprovado beneficio à saúde humana: flavonóides e sulfóxidos de cisteína (compostos organosulfurados). Dois sub-grupos de compostos do tipo flavonóide predominam em cebolas: as antocianinas (que conferem a coloração avermelhada ou roxa aos bulbos) ou as quercetinas e seus derivados (que conferem coloração amarelada ou cor de pinhão aos bulbos). As antocianinas, quercetinas e seus derivados são de grande interesse pelas suas propriedades anticarcinogênicas.
Para melhor aproveitamento das propriedades nutricionais e funcionais da cebola, recomendações médicas sugerem que cada pessoa consuma, pelo menos, 50 gramas de cebola fresca (crua) por dia.
Tabela 1. Composição química (100g do produto) da cebola.
Componente
Filgueira (2000)
FAO (2001)
National Onion Association-EUA
(2001)
Necessidade Diária (%)
Umidade (%)
-
87,8
-
-
Proteína (g)
1,6
1,8
1,3
-
Cálcio (mg)
32
-
20,0
2
Potássio (mg)
-
-
157,5
4
Fósforo (mg)
44
-
-
-
Ferro (mg)
0,5
-
0,25
1
Vitamina A (U.I.)
120
-
-
-
Tiamina (ug)
50
-
-
-
Riboflavina (ug)
50
-
-
-
Niacina (mg)
0,5
-
-
-
Vitamina C (mg)
32
-
6,5
9
Vitamina B6 (mg)
-
-
0,2
5
Lipídios (g)
-
0,2
0
0
Cinzas (g)
-
0,7
-
-
Fibra dietética (g)
-
1,9
1,2
6
Carboidratos totais (g)
-
9,5
8,7
2
Açúcares (g)
-
-
6,25
-
Colesterol
-
-
0
0
Sódio
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0
0
Valor energético (Kcal)
-
39
37,5
-
Fonte: Embrapa Semi-Árido



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