Em função das condições climáticas e do período de exploração, diversas doenças poderão afetar a cultura da melancia, limitando o seu cultivo, em especial em áreas com baixo nível tecnológico, onde medidas de controle adequadas não são utilizadas. Mais de 30 doenças da melancia já foram registradas na literatura, causadas, principalmente, por fungos, bactérias, vírus e nematoides. O manejo adequado dessas doenças requer medidas preventivas e métodos que diminuam a sua disseminação. As principais doenças e distúrbios fisiológicos que afetam a cultura serão descritas, visando subsidiar a diagnose correta, de modo a definir as melhores estratégias para seu controle.
Doenças fúngicas
Oídio
É uma das principais doenças foliares da melancia e de outras cucurbitáceas, cultivadas ou silvestres, no Brasil e no mundo. Ocorre em praticamente em todos os locais onde a melancia é cultivada, sendo mais limitante nos locais em que predominam condições de altas temperaturas e baixa umidade durante a época de cultivo, regiões semiáridas. Pode haver uma redução no rendimento da cultura pela diminuição do tamanho ou do número de frutos, ou ainda pela redução do período produtivo das plantas. O fungo causador do oídio em melancia no Brasil é a espécie Sphaerotheca fuliginea (Schlechtend.:Fr) Pollacci, que é um parasita obrigatório e apresenta especialização fisiológica. Os sintomas aparecem em toda a parte aérea da melancia, mas as folhas são as mais afetadas. Inicialmente, tem crescimento branco pulverulento. Pode ser visualizado sobre a parte superior das folhas. Com o tempo, as áreas afetadas aumentam em número e tamanho podendo tomar toda a extensão foliar, por causa da coalescência das manchas. Começam nas folhas mais antigas e plantas mais velhas, no estádio de frutificação, quando estão mais suscetíveis. As folhas muito atacadas secam e a planta entra em senescência mais cedo, encurtando o seu período produtivo (Figura 1).
Foto: Rita de Cássia de S. Dias.
Figura 1. Área de melancia infectada com oídio e detalhes de sintomas e sinais.
Umidade relativa alta é favorável à infecção e sobrevivência dos conídios, entretanto, a infecção pode ocorrer em umidade de até 50%. Condições de clima seco favorecem a colonização, a esporulação e a dispersão do fungo. A faixa de temperatura ótima para a ocorrência de epidemias severas da doença varia de 20 oC a 27 oC. Entretanto, a infecção pode ocorrer na faixa de 10 oC a 32oC. Sobrevivência, entre estações de cultivo, ocorre em plantas voluntárias, como diversas plantas daninhas e outras cucurbitáceas cultivadas ou silvestres. O inóculo primário, para iniciar a doença, constitui-se de conídios que podem ser dispersos a longas distâncias pelo vento. Em cultivares muito suscetíveis, em condições ambientais favoráveis — especialmente, em baixa intensidade de luz —, sob cultivo muito adensado, a doença se desenvolve rapidamente e o seu ciclo completo pode levar de 3 a 7 dias.
O controle desta enfermidade deve iniciar pela escolha da variedade a ser plantada, preferindo sempre aquelas resistentes ou que apresentem certa tolerância ao patógeno. Além disso, recomenda-se iniciar, após o período de floração, aplicações de fungicidas de contato à base de enxofre e caso a epidemia evolua no campo, devem-se fazer pulverizações alternadas com fungicidas de diferentes grupos químicos registrados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Míldio
É uma doença bastante comum em melancia no Brasil, com maior ocorrência nas épocas úmidas e de temperaturas amenas, quando poderá causar severas perdas, se não for controlada adequadamente. Ocorre em todas as regiões do País onde se cultiva melancia, seja em campo ou em estufas, mas é mais importante nas regiões Sul e Sudeste. A doença é causada pelo oomiceto Pseudoperonospora cubensis (Berk, M. A. Curtis) Rostovzev, que é um parasita obrigatório. O patógeno praticamente só ataca as folhas das cucurbitáceas. Os sintomas da doença são notados, inicialmente, na face superior das folhas na forma de pequenas manchas cloróticas ou amareladas, que se desenvolvem esparsamente no limbo e aumentam em frequência e tamanho com o tempo. As folhas mais velhas são as primeiras a apresentarem os sintomas da doença, que vão se espalhando para as mais novas. Com a expansão das lesões, estas podem se tornar amarelas ou amarronzadas e necróticas (Figura 2). Sob condições de alta umidade relativa, observa-se, na face inferior das folhas, nas áreas correspondentes às lesões, a produção abundante de estruturas reprodutivas do fungo. Em cultivares muito suscetíveis, as lesões se expandem rapidamente, coalescem e a folha pode secar completamente. A morte e a queda das folhas expõem os frutos à ação dos raios solares e estes podem ficar escaldados, perdendo o seu valor comercial A sobrevivência do fungo ocorre em diversas plantas daninhas ou em outras cucurbitáceas cultivadas ou silvestres. Dentro do campo de cultivo, o esporo é disperso pelo vento, respingos de água e pelo contato com trabalhadores, ferramentas ou implementos. Para a produção abundante de esporos, é necessário um período de pelo menos 6 horas de umidade relativa próxima a 100% e temperatura de 15 oC a 20 oC. Nestas condições ambientais, o ciclo da doença pode ser completado em até 4 dias.
Por ser uma doença devastadora, o seu controle deve ser preventivo, baseado em monitoramento climático, uma vez que o fungo é favorecido por temperaturas amenas e elevada umidade relativa. Portanto, quando as condições climáticas se tornarem favoráveis a sua ocorrência, deve-se iniciar rapidamente a aplicação de fungicidas de contato à base de cobre e utilizar fungicidas específicos registrados para a cultura, alternando-se os grupos químicos.
Foto: Flávio de França Souza.
Figura 2. Sintomas de míldio em melancia.
Crestamento gomoso das hastes
Esta doença é conhecida também como podridão-de-micosferela, cancro gomoso, podridão negra e cancro da haste. Encontra-se presente em todas as regiões produtoras de melancia, principalmente nas regiões tropicais, onde é considerada uma importante doença da cultura. O agente causal desta doença é o fungo Didymella bryoniae (Auersw.) Rehm, que pode infectar qualquer órgão aéreo da planta em todos os estádios de seu desenvolvimento. As mudas apresentam manchas escurecidas e arredondadas nos cotilédones, que passam ao hipocótilo, necrosando-o e circundando-o, causando posterior tombamento. Em plantas adultas, os sintomas variam de acordo com o órgão afetado. Nas folhas, ocorrem lesões angulares e necróticas. O colo das plantas afetadas apresenta zonas de cor parda e aquosa, sobre as quais se observam exsudatos. Nas hastes e suas ramificações, bem como no pecíolo, aparecem manchas encharcadas que depois necrosam, adquirindo uma coloração pardo-escura (Figura 3). Nos frutos, os sintomas se iniciam como pequenas manchas que se tornam marrons e exsudam uma goma, podendo, do mesmo modo que nas hastes, deixar evidente os sinais do fungo na forma de picnídios. Com o passar do tempo e de acordo com as condições do ambiente, as lesões podem se aprofundar e causar um apodrecimento parcial do fruto. No campo, D. bryoniae sobrevive, de uma estação para outra, nos restos de cultura de cucurbitáceas ou em outras hospedeiras, a exemplo de algumas plantas invasoras. O solo e as sementes são também Fotos de inóculo. A umidade é o fator mais importante para a ocorrência da doença. Ferimentos e injúrias causados por insetos são portas de entrada comuns para o patógeno. Temperaturas entre 20 oC e 28 oC e umidade relativa do ar elevada são favoráveis ao desenvolvimento do fungo no hospedeiro. A disseminação da doença no interior da lavoura ocorre pela água de irrigação e práticas culturais. A amontoa, que consiste em aproximar terra no colo da planta, e a capina podem causar ferimentos nas plantas favorecendo o aparecimento da doença.
Foto: Rita de Cássia de S. Dias (A e B) e Diógenes da Cruz Batista (C).
Figura 3. a) Sintomas de crestamento gomoso em melancia nas hastes e no b) colo da planta. c) Detalhe dos picnídios do fungo Didymella bryoniae.
No controle desta doença recomenda-se, inicialmente, escolher áreas livres do patógeno, eliminando-se, da área, restos de cultura e, sempre que possível, fazer a rotação de culturas, utilizando-se plantas não hospedeiras do fungo. Usar somente sementes certificadas, tratando-as preventivamente com fungicidas à base de thiram e captan. Manter o colo da planta livre de plantas daninhas ou folhas para favorecer boa insolação e aeração. Manejar adequadamente a irrigação do solo, evitando-se encharcamentos. Nos tratos culturais, evitar, ao máximo, ferimentos nas planta. Em caso de aparecimento da doença, utilizar produtos registrados para a cultura da grade de agroquímicos.
Murcha de Fusário
O agente causal desta doença é o fungo Fusarium oxysporum Schlechtend.:Fr f.sp. niveum (E. F. Sm) W. C. Snyder & H. N. Hans, que pode atacar as plantas de melancia em qualquer estádio de desenvolvimento. O fungo penetra pelas raízes, atinge os vasos lenhosos, acarretando em murcha e morte precoce das plantas em reboleiras. Esse processo se inicia pelo aspecto amarelecido da folhagem de algumas plantas, que são suscetíveis em quaisquer estádios de desenvolvimento. As plantas jovens que são atacadas no hipocótilo tendem a apodrecer nesta região, tombam e depois morrem. Em plantas adultas afetadas, os sintomas iniciais são reflexos, ocorrendo murcha da planta no período mais quente do dia por causa da obstrução dos vasos condutores pelo patógeno (Figura 4).
Em corte longitudinal da raiz pivotante e do colo da planta, percebe-se a presença de estrias avermelhadas no feixe vascular, indicando a colonização do fungo. Observa-e o engrossamento das raízes e desintegração dos tecidos. O patógeno é capaz de sobreviver no solo por longos períodos, na ausência de seus hospedeiros, mas pode sobreviver também em restos de cultura e em sementes por um longo tempo. O solo contaminado é a principal Foto de inóculo do fungo, onde permanece viável por mais de 10 anos, mesmo na ausência do cultivo de melancia. A disseminação do fungo ocorre por meio de sementes contaminadas, água utilizada na irrigação e respingos de chuvas, máquinas e implementos agrícolas. A sua penetração no hospedeiro pelas raízes ocorre na região de crescimento, sendo facilitada por ferimentos.
Foto: Rita de Cássia de S. Dias.
Figura 4. Sintoma de murcha de Fusarium oxysporum f.sp. niveum em melancia.
O controle desta doença deve iniciar pela escolha criteriosa da área a ser plantada, observando se não há histórico de ocorrência do patógeno em plantios anteriores. Em plantios em condução, demarcar os locais onde aparecerem plantas murchas, eliminando-as imediatamente da área, evitando-se, assim, a disseminação do fungo. Efetuar adequadamente a correção do solo, tanto em nutrientes e matéria orgânica, bem como corrigir adequadamente o pH, evitando-se solos ácidos. Utilizar, no plantio, apenas sementes certificadas, evitando-se ferimentos nas raízes e caule da planta durante os tratos culturais.
Tombamento
Conhecido também como damping-off, ocorre em plântulas de melancia, provocando a morte prematura, afetando o stand do plantio e consequentemente a produtividade. Os agentes causadores desta doença são fungos dos gêneros Fusarium, Rhizoctonia e Pythium, que provocam rápido apodrecimento do caulículo de plântulas e o consequente tombamento das mesmas. A lesão em fase inicial é, geralmente, uma podridão úmida envolvendo os tecidos da base do caulículo (Figura 5). Em seguida, ocorre a murcha e morte da plântula, ou mesmo falhas na emergência, observando-se falhas no estande do plantio. Solos mal drenados, matéria orgânica em excesso, alta densidade de plantio e uso intensivo do solo favorecem o aparecimento da doença. A disseminação do patógeno é auxiliada pela movimentação na área de cultivo, uso de implementos e ferramentas contaminadas e pelo excesso de irrigação. A disseminação a longas distâncias ocorre por meio de sementes contaminadas. A semeadura adensada e o excesso de irrigação favorecem a ocorrência dessa doença.
Foto: Carlos Antonio da Silva.
Figura 5. Sintoma de tombamento em plântulas de melancia.
No controle desta doença, utilizar apenas sementes certificadas e plantá-las em profundidade adequada, evitando-se semeaduras profundas. Manejar adequadamente a irrigação, evitando-se o encharcamento do solo e o acúmulo de água nas covas de plantio.
Mancha aquosa
É causada pela bactéria Acidovorax avenae subsp. citrulli (Schaad et al.) Willems et al. Os sintomas dessa doença podem ser observados nas folhas de plantas em diversas fases de desenvolvimento e nos frutos. Em plântulas infectadas, manchas encharcadas podem ser observadas nas folhas cotiledonares, podendo tornar-se necróticas. Nas folhas, os sintomas iniciam-se na forma de pequenas manchas escuras e angulosas. Os sintomas da mancha-aquosa são mais visíveis nos frutos surgindo, inicialmente, em pequenas manchas de aparência encharcada ou oleosa, com ou sem a presença de halo, que se expandem rapidamente. A área em torno do sítio de infecção inicial torna-se necrótica e, em estágio avançado da doença, pode ocorrer a ruptura da epiderme do fruto com exsudação de substância transparente. Raramente as lesões se estendem até a polpa do fruto, porém quando isto ocorre, a bactéria contamina as sementes. A bactéria geralmente é introduzida na área de plantio por meio de sementes contaminadas que resultarão em plântulas infectadas. A disseminação da bactéria para outras plantas se dá por meio de respingos de chuva e água de irrigação, e a penetração se dá por meio de ferimentos ou estômatos. Após a colheita, a sobrevivência do patógeno ocorre em restos de cultura, hospedeiros alternativos e plantas voluntárias. Por ser uma doença que é transmitida por semente, a medida de controle fundamental a ser adotada é a utilização apenas de sementes certificadas no plantio. Evitar o plantio em períodos chuvosos e com elevada umidade relativa do ar, bem como em áreas com histórico de ocorrência da doença em plantios anteriores, procedendo-se sempre à rotação de culturas, com espécies não hospedeiras. Não existe controle químico eficaz para o controle desta enfermidade.
Doenças causadas por nematoides
As plantas afetadas por nematoides normalmente apresentam um crescimento irregular e pobre, com uma tendência a murchar por desequilíbrios hídricos, acentuando-se durante a frutificação. Ao arrancar estas plantas, verifica-se as presença de galhas, engrossamentos localizados nas raízes, características desta doença. Dentre os nematoides capazes de parasitar as raízes de melancia, destacam-se os nematoides-de-galhas cujas espécies mais disseminadas são Meloidogyne arenaria, M. hapla, M. incognita e M. javanica. Atualmente, em regiões onde M. mayaguensis ocorre, como no Vale do São Francisco, no Nordeste brasileiro, sabe-se que esta espécie também pode infectar as raízes da planta. Além das espécies de Meloidogyne, Radopholus sp. e Xiphinema americanum são nematoides encontrados associados às raízes desta cultura.
A maioria dos dados sobre a importância dos fitonematoides em cucurbitáceas e demais olerícolas, frequentemente, origina-se de pesquisas e informações sobre Meloidogyne spp. Isso é atribuído a sua ampla distribuição nas regiões produtoras, bem como à sua capacidade de atingir níveis populacionais capazes de provocar danos em poucos ciclos de cultivo. A presença de galhas no sistema radicular é o sintoma primário associado com a infecção de Meloidogyne spp., decorrente do distúrbio de hormônios reguladores de crescimento (Figura 6). Na melancia, as raízes reagem à presença de Meloidogyne spp. pela formação de grandes galhas, cujos tecidos apresentam-se amolecidos, o que as difere de outras olerícolas , nas quais os tecidos das galhas permanecem firmes. Com frequência, essas galhas tomam toda a extensão do sistema radicular da melancia, que pode atingir mais de 1 m de comprimento. Não se tem observado diferença entre os sintomas causados pelas espécies distintas desse nematoide que, muitas vezes, encontram-se associadas num mesmo sistema radicular.
Exceção deve ser feita à M. hapla que induz a formação de pequenas galhas esféricas, em meio à intensa ramificação das raízes. Os sintomas na parte aérea manifestam-se por meio de deficiência mineral nas folhas e até murchamento nas horas mais quentes do dia. Isso se deve ao parasitismo desses patógenos no sistema radicular, ocorrendo a perda da eficiência das raízes infectadas em absorver água e nutrientes. Entretanto, esses sintomas não são específicos de infecções provocadas por nematoides, podendo também resultar da infecção por outros microrganismos, ou mesmo de desequilíbrio nutricional do solo. A avaliação segura das infestações dos nematoides-de-galhas no campo pode ser obtida no início da floração da cultura.
Foto: Rita de Cássia S. Dias (A) e José Mauro da Cunha e Castro (B).
Figura 6. Raízes de melancia afetadas por Meloidogyne spp.
Os nematoides-de-galhas são parasitos obrigatórios, por isso, a ausência de plantas hospedeiras adequadas por períodos prolongados tende a levar ao seu desaparecimento. Na ausência de culturas suscetíveis, entretanto, eles frequentemente sobrevivem em plantas daninhas, e são muitas as que permitem a reprodução desses patógenos. A disseminação dos nematoides acontece quando juvenis de segundo estádio ou ovos são transportados de áreas infestadas para áreas não infestadas por meio da movimentação de partículas de solo. Sendo assim, dentro da lavoura, a água de chuva ou de irrigação, as máquinas e implementos agrícolas, o homem e animais podem carregar solo infestado de um local para outro. A grandes distâncias, porém, materiais de plantio contaminados são os maiores responsáveis pela disseminação de fitonematoides.
Os nematoides são patógenos difíceis de serem erradicados da área infestada. Por isso, uma das medidas de controle mais eficientes consiste em prevenir a introdução desses patógenos em áreas isentas. Após o surgimento, as principais medidas a serem adotadas para controle de nematoides em áreas cultivadas com melancia são: a) rotação de culturas empregando espécies resistentes, antagonistas ou más hospedeiras e que não permitam o desenvolvimento de altas densidades populacionais do nematoide; b) destruição de plantas infectadas quando da manifestação dos sintomas ou logo após a colheita; c) controle biológico podendo-se, inclusive, fazer a introdução do antagonista via sistema de produção de mudas; d) realizar o plantio em períodos mais frios, quando possível, para reduzir a infecção; estimular a redução do inóculo no campo com a utilização de adubação verde e de matéria orgânica para estimular o potencial antagonista do solo; d) fazer a solarização do solo em regiões com alta incidência solar e utilizar cultivares resistentes, quando disponíveis.
Doenças causadas por vírus
Vírus da mancha anelar do mamoeiro, estirpe melancia (Papaya ringspot virus – type watermelon, PRSV)
O mosaico da melancia ou mosaico comum é a principal doença de origem viral ocorrendo em espécies de cucurbitáceas, em regiões de clima tropical e subtropical, como o Brasil. Este vírus pode tornar-se limitante à produção de melancia, principalmente, quando a infecção das plantas ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento. Plantas afetadas pelo mosaico comum apresentam uma diversidade de sintomas como mosaico, embolhamento e deformação de folhas, com estreitamento da lâmina foliar que fica reduzida às nervuras principais (Figura 7). Plantas doentes apresentam também severo enfezamento. O PRSV-w pertence à família Potyviridae, no gênero Potyvirus. O vírus é limitado às cucurbitáceas, infectando 40 espécies, em 11 gêneros. Foi inicialmente identificado como sendo uma estirpe do vírus do mosaico da melancia e denominado mosaico da melancia 1 (Watermelon mosaic virus 1 – WMV-1). Entretanto, foi reclassificado como uma estirpe do vírus do mosaico do mamoeiro, baseado em resultados sorológicos e inoculação em plantas hospedeiras. é transmitido por cerca de 24 espécies de afídeos (pulgões) de maneira não persistente. Este modo de transmissão é altamente eficiente. Os pulgões adquirem as partículas virais ao se alimentarem por alguns segundos em planta infectada, durante a “picada de prova”. Tornam-se aptos a transmitir o vírus ao se alimentarem em plantas sadias. Não há relatos de transmissão por sementes. Pode ocorrer em associação com outros vírus como WMV-2, ZYMV e CMV.
Foto: Mirtes Freitas Lima.
Figura 7. Sintomas de PRSV-w em plantas jovens de melancia.
Vírus do mosaico da melancia (Watermelon mosaic virus - WMV).
Anteriormente denominado vírus do mosaico da melancia 2 (WMV-2), pode ocorrer em regiões de clima tropical, subtropical e temperado. No Brasil, foi identificado na década de 1980, infectando a cultura da abobrinha no Estado de São Paulo. O vírus tem sido mais comumente identificado na região Nordeste. Sintomas semelhantes àqueles causados pelo PRSV-w como mosqueado, mosaico com áreas verde mais claro e verde-escuro, rugosidade e malformação do limbo foliar, podem ser observados em plantas infectadas com o WMV (Figura 8). Plantas afetadas apresentam ainda redução na produtividade e na qualidade dos frutos. O vírus pertence ao grupo Potyvirus, na família Potyviridae. Diferente do PRSV-w que é restrito às cucurbitáceas, o WMV é capaz de infectar diversas espécies de plantas em 27 famílias, incluindo as cucurbitáceas, além de leguminosas, malváceas, quenopodiáceas e ornamentais. O vírus é transmitido por cerca de 38 espécies de afídeos, sendo Myzus persicae e Aphis spp. os principais vetores. A relação vírus/vetor é não persistente. Não é conhecida a sua transmissão pela semente.
Foto: Rita de Cássia S. Dias.
Figura 8. a) Sintomas nas folhas e em b) fruto de melancia de melancia causados por WMV.
Vírus do mosaico do pepino (Cucumber mosaic virus – CMV).
O vírus do mosaico do pepino é mais severo em cucurbitáceas cultivadas em regiões de clima temperado. é mais frequente e importante em outras espécies de cucurbitáceas, entretanto, o CMV infecta também plantios de melancia. O vírus provoca enfezamento da planta e mosaico, malformação de folhas que apresentam tamanho reduzido quando comparado às de plantas sadias.
Os internódios são mais curtos, assumindo aspecto de roseta. Plantas infectadas podem produzir frutos pequenos e deformados. Os sintomas causados por CMV podem ser menos severos em pepino e melancia. O CMV pertence ao gênero Cucumovirus, na família Bromoviridae. Pode infectar diversas espécies de plantas, cerca de 800 espécies em 85 famílias, incluindo mono e dicotiledôneas. O vírus é transmitido por mais de 60 espécies de afídeos, de maneira não persistente, sendo as espécies Myzus persicae e Aphis gossypii os vetores mais importantes. A transmissão do CMV em sementes de cucurbitáceas não ocorre, apenas em sementes de espécies de outras famílias.
Vírus do mosaico amarelo da abobrinha de moita (Zucchini yellow mosaic virus – ZYMV)
Foi detectado no Brasil pela primeira vez nos anos 1990, em abóbora, mas nos últimos anos, tem se identificado a presença do ZYMV com frequência cada vez maior. Folhas de plantas infectadas apresentam descoloração internerval, mosaico, embolhamento, necrose, redução e deformação do limbo foliar (Figura 9). Apresentam, ainda, severa redução no desenvolvimento e não produzem frutos ou, quando produzem, são malformados e podem apresentar rachaduras, tornando-se inviáveis para a comercialização. O vírus pertence ao grupo Potivirus, na família Potyviridae. é transmitido por cerca de nove espécies de afídeos de maneira não persistente, incluindo Aphis citricola, Macrosiphum euphorbiae e Myzus persicae. A transmissão do vírus em sementes de melancia não ocorre.
Foto: Rita de Cássia S. Dias.
Figura 9. Sintomas de descoloração internerval causado pelo ZYMV em plantas de melancia.
Vírus do mosaico da abóbora (Squash mosaic virus – SqMV)
Ocorre mais frequentemente nas culturas do melão e abóbora, nas quais assume maior importância econômica, entretanto, uma estirpe deste vírus infecta plantios de melancia. Plantas afetadas pela doença apresentam, além dos sintomas descritos anteriormente — mosaico, mosqueado e embolhamento, manchas cloróticas e enfezamento —, projeções marginais das nervuras, como resultado da interferência no desenvolvimento dos tecidos do limbo foliar. Em melancia, como resultado da infecção, há produção de menor número de frutos, atraso na maturação e malformação. O SqMv infecta principalmente as cucurbitáceas. Está classificado no gênero Comovirus, na família Comoviridae. Estirpes ocorrem na natureza e membros do grupo 1 (SqMV-1) infectam plantas de melancia. A transmissão do SqMV é feita por coleópteros dos gêneros Diabrotica e Epilachma, de maneira persistente ou circulativa. Neste tipo de transmissão, o vírus não se multiplica no vetor, entretanto, é retido pelos insetos por um determinado tempo, durante o qual transmitem o vírus ao se alimentarem em plantas sadias. A transmissão do tipo persistente não é tão eficiente quanto a não persistente do PRSV-w, CMV e WMV-2. Este fato pode limitar a sua disseminação em plantios no campo. Entretanto, a transmissão por sementes ocorre a uma porcentagem que varia entre 0,14% a 10%.
Clorose letal da abobrinha de moita (Zucchini lethal chlorosis virus – ZLCV)
Tem sido detectado com frequência, nos últimos anos, com incidência de até 100% em alguns casos. Os sintomas em plantas de melancia surgem na forma de mosaico, rugosidade e malformação de folhas, além de epinastia. Plantas afetadas apresentam necrose de folhas e da porção da haste próximo à extremidade do ramo. Também é observada redução dos internódios e a planta apresenta menor vigor e menor desenvolvimento. O ZLCV pertence ao gênero Tospovirus, família Bunyaviridae. É transmitido por insetos raspadores-sugadores, os tripes (Thysanoptera: Thripidae). A espécie Frankliniella zucchini transmite o ZLCV, entretanto, outras espécies de tripes podem, provavelmente, ser vetoras deste virus. O modo de transmissão é do tipo persistente propagativa, na qual o vírus se multiplica no inseto vetor que o transmite por toda a sua vida. Informações sobre a epidemiologia do SqMV ainda são escassas.
Controle
Por causa da inexistência de métodos curativos para o controle de viroses e, considerando-se que em plantas afetadas por estas doenças, não há como reverter o processo, as medidas que devem ser tomadas devem ser preventivas, visando evitar a ocorrência da infecção ou reduzir a incidência destas doenças na área e, consequentemente, minimização do seu efeito na produtividade e na qualidade dos frutos. Dessa maneira, a forma mais eficiente e econômica para o controle destas viroses é a resistência genética, com o plantio de cultivares resistentes. Entretanto, apesar da identificação de Fotos de resistência ao PRSV-w, WMV-2 e ZYMV, em melancia, não há cultivares comerciais resistentes a estes vírus.
As pulverizações com inseticidas para o controle de pulgões, visando limitar a disseminação desses vírus dentro do plantio, não são eficazes, por causa da rápida transmissão desses vírus por afídeos. As medidas recomendadas para o manejo de viroses em melancia são:
a) Plantar sementes com sanidade comprovada e evitar plantar sementes obtidas de plantios anteriores.
b) Dar preferência ao plantio de sementes de variedades resistentes ou tolerantes, quando disponíveis.
c) Selecionar a épocas para o plantio, que desfavoreçam a ocorrência de elevadas populações dos insetos vetores.
d) Evitar o plantio de melancia próximo a áreas de cucurbitáceas em produção infectados e/ou abandonados, principalmente, na direção do vento.
e) No caso do ZLCV, produzir mudas sob a proteção de tela, reduzindo as chances de infecção.
f) Eliminar plantas invasoras dentro e próximo da área de plantio, visando reduzir a sobrevivência de pulgões e dos vírus em plantas hospedeiras alternativas.
g) Inspecionar periodicamente a área de plantio, visando detectar focos iniciais de infecção.
h) Eliminar as plantas doentes para reduzir as Fotos de inóculo na área cultivada.
i) Estabelecer barreiras em volta da área de plantio, com o plantio de milho, por exemplo, para evitar a migração de vetores para dentro do cultivo.
j) Eliminar os restos de cultura logo após a colheita e também de plantios mais velhos antes do estabelecimento dos novos cultivos.
l) Fazer o controle químico dos vetores, no caso dos besouros e tripes para limitar a disseminação do SqMV e do ZLCV.
Distúrbios fisiológicos
Podridão apical
Também conhecida por podridão estilar e fundo preto, é um distúrbio fisiológico causado por deficiência de cálcio na planta, que se acentua em condições de altas temperaturas do ar, baixos teores de cálcio e baixa umidade no solo. Os sintomas da podridão aparecem em frutos de diversos tamanhos. A extremidade do fruto torna-se escura e, às vezes achatada, com uma podridão seca, acompanhada ou não por sinais de murcha (Figura 10). A presença desse tecido morto inutiliza os frutos para o comércio, pois, na parte necrosada, ocorre infecção por microorganismos. Algumas cultivares são mais sensíveis, como a ‘Charleston Gray’, e outras, mais tolerantes, como a ‘Crimson Sweet’. Em geral, as cultivares de frutos alongados são mais suscetíveis à ocorrência do distúrbio que as cultivares de frutos arredondados.
As medidas preventivas mais importantes para controlar esse distúrbio são:
a) Aplicação de cálcio ao solo na forma de calcário ou gesso.
b) Adubação balanceada.
c) Utilização de nitrato de cálcio ou biofertilizantes nas fertirrigações.
d) Controle das irrigações conforme o recomendado, principalmente na fase da frutificação.
e) Uso de cultivares menos sensíveis ao distúrbio.
Foto: Rita de Cássia S. Dias.
Figura 10. Fruto de melancia, cv. Charleston Gray com podridão estilar.
Rachadura dos frutos
Tem sido relacionada ao excesso de umidade disponível à planta, principalmente na fase de maturação e a temperaturas do ar elevadas — acima de 35o C —, especialmente quando ocorrem variações bruscas de umidade do solo em curto espaço de tempo. Também existem diferenças entre as cultivares quanto à predisposição ao rachamento, pois na melancia existe um gene que torna a casca mais vulnerável a essa característica.
Frutos com ocamento da polpa
Distúrbio que varia entre as cultivares e de causa desconhecida. Consiste na presença de espaços vazios na polpa, que vão desde pequenas até grandes fissuras. Esta desordem fisiológica tem sido observada, com frequência, em frutos de algumas cultivares triploides — melancia sem sementes . Acredita-se que fatores ambientais e aqueles relacionados ao manejo da cultura que contribuem para o crescimento descontínuo do fruto possam aumentar significativamente a incidência de frutos com esse distúrbio. Os fatores normalmente mencionados como promotores dessa desordem são o excesso de fertilizantes nitrogenados, água em excesso e alternância de períodos quentes e frios durante o crescimento dos frutos.
Queimaduras do sol
As queimaduras nos frutos causadas pela incidência direta dos raios solares, frequentemente, ocorrem em cultivares de casca verde escura (Figura 11), mas também são observadas em frutos de casca clara. Normalmente, estão associadas à deficiência de cobertura foliar — a desfolha provocada por doenças e pragas, por problemas nutricionais — bem como às características genéticas da cultivar que determinam uma baixa massa foliar. Portanto, o adequado manejo integrado de doenças e pragas, e nutricional das plantas evita a ocorrência da queimadura de sol nos frutos. É importante ressaltar que plantas vigorosas, com muitas folhas, além de atenuar os efeitos das queimaduras, que desqualificam os frutos à comercialização, normalmente resultam em maior produtividade.
Foto: Rita de Cássia S. Dias.
Figura 11. Fruto de melancia, cv. Sugar Baby com queimadura de sol.
Frutos deformados e queda de frutos
Esse distúrbio está relacionado com a deficiência de polinização. Recomenda-se a instalação de colmeias e evitar as aplicações de agrotóxicos, principalmente de inseticidas, no período matinal, quando ocorre maior intensidade de trabalho das abelhas, evitando-se a fuga ou morte dos agentes polinizadores da melancia.
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