O cultivo da cebola no Brasil, com exceção da Região Sul, é praticamente todo realizado com irrigação. Mesmo na Região Sul, a área irrigada vem aumentando, pois garante a produção e possibilita maior rendimento durante períodos de estiagem.
A cultura apresenta baixa tolerância ao déficit hídrico, requerendo um bom suprimento de água durante todo o ciclo de cultivo. A fase de crescimento de bulbo é a mais sensível ao déficit hídrico, principalmente durante o rápido espessamento das bainhas.
Cultivos submetidos a déficits hídricos moderados (tensões de água no solo entre 70 e 100 kPa) podem ter a produtividade de bulbos reduzida em até 30%. A falta de água também é crítica na primeira semana após o transplante de mudas.
Sistemas de Irrigação
Os sistemas de irrigação por aspersão são os mais utilizados para a produção de cebola no Brasil. Na Região Nordeste, a aspersão vem substituindo os sistemas por sulcos e bacias de inundação, tradicionalmente utilizados na região.
Dentre os sistemas por aspersão, o convencionalé o mais utilizado. Em médias e grandes áreas de produção, sobretudo nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, o pivô central vem sendo adotado com sucesso. Devido seu alto custo, a irrigação por gotejamento é muito pouco utilizada.
Necessidade de água das plantas
A necessidade total de água da cultura da cebola varia de 350 mm a 650 mm, dependendo das condições climáticas, ciclo da cultivar e sistema de irrigação. A demanda diária de água (evapotranspiração da cultura, ETc) aumenta com o crescimento das plantas, atingindo o máximo na fase de bulbificação e diminuindo a partir do início da maturação.
Coeficientes de cultura (Kc), para a determinação da ETc, são apresentados na Tabela 1. São valores médios, podendo requerer ajustes para condições específicas de cultivo. No caso de cultivo mínimo na palhada, por exemplo, os valores de Kc devem ser reduzidos entre 10% e 40%, dependendo do tipo de palhada e fase da cultura.
Tabela 1. Coeficiente de cultura (KC) para cebola.
¹Somente para condições que é utilizado sistema de transplante de mudas.
²Semeadura direta: turno de rega (TR) ≥ 3 dias. Para TR = 2 dias, usar Kc = 0,85; TR = 1 dia, usar Kc = 1,05.
³Para transplante de mudas usar Kc = 0,85.
Fase de produção de mudas
A irrigação na dose correta é fundamental para a produção de mudas de qualidade. Os canteiros devem estar em local com boa drenagem, pois o excesso de água favorece a ocorrência de doenças. Antes da semeadura, deve-se irrigar até o solo atingir a capacidade de campo. Dependendo da umidade do solo, a lâmina líquida necessária vai de 10 mm a 15 mm, para solos de textura grossa, até 20 mm a 40 mm, para os de texturas média e fina.
Da semeadura até 5 a 10 dias após a emergência, as irrigações devem ser leves e frequentes. Em geral, irrigar duas vezes por dia, uma de manhã e outra a tarde. Em condições de clima ameno e solo com bom armazenamento de água, uma irrigação diária é suficiente. Com o crescimento das mudas, irrigar a cada um ou dois dias, sempre no período da tarde.
Para aclimatação e rustificação das mudas, visando maior resistência às etapas de transporte e transplante no campo, suspender as irrigações dois a quatro dias antes do transplante. Para facilitar o arrancamento das mudas, irrigar os canteiros na véspera.
Fase inicial
Vai da semeadura, transplante de mudas ou plantio de bulbinhos e soqueiras até o pleno estabelecimento das plantas (10% do crescimento vegetativo). Antes do plantio, irrigar conforme recomendado para produção de mudas. Após o transplante, realizar uma irrigação para eliminar "bolsões" de ar em torno das raízes e garantir um melhor pegamento das mudas.
Até a emergência das plântulas, brotação dos bulbinhos ou pegamento de mudas, irrigar frequentemente e em pequenas quantidades, procurando manter a umidade, da camada até 20 cm, entre 70% e 100% da água disponível do solo. Depois, espaçar o intervalo entre irrigações para estimular o crescimento radicular.
Fase vegetativa
Vai do estabelecimento inicial das plantas até o início da bulbificação. Nesta fase, as plantas são menos sensíveis à falta de água que nas fases inicial e de bulbificação. Todavia, a falta de água prejudica o rendimento, mesmo que o suprimento na fase seguinte seja adequado.
A tensão de água no solo para reinicio das irrigações varia de 15 kPa a 40 kPa, sendo o menor valor para solos arenosos. A avaliação da tensão pode ser realizada com diversos tipos de sensores, como o tensiômetro e o Irrigas®. Os sensores devem ser instalados entre as linhas de plantio a 50% da profundidade efetiva do sistema radicular.
Fase de bulbificação
A fase de formação da produção se prolonga até o início da maturação, sendo aquela onde a necessidade de água das plantas é máxima. A deficiência de água, particularmente durante o período de rápido crescimento de bulbo, reduz drasticamente o tamanho de bulbo. Por outro lado, irrigações e adubações nitrogenadas em excesso favorecem o engrossamento excessivo do pseudocaule ("pescoço-grosso"), induzindo maior susceptibilidade a doenças foliares e prejudicando a conservação dos bulbos.
A tensão de água no solo, que indica o momento adequado das irrigações, varia de 7 kPa a 20 kPa, sendo a menor tensão para solos de textura grossa.
Fase de maturação
Nessa fase, que vai do início da maturação dos bulbos até a colheita, há redução no uso de água pelas plantas (20% a 30%). O primeiro sinal de amadurecimento é o tombamento da planta ("estalo"), seguindo-se o secamento da parte aérea. A faixa de tensão para se irrigar é semelhante à indicada para a fase vegetativa.
Irrigações ou chuvas próximas da colheita reduzem o teor de matéria seca, sólidos solúveis e pungência dos bulbos, além de aumentar as perdas por apodrecimento durante o armazenamento e comercialização.
Para evitar a entrada de água pelo pseudocaule e permitir a rápida dessecação da parte aérea e a maturação dos bulbos, melhorando suas condições de cura e de conservação, as irrigações devem ser suspensas entre uma e duas semanas antes da colheita. Alguns produtores utilizam o critério de 50% de plantas com "pescoço" macio.
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