Controle de Pragas
Os insetos sugadores de seiva (pulgões e a mosca-branca)
e as lagartas constituem os principais grupos de pragas dos brócolis.
São de infestação frequente nas condições de cultivo
brasileiras.
Os pulgões – Brevicoryne
brassicae (Linnaeus), Myzus persicae (Sulzer) e
Lipaphis erysimi (Kaltenbach) (Hemiptera: Aphididae)
– são insetos de 1 mm a 3 mm de comprimento, com corpo periforme e mole e
antenas desenvolvidas. A forma
áptera (sem asas) de B. brassicae apresenta
coloração verde-acinzentada, coberta por uma
camada cerosa branca (Figura 9); a
forma alada é de coloração verde, cabeça e tórax
pretos, além de abdome com manchas
escuras na parte dorsal. A forma áptera de L. erysimi possui coloração verde-escura
Figura
9. Folha de brócolis com colônia do pulgão B. brassicae.
ou acinzentada, com antenas e pernas pretas, podendo ser
identificada equivocadamente como B.
brassicae; a forma alada tem cabeça
e abdome verde-escuro, enquanto o tórax é verde-claro. Já a espécie M. persicae possui coloração verde-clara, rosada ou avermelhada
(Figura 10).
Figura
10. Folha de brócolis infestada pelo pulgão Myzus persicae.
Esses pulgões podem atacar o cultivo de brócolis durante
todo o seu ciclo e ocorrem em grandes colônias na face inferior das folhas, nas
brotações e nas flores. A sucção contínua de seiva e a injeção de toxinas provocam
o definhamento de mudas e plantas jovens, bem como o encarquilhamento das
folhas, brotos e ramos. Além disso, a excreção de líquido açucarado durante a alimentação
dos insetos favorece o desenvolvimento do fungo Capnodium
sp., causador da fumagina (lâmina preta), que
ocorre sobre as folhas e as estruturas reprodutivas da planta e afeta,
consequentemente, a fotossíntese e a respiração das plantas, prejudicando a
aparência das inflorescências.
A mosca-branca [Bemisia
tabaci (Genn.) biótipo B (=
espécie críptica Middle East-Asia Minor 1)] também é um inseto muito pequeno
(Figura 11).
O adulto possui dorso amarelo-palha, antenas curtas e
quatro asas membranosas recobertas com pulverulência branca. Quando o inseto
está pousado na planta
Figura
11. Mosca-branca – Bemisia tabaci biótipo B (adulto).
suas asas não se sobrepõem. A ninfa (forma jovem) é translúcida
de coloração amarelo a amarelo-pálido (Figura 12). Esse inseto causa danos aos
brócolis pela sucção da seiva e ação toxicogênica, provocando alterações no
desenvolvimento vegetativo e reprodutivo das plantas.
Em alta infestação, as plantas apresentam coloração
branco-acinzentada ou verde-opaca, cujo sintoma é conhecido como “talo branco”,
que favorece o surgimento de fumagina sobre as folhas, talos e inflorescências
dos brócolis, depreciando o produto comercializado.
Figura
12. Mosca-branca – Bemisia tabaci biótipo B (ninfas).
Existem várias medidas de controle para os pulgões e a
mosca-branca. O primeiro passo para o manejo integrado dessas pragas consiste
no monitoramento de suas populações com armadilhas amarelas adesivas instaladas
estrategicamente nas bordaduras e no centro da lavoura. A inspeção periódica
das armadilhas (duas vezes por semana) permite identificar quando os insetos sugadores
estão colonizando o cultivo, bem como os maiores focos de infestação e a eficiência
dos métodos de controle.
O controle cultural consiste na adoção de práticas que
visam deixar o ambiente menos favorável ao desenvolvimento desse grupo de
pragas.
Dessa forma, recomenda-se:
• O uso de sementes sadias e com alto poder germinativo.
• O uso de cultivares de ciclo curto e o planejamento da
época de plantio para a região, visando à evasão no período/época de maiores
picos populacionais das pragas.
• A produção de mudas em cultivo protejido com telado que
dificulte a entrada das pragas.
• O uso de armadilhas amarelas adesivas para captura de
pulgões alados e adultos de mosca-branca durante a fase de mudas em telado;
• A seleção de mudas sadias e vigorosas para o
transplantio.
• O isolamento dos cultivos por data e área, a fim de
evitar o escalonamento de plantio; a instalação dos cultivos no sentido contrário
ao vento, do mais velho para o mais novo, para desfavorecer o deslocamento de
insetos sugadores das lavouras mais velhas para as novas.
• A implantação prévia de barreiras vivas ou faixas de
cultivos (sorgo, capim-elefante, milheto ou cana-de-açúcar) ao redor da
lavoura; o plantio de espécies vegetais (coentro, artemísia, erva-doce) no
entorno e dentro da área do cultivo (consórcio) que atraiam os inimigos
naturais.
• A manutenção de vegetação nativa entre talhões e a
cobertura do solo com superfície refletora (casca de arroz, palha de gramíneas
ou plástico prateado), para dificultar a colonização de pulgões alados e
adultos de mosca-branca.
• A adubação química conforme análise de solo ou foliar e
requerimentos da cultura, a fim de evitar excesso de N.
• O manejo adequado da irrigação para evitar o estresse
hídrico e favorecer o estabelecimento rápido das plantas, podendo também ser
utilizada para controle mecânico pela remoção dos insetos sugadores das folhas
e inflorescências.
• A manutenção de cultivos livres de plantas infestantes,
a destruição de restos culturais logo após a colheita e a rotação de culturas
com plantas não hospedeiras de pulgões e da mosca-branca.
O uso de inseticidas biológicos que contenham os fungos
entomopatogênicos Brevicoryne
bassiana e Lecanicillium spp. pode controlar os pulgões e a mosca-branca,
principalmente quando os produtos forem utilizados com umidade relativa do ar
acima de 60%.
O controle químico é a principal medida de controle de
pulgões e mosca-branca e existem vários inseticidas registrados no Mapa para a
cultura dos brócolis (Tabela 4).
Entretanto, o uso indiscriminado de agrotóxicos tem
elevado substancialmente o custo de produção de brócolis e pode acarretar
sérios danos ambientais e a contaminação da produção com resíduos tóxicos.
Para o controle dos pulgões e da mosca-branca, antes do
florescimento dos brócolis também podem ser utilizados produtos alternativos,
como óleo mineral ou óleo vegetal emulsionável e inseticida botânico à base de
óleo de nim (Azadirachta
indica), nunca ultrapassando a
concentração de 0,5% (volume/volume) na calda pulverizada, ou seja, para o
preparo da calda deve-se misturar 50 mL do produto comercial em 10 L de água. Doses
mais altas poderão ocasionar fitointoxicação, e o uso frequente de produtos à
base de nim pode ter efeito nocivo sobre os inimigos naturais.
As principais lagartas da ordem Lepidoptera que infestam
os brócolis pertencem às seguintes espécies: Plutella xylostella
(Linnaeus) (traça-das-crucíferas); Trichoplusia ni (Hübner) (lagarta falsa-medideira) e Ascia monuste orseis (Latreille) (curuquerê-da-couve). Plutella xylostella (família Plutellidae) – os adultos são mariposas de 8 mm
a 10 mm de comprimento, com coloração parda e mancha branca na margem posterior
das asas formando uma faixa em formato de diamante quando em repouso. Os ovos
são muito pequenos, arredondados e esverdeados, depositados na face inferior
das folhas e nas inflorescências. As lagartas atingem até 10 mm de comprimento,
são de coloração verde-clara (Figura 13A), cabeça de cor parda e corpo com
pelos escuros, curtos e esparsos. As lagartas causam desfolha e podem destruir
completamente a lavoura.
Figura
13. Folha de brócolis com lagarta (A) e pupas de traça-das-crucíferas
da espécie Plutella
xylostella (B).
A traça pode ainda favorecer a entrada de bactérias
oportunistas, como Pectobacterium spp., nos tecidos lesionados, aumentando a incidência de
podridão-mole nas plantas.
A pupa é protegida por um casulo de seda branca (Figura
13B), facilmente reconhecida na face inferior das folhas. Trichoplusia ni – a mariposa é marrom e possui uma mancha branco-prateada
no centro da asa anterior. Os ovos são arredondados e esverdeados. A sua
postura é feita em camadas sobre a face inferior das folhas. A lagarta é
verde-clara, com até 40 mm de comprimento, e apresenta a parte posterior do
corpo mais robusta. Quando se locomove, apresenta movimento semelhante ao de
medir com a palma da mão.
As lagartas atacam as folhas de brócolis e produzem
grandes orifícios. No ápice da planta (região meristemática), as folhas são comidas
dos bordos para o centro, entre as nervuras. A pupa é de coloração marrom e protegida
por casulo fino de seda branca, sendo encontrada na face inferior da folha. Ascia monuste orseis – os adultos são borboletas com cerca de 50 mm de
envergadura, corpo preto e asas branco-amareladas, com bordas marrom-escuras.
Os ovos são amarelados, depositados em grupos não muito próximos na face
inferior da folha, talos e inflorescências (Figura 14A).
As lagartas chegam a medir 40 mm de comprimento, possuem
cabeça escura, corpo de coloração cinza-esverdeado, com faixas longitudinais
amarelas e verdes e pontuações pretas (Figura 14B).
As lagartas ocasionam desfolha parcial ou total da planta
e consomem as inflorescências e sementes produzidas. As pupas são de coloração
marrom-esverdeada e não são protegidas por casulo de seda, sendo encontradas na
própria planta ou no solo.
Figuras
14. Folhas de brócolis com ovos (A) e lagarta do curuquerê-da-couve
(A. monuste orseis) (B).
Para o manejo integrado das lagartas em brócolis, deve-se
monitorar a lavoura pelo menos duas vezes por semana. Para a traça-das-crucíferas,
recomenda-se o emprego de armadilhas iscadas com feromônio sexual sintético
para captura de mariposas e a inspeção das plantas (folhas, ramos e inflorescências)
na busca de sintomas de infestação, de lagartas e pupas. Para os demais lepidópteros,
devem-se inspecionar diretamente as plantas.
Além das medidas culturais para o controle de insetos
sugadores, o manejo das lagartas na cultura dos brócolis deverá incluir:
• A adoção de cultivos intercalares (consórcio) com
plantas não hospedeiras, que tenham porte ereto.
• A sucessão e rotação de culturas com plantas não
hospedeiras, evitando-se plantios sucessivos de brássicas na mesma área de
cultivo; a remoção de folhas com ovos/posturas e lagartas.
• A destruição e incorporação dos restos culturais e de
cultivos abandonados; a eliminação de plantas espontâneas de cultivos anteriores
antes do novo plantio de brócolis no mesmo local.
• A adoção de vazio fitossanitário, de modo que a área de
cultivo e todas as outras áreas que lhe são próximas fiquem simultaneamente
livres da cultura e de plantas hospedeiras das lagartas por, pelo menos, quatro
semanas.
O uso de inseticidas químicos é a principal medida de
controle de lagartas, com diversos produtos registrados para brócolis (Tabela
5). Alternativamente, podem-se utilizar inseticidas botânicos à base de óleo de
nim (A.
indica), com até 0,5% de
concentração, na calda a ser pulverizada.
O uso de inseticidas biológicos que contenham a bactéria
entomopatogênica Bacillus
thuringiensis (Berliner) (subespécies kurstaki e aizawai)
também pode controlar eficientemente esse grupo de pragas.
Esses inseticidas biológicos devem ser utilizados em fases
iniciais do ataque, ou seja, quando as lagartas ainda são pequenas (menores que
1 cm de comprimento), principalmente durante o período de floração.
As pulverizações devem ser dirigidas às folhas, ramos e
inflorescências, e realizadas sempre com vento fraco e no final da tarde, quando
as temperaturas estão mais amenas.
Outra possibilidade de controle biológico é a liberação
do parasitoide de ovos Trichogramma
pretiosum (Riley) (Hymenoptera: Trichogrammatidae)
para controle de P.
xylostella (traça-das-crucíferas) e de
T. ni (falsa-medideira), podendo ser utilizado conjuntamente
com inseticidas à base de B.
thuringiensis e inseticidas reguladores
de crescimento para controle de lagartas, os quais são seletivos em favor desse
inimigo natural.
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