Doenças causadas por bacterias
A cebola pode ser atacada por várias espécies bacterianas; somente no Brasil, mais de 10 já foram relatadas (Tabela 1).
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Tabela 1. Doenças bacterianas da cebola relatadas no Brasil.
Fonte: MARQUES, A.S.A.; ROBBS, C.F.; BOITEUX, L.S.; PARENTE, P.M. Índice de fitobacterioses assinaladas no Brasil. Embrapa-Cenargen, 1994. 65p.
A maioria delas ataca o bulbo, que é um órgão com alto teor de água, condição que, de um modo geral, favorece o desenvolvimento de bactérias. Entretanto, quatro dessas espécies merecem destaque por ocorrerem com maior frequência e estarem distribuídas nas principais regiões produtoras de cebola.
As doenças causadas por essas espécies são conhecidas popularmente como podridão mole, podridão aquosa, camisa d'água, podridão bacteriana da escama e pescoço mole, embora outros nomes diferentes possam ser usados regionalmente. O diagnóstico correto dessas podridões é normalmente difícil, pois os sintomas podem ser confundidos em especial após a invasão dos tecidos apodrecidos por microrganismos secundários saprófitos.
As medidas de controle dessas bacterioses é comum e deve ser preventivo.
Podridão mole
É uma das principais doenças de pós-colheita, ocorrendo com maior freqüência quando a colheita ocorre em épocas quentes e chuvosas. A doença pode ser muito agressiva em temperaturas acima de 25ºC, e pode ocorrer durante o armazenamento e a comercialização, confundindo-se com outras podridões bacterianas.
É causada por espécies dos gêneros Pectobacterium e Dickeya, que antes faziam parte do gênero Erwinia, associado a uma extensa gama de plantas hospedeiras. Embora somente o primeiro tenha sido relatado (P. carotovorum subsp. carotovorum), acredita-se que ambas existam no Brasil em função da grande variabilidade do gênero Erwinia encontrada em levantamentos já realizados no país, inclusive em cebola.
A bactéria penetra na planta pelo pescoço, no final do ciclo, e atinge o bulbo, iniciando o processo de apodrecimento, que é mais rápido em altas temperaturas. Ferimentos nas plantas e nos bulbos facilitam a penetração da bactéria e aceleram a deterioração do produto. O tecido infectado fica com uma aparência vitrificada e encharcada, com uma cor creme. É comum a podridão ficar isolada em algumas escamas, com as escamas vizinhas permanecendo sadias. Com o passar do tempo, a infecção avança para uma podridão mole característica, escurece e emite mal cheiro, muito em função da invasão de bactérias saprófitas.
Podridão das escamas
A podridão das escamas pode ser considerada uma doença complexa, pois envolve mais de uma espécie de bactéria. Na Região Sudeste do Brasil, foi chamada de "podridão bacteriana das escamas" ou "camisa d'água" quando associada com B. cepacia. Neste caso, as escamas mais externas apodrecem e, ao secar, ficam amarelecidas, deixando um odor avinagrado aos bulbos.
Ainda na Região Sudeste, quando B. gladioli subsp. alliicola foi o agente causador da podridão, a doença foi relatada como "pescoço mole". Neste caso, a podridão inicia nas camadas mais internas do bulbo em função da evolução da doença após a infecção do pescoço da planta. Bulbos infectados são aparentemente normais, porém, quando pressionados na base, expelem a parte central doente. Essa fase é temporária, pois é comum o bulbo apodrecer por completo pela invasão de microrganismos saprófitos.
Ambas a bactérias penetram na planta pelo pescoço através de aerossóis contaminados com bactérias presentes no solo.
Doenças causadas por nematoides
Muitos gêneros de fitonematoides estão associados à cebola, mas apenas algumas espécies de Meloidogyne e Ditylenchus dipsaci foram estudadas em associação com esta cultura de forma significativa.
Nematoide-das-galhas
O nematoide-das-galhas apresenta distribuição mundial e as várias espécies existentes são parasitas obrigatórios com extensa gama de hospedeiros incluindo a cebola. É um endoparasito sedentário que se alimenta nas raízes de cebola.
Meloidogyne incognita, M. javanica, M. hapla e M. chitwoodi têm sido relatados como parasitas de cebola. Em relação a M. incognita, quatro raças já foram identificadas mediante teste dos hospedeiros diferenciadores.
Raças de M. javanica e M. hapla não foram identificadas, embora variações na capacidade de parasitar plantas de cebola podem ser esperadas entre populações coletadas de diferentes regiões.
O sintoma de ataque do nematoide-das-galhas mais visível em cebola é a formação de galhas nas raízes. As galhas são geralmente menores (1-2 mm de diâmetro) em cebola comparadas com outras culturas. O sistema radicular infectado é normalmente mais curto e apresenta menor número de raízes.
Geralmente ocorrem sintomas adicionais devido a presença do nematoide-das-galhas, como o estande irregular de plantas (reboleiras), nanismo e amarelecimento. Danos à cebola estão diretamente relacionados ao nível populacional inicial do nematoide-das-galhas.
Massas de ovos são freqüentemente observadas na superfície de raízes de cebola, mesmo quando galhas não são visíveis. As massas de ovos variam do branco ao marrom escuro e possuem cerca de 0,5 a 1 mm de diâmetro. Quando galhas ou segmentos de raízes contendo massas de ovos são dessecadas, fêmeas de Meloidogyne de coloração branca-pérola podem ser observadas ao microscópio
O ciclo de vida das espécies de Meloidogyne tem início com um ovo, geralmente na fase de uma célula, depositado pela fêmea. Os ovos são depositados em uma matriz gelatinosa, que os mantêm agregados. A massa de ovos pode conter de 100 a mais de 1.000 ovos dependendo da cultivar de cebola, temperatura, umidade e tipo de solo.
O desenvolvimento do ovo começa dentro de algumas horas após sua deposição, e, eventualmente, um juvenil totalmente formado com um estilete visível permanece enrolado no interior do ovo. Este é o primeiro estádio juvenil (J1). Depois de uma ecdise ainda dentro do ovo, o juvenil eclode do ovo (J2) podendo se mover aleatoriamente dentro da massa de ovos ou migrar para o solo até localizar uma ponta do sistema radicular. Estes juvenis geralmente penetram nas raízes por meio da coifa. Uma vez dentro da raiz, eles migram intracelularmente e intercelularmente dentro do sistema radicular. Tornam-se sedentários e com sua alimentação ocorre à formação de células gigantes multinucleadas ao redor do seu sítio de alimentação.
O corpo dos nematoides avoluma-se e passa por mais três ecdises sucessivas, com o desenvolvimento em fêmeas totalmente incorporadas dentro do tecido radicular. Os machos vão para o solo e não se alimentam. A deposição de ovos pela fêmea completa o ciclo de vida de Meloidogyne. A duração do ciclo de vida do nematoide-das-galhas é muito influenciada pela temperatura. Temperaturas ótimas variam de 15ºC a 25ºC para M. hapla e 25ºC a 30ºC para M. incognita e M. javanica. Existe pouca atividade para qualquer espécie de Meloidogyne acima de 40ºC ou abaixo de 5ºC.
Geralmente os danos são mais severos em solos arenosos do que em argilosos. Aparentemente, isto está relacionado com o tamanho de poros e maior mobilidade dos nematoides no filme de água presente nos poros dos solos arenosos.
Nematoide do caule e do bulbo
O nematoide do caule e do bulbo da cebola e do alho é bastante problemático nestas duas culturas, principalmente por causa de sua ocorrência e disseminação mediante lotes de sementes de bulbos infectados.
Esta doença é mais comum no Brasil quando se planta cebola em sucessão ao alho, o que ocorre com certa freqüência em regiões produtoras do Estado de Santa Catarina. Ditylenchus dipsaci apresenta um complexo de raças que são diferenciadas umas das outras pela habilidade de parasitar diferentes hospedeiros. Muitas raças são específicas de determinado hospedeiro, enquanto outras têm uma ampla gama de hospedeiros. O nematoide do alho e da cebola parasita tanto as raízes, quanto caule, bulbo, pseudocaule e folhas.
Os sintomas da doença em cebola incluem nanismo, dobra de folhas, inchaço e divisão longitudinal extensa de cotilédones e folhas. As folhas ficam curtas e espessas e muitas vezes apresentam manchas marrons ou amareladas, além de inchaço no pseudocaule. Em campo os sintomas manifestam-se na forma de reboleiras, com plantas raquíticas e amarelecidas.
Mudas infectadas ficam retorcidas, cloróticas e deformadas e freqüentemente morrem em áreas altamente infestadas. Ao longo do ciclo da cultura, a folhagem da cebola cai e ocorre chochamento do pseudocaule do bulbo que gradualmente vai afetar todo órgão.
Controle
O controle dos nematoides em cebola, assim como para doenças de modo geral, deve ser feito de forma integrada, isto é, pela adoção de várias medidas preventivas que visam a reduzir a intensidade do seu ataque, como por exemplo:
evitar o plantio de cebola em áreas que já haviam sido ocupadas por alho;
usar bulbos livres de nematoides (principalmente na produção de sementes);
usar sementes livres de nematoides, no caso de Ditylenchus;
fazer rotação com culturas que não sejam hospedeiras das espécies de nematoides envolvidas;
destruir restos de cultura e de plantas voluntárias;
a inundação do solo durante algumas semanas é eficiente e pode ser usada. Quando possível, fazer rotação com arroz irrigado;
nematicidas podem ser eficientes em alguns casos, mas estes são geralmente muito tóxicos e podem causar contaminação de mananciais;
em situações extremas e quando possível, proceder a erradicação com fumigantes.
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