Mangarito (Xanthosoma riedelianum)
O mangarito fazia parte da dieta dos índios e, claro, fez sucesso quando chegou ao prato dos colonizadores a ponto de ser mencionado por cronistas épicos como Gabriel Soares de Sousa, autor do “Tratado Descritivo do Brasil”, de 1587, e do padre jesuíta Fernão Cardim, que escreveu o “Tratado da Terra e Gente do Brasil”, de 1625. No clássico “O Cozinheiro Nacional” (reeditado pela Editora Senac São Paulo em 2008), segundo livro de culinária publicado no Brasil, o mangarito é citado numa receita de ensopado (FRAGATA, 2012). Muito apreciado no passado, nos dias de hoje é praticamente desconhecido. Ainda é encontrado esporadicamente em feiras nas cidades do interior de Minas Gerais como Uberlândia, Patrocínio e Montes Claros. Tem aumentado a produção na região de Joinville, estado de Santa Catarina. Acredita-se que, apesar de ser iguaria culinária por seu paladar único, seu desuso é decorrente da baixa produtividade e do aspecto visual. Entretanto, esforços para preservar este material realizados por entusiastas como o Sr. João Lino no interior de São Paulo, e instituições de pesquisa e Universidades (UFMG, campus de Montes Claros, UFV, Epamig, Emater-MG, Embrapa Hortaliças, entre outras) tem contribuído para preservação e difusão desta espécie. Alguns autores referem-se ao mangarito pelo nome científico de X. mafaffa, mas Gonçalves (2011) e Cavalcanti (2011) apresentam evidências morfológicas de que se trata de X. riedelianum.
Nomes comuns – Mangarito, mangareto, mangará, tayaó (guarani), malangay, tannia.
Família botânica – Araceae, a mesma família das taiobas e do taro.
Origem – Regiões tropicais das Américas Central e do Sul, podendo ser encontrado no México, Venezuela, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Porto Rico, Peru e Brasil.
Variedades – Não há variedades sistematizadas, mas observa-se variabilidade em clones apresentando rizomas de coloração interna branca, amarela e arroxeada. O que ocorre, na prática, é a manutenção de variedades locais e, muitas vezes, o plantio em quintais com a mistura de diferentes clones.
Clima e solo – Desenvolve-se plenamente em regiões tropicais úmidas, porém necessita de estação seca para produção satisfatória de rizomas. Adapta-se bem a cultivos de verão em outras regiões do Brasil de clima mais ameno. Os solos devem ser profundos, bem drenados, não compactados e com bom teor de matéria orgânica.
Preparo do solo – Consiste em aração e gradagem, atentando-se para a adoção de práticas conservacionistas. Em seguida, efetuam-se o enleiramento ou encanteiramento e a adubação.
Calagem e Adubação – É planta muito rústica, mas em solos empobrecidos responde à correção e à adubação. Quando necessário, aconselha-se efetuar a correção da acidez do solo com dois meses de antecedência e aplicar a quantidade e o tipo de calcário com base na análise de solo, de modo a obter pH entre 5,5 e 6,0. A adubação deve ser baseada nos níveis de nutrientes observados na análise de solo. Como não há recomendação específica para mangarito, sugere-se utilizar a recomendação para taro (ex-inhame), o que representa até 180 kg/ha de P2O5 e 90 kg/ha de K2O, fornecendo 30% do N e 50% do K no plantio (COMISSÃO, 1999). O restante do N e K são fornecidos em cobertura aos 40-45 e 75-90 dias após o plantio.
Plantio – A propagação é feita por pequenos rizomas, diretamente no local definitivo. Propágulos com 1 a 1,5 cm aumentam a produção comparativamente a propágulos muito diminutos, menores que 0,5 cm. Ainda assim, esses podem ser utilizados para multiplicar o material. O espaçamento deve ser de 0,4 a 0,5 m entre as leiras e de 0,2 a 0,3 m entre plantas nas leiras. É também comum o plantio em canteiros no espaçamento de 0,25 0,30 x 0,25-0,30 m e no caso de plantios tardios, pode-se usar até 20 x 20 cm.
Em regiões tropicais e equatoriais com chuvas durante todo o ano o cultivo pode ser realizado o ano inteiro, enquanto em regiões subtropicais ou tropicais de altitude, o cultivo é restrito à época mais quente do ano (setembro-outubro a março-abril), permanecendo a cultura em dormência durante o período frio e/ ou seco do ano. Nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, o mangarito é plantado normalmente em setembro-outubro, no início do período chuvoso, e no Nordeste, pode ser plantado a partir de dezembro. Ensaios no Planalto Central tem demonstrado que o plantio tardio (final de novembro a início de dezembro) reduz o excessivo perfilhamento proporcionando o desejado efeito de menor número de rizomas por plantas que ficam então com maior tamanho. Como a parte aérea das plantas fica menor, é possível adensar o plantio.
Tratos culturais – A cultura deve ser mantida no limpo, por meio de capinas manuais. Deve-se irrigar conforme a necessidade, não havendo recomendações específicas para mangarito, lembrando que, em geral, é cultivado no período chuvoso, dispensando irrigação. A cultura é bastante tolerante a pragas e doenças. Contudo, Leite, et al. (2000) relatam a ocorrência de pulgões do gênero Aphis, ácaros do gênero Tetranichus, tripes do gênero Frankliniella e nematoides do gênero Meloidogyne, os quais podem causar alguns danos aos rizomas.
Colheita e pós-colheita – A colheita tem inicio 6 a 8 meses após o plantio, quando as folhas entram em senescência. São separados os rizomas com tamanho superior a 2 cm para o consumo, deixando-se os menores para propagação, onde é feita a limpeza, eliminando-se o solo aderido. A produtividade pode atingir até 15 ton/ha em cultivos mais adensados.
As folhas do mangarito são comestíveis, mas são os rizomas, que apesar de relativamente pequenos, representam verdadeira iguaria culinária de paladar particularmente especial, sejam cozidos, fritos, salteados (“sauté”) ou em cremes. Em tempos passados, era muito apreciado no meio rural no café da manhã ou lanche da tarde, quando cozido ou assado no forno a lenha e depois recoberto de melado.
Figuras 72 e 73: Mangarito com muitos perfilhos e touceiras com rizomas pequenos
Figuras 74 e 75: Mangarito com plantas pequenas e rizomas maiores
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