Vários fungos e bactérias patogênicos são capazes de infectar os bulbos de cebola durante a fase de cultivo e após a colheita, e ocasionar desde perdas cosméticas e superficiais nas escamas externas até a deterioração completa dos bulbos. Embora a maior parte destas doenças apareçam somente no período de pós-colheita, a infecção pode ocorrer em diferentes estádios de desenvolvimento da cultura.
Em relação às doenças causadas por fungos, em regiões tropicais é comum a incidência do mofo-preto (Aspergillus) e mofo-verde (Penicillium) como causadores de perdas pós-colheita em cebola, enquanto a podridão-aquosa (Botrytis allii) é mais importante em regiões de clima mais ameno.
Outras doenças de pós-colheita em cebola causadas por fungos são antracnose (Colletotrichum circinans), podridão-basal (Fusarium oxysporum f. sp. cepae) e podridão-branca (Sclerotium cepivorum).
Entre as bactérias, as mais importantes são as podridões do bulbo ou das escamas causadas por Pectobacterium spp. e Dickeya spp. (Erwinia spp.), Burkholderia cepacia (Pseudomonas), Pseudomonas viridiflava e P. gladioli pv. alliicola. Também existem registros do envolvimento de uma levedura (Kluyveromyces marxianus) como causadora de podridão.
Em muitos casos, podem ocorrer doenças pós-colheita causadas por mais de um patógeno, envolvendo inclusive fungos e bactérias. A bactéria Burkholderia cepacia pode iniciar a infecção das escamas e Pectobacterium afetar o restante do bulbo a partir destas escamas. Situação semelhante pode ocorrer com fungos, com Pyrenochaeta causando a podridão-rosada das raízes e posteriormente Fusarium colonizando toda a região basal dos bulbos.
Controle de doenças de pós-colheita
Além do efeito direto das condições ambientais e dos tratos culturais durante o período vegetativo, a incidência de doenças de pós-colheita em bulbos de cebola está relacionada ao sistema de cura, armazenamento e comercialização. O processo de cura é muito eficiente como medida preventiva de controle de doenças pós-colheita, porque a desidratação das camadas externas impede a penetração de fungos e bactérias e ao mesmo tempo evita a perda de água dos bulbos.
Quando mantida em condição ideal, em temperatura em torno de 0ºC e 65-75% de umidade relativa, a cebola pode ser conservada por até nove meses. Nesta condição, além de minimizar a perda de água e retardar os processos metabólicos, o crescimento e o desenvolvimento de patógenos também são drasticamente reduzidos.
Os patógenos podem estar presentes nos bulbos, nas embalagens ou no ambiente de armazenamento, mas não chegam a causar danos significativos porque a condição ambiental é desfavorável às doenças de pós-colheita. Portanto, é muito importante fazer limpeza periódica do local de armazenamento, com jatos de água e detergente, e também eliminar bulbos doentes e restos de escamas.
Na comercialização, devem ser executadas inspeções periódicas e a eliminação dos bulbos doentes, com sintomas e sinais evidentes. A condição de armazenamento temporária também deve ser observada com cuidado, evitando-se ambientes muito quentes e úmidos que favorecem a proliferação de fungos e bactérias.
Cura
A cura é um processo extremamente importante na manutenção da qualidade pós-colheita das cebolas. Tem como principal função remover o excesso de umidade das camadas mais externas dos bulbos e das raízes antes do armazenamento.
A formação de uma camada de catáfilos secos (escamas) ao redor do bulbo em decorrência da cura bem feita promove uma barreira eficiente contra a perda de água e infecção microbiana e reduz a ocorrência de brotação.
Para cura, após a colheita, os bulbos são dispostos lateralmente sobre os canteiros e ficam nestas condições por 3 a 4 dias considerando-se uma região com clima quente e seco (Figura 1). É importante reduzir a incidência direta de luz solar sobre os bulbos, o que pode ocasionar o aparecimento de manchas esbranquiçadas nos bulbos, típicas de queimadura por sol.
Figura 1. Cura da cebola a campo
Recomenda-se que os bulbos sejam protegidos pela parte aérea da planta vizinha e assim por diante.
Em regiões úmidas, a cura das cebolas pode demorar um pouco mais e, em algumas situações, maior incidência de podridões pode ocorrer durante o armazenamento prolongado.
Quando feita no campo, a cura ocorre de maneira mais satisfatória quando prevalecem temperaturas o redor de 24ºC e umidade relativa variando de 75 a 80%, o que garante o desenvolvimento satisfatório da coloração da casca.
Terminada a cura a campo, o bulbos devem ser transferidos para um local sombreado, sem incidência de luz solar direta, com temperatura entre 25 e 30ºC e umidade relativa variando entre 70 e 75%. Nestas condições, a cura é finalizada após 10 a 15 dias.
Quando se optar por realizar a cura em locais cobertos como galpões, as cebolas podem ser agrupadas em réstias que serão penduradas em ganchos. Nestas condições, a cura ocorrerá em intervalo de tempo similar ao do campo. Ainda neste caso, os bulbos podem ser curados com a aplicação de ar aquecido, que é insuflado através das réstias de cebola, contribuindo para uma secagem mais rápida das camadas mais externas.
A temperatura recomendada do ar é de 30 a 40ºC e a umidade relativa deve ficar ao redor dos 30%, o que possibilita a cura entre 7 e 10 dias, que é considerada completa quando o pescoço do bulbo estiver seco. O controle de umidade durante esta etapa é crucial, pois em locais onde a umidade é elevada existe risco de maior ocorrência de doenças fúngicas.
Por outro lado, em locais onde a umidade relativa é baixa (abaixo de 60%), perda excessiva de água e rachadura das camadas mais externas do bulbo podem ocorrer. O processo de cura reduz a massa do bulbo e uma vez que a cebola é vendida por peso, atingir o ponto ideal de cura é um processo crítico.
Perdas de peso da ordem de 3 a 5% são normais sob condições ambiente, enquanto que perdas de até 10% podem ocorrer no caso da cura ser feita artificialmente. A parte do bulbo que ficou em contato direto com o solo pode desenvolver manchas amarronzadas, as quais diminuem a qualidade final do bulbo.
Obviamente, o processo de cura a campo depende das condições climáticas da região e, portanto, não se aconselha que seja o método escolhido no caso de grandes quantidades de cebola.
A classificação da cebola é feita em classificadores mecânicos de acordo com o diâmetro transversal do bulbo, obtendo-se as seguintes classes: 1-chupeta (< 35 mm); 2 (35 ≤ Φ < 50 mm); 3 (50 ≤ Φ < 70 mm); 4 (70 ≤ Φ < 90 mm); 5 (> 90 mm).
A comercialização da cebola em nível de atacado se dá em sacos de aniagem ou de nylon de 20 kg (Figura 1). Em nível de varejo, o produto é normalmente exposto à granel.
Supermercados de regiões mais nobres adotam a prática de embalar 6 a 8 bulbos, de tamanho e coloração uniformes, em bandejas de isopor (poliestireno) envoltas com filme de PVC, agregando informações como procedência, nome da cultivar, composição nutricional e, em alguns casos, até receitas.
Em ambas situações, deve-se evitar o transporte e o armazenamento de cebolas juntamente com outros produtos, que podem absorver o odor da cebola.
Nenhum comentário:
Postar um comentário