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terça-feira, 28 de setembro de 2021

PANCS: Quiabo-de-metro (Trichosanthes cucumerina var. anguina)

 

Quiabo-de-metro (Trichosanthes cucumerina var. anguina)

É chamado assim devido à forma cônico-cilíndrica, que lembra os frutos do quiabo, apesar de serem de famílias botânicas distintas. A planta assemelha-se em aspecto à bucha-vegetal (Luffa spp.), cabendo citar que é comum o consumo de frutos imaturos de bucha na Ásia, especialmente Japão e China. No Brasil, o quiabo-de-metro é consumido por populações da região Amazônica e, esporadicamente, em Estados com Minas Gerais e Goiás. É uma trepadeira com hábito de crescimento indeterminado e produz frutos que podem atingir mais de um metro de comprimento.

Nomes comuns – quiabo-de-metro e cabaça-serpente, em inglês “snake gourd”, devido à semelhança do fruto ao formato desse animal.

Família botânica – Cucurbitaceae, a mesma das abóboras e chuchu.

Origem – Não é muito bem definida, mas provavelmente é originário da Ásia, onde assume relativa importância econômica, especialmente na Índia e em Bangladesh.

Variedades – Na prática, os agricultores tem realizado seleção de melhores plantas e frutos e manutenção de variedades locais ao longo do tempo, dentro de um sistema próprio de observação para a escolha das melhores plantas.

Clima e solo – O quiabo-de-metro é tipicamente de clima tropical, não suportando temperaturas baixas ou geadas. Como a maioria das plantas da família Cucurbitaceae, possui melhor adaptação a temperaturas médias que variam entre 20ºC e 27ºC. Tem ampla adaptação a vários tipos de solo, desde argilosos a arenosos, porém não tolera solos muito ácidos.

Preparo do solo – Pode ser feito pelo sistema convencional, com realização de aração e gradagem, ou pelo sistema de plantio direto (cultivo mínimo). Em seguida, efetua-se o coveamento e a adubação. No sistema de plantio direto, o revolvimento é restrito às covas de plantio, deixando-se o solo protegido por uma cobertura morta (palhada de cultivos antecessores) entre as covas ou linhas de plantio.

Calagem e adubação – Para a correção da acidez, de acordo com o resultado de análise de solo, deve-se elevar a saturação de bases para o nível de 60%. Como não há estudos para a cultura do quiabo-de-metro, sugere-se utilizar a recomendação para adubação do chuchu, ou seja, até 200 kg/ha de P2O5, 72 kg/ha de K2O e 30 kg de N, além de 10 a 15 ton/ha de esterco de curral curtido (COMISSÃO, 1999). Em cobertura, a recomendação é de se fazer aplicações mensais a partir do início da produção com 40 kg/ha de N e 30 kg/ha de K2O.

Pode-se fazer o semeio durante o ano todo em regiões quentes (Norte, Nordeste, parte do Centro-Oeste e norte de Minas Gerais), cujo inverno não apresenta temperaturas limitantes ao desenvolvimento da cultura, desde que haja disponibilidade de água. Em regiões de clima mais ameno (regiões Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste), o cultivo deve ser feito de setembro a dezembro.

Plantio – A propagação é feita por sementes, podendo-se fazer a semeadura no local definitivo ou produzir as mudas em bandejas ou em recipientes individuais (copinhos de jornal ou plástico, por exemplo), com posterior transplantio quando as mudas estão com quatro a cinco folhas definitivas. No semeio direto no local definitivo, dispõem-se quatro ou cinco sementes por cova, desbastando-se 15 dias depois, deixando as duas plantas as mais vigorosas por cova. As covas devem ter 40 x 40 x 40 cm (altura, largura e profundidade). Quando em latada, sugere-se espaçamento de 4,0 x 4,0 m.

Tratos culturais – A planta é conduzida em latada, de modo semelhante ao utilizado para chuchu. É necessário fazer a condução do ramo principal e deixar uma brotação lateral desenvolver-se com o ramo principal, a cerca de 30 cm do colo da planta. Para facilitar a fixação dos ramos pelas gavinhas, deve-se fazer a condução dos ramos em um tutor de bambu com galhos. Os ramos das plantas devem ser conduzidos até que atinjam a parte superior da latada, deixando-se, posteriormente, o desenvolvimento dos ramos laterais para explorar toda a área da latada. Somente é necessária a condução inicial dos ramos, já que a planta possui gavinhas para fixação.

Apesar da tolerância da cultura a pragas, observam-se alguns danos por lagartas, vaquinhas e brocas. Quanto a doenças, antracnose, mancha zonada e viroses ocorrem com maior ou menor severidade, dependendo das condições locais.

Colheita e pós-colheita – A colheita inicia-se três a quatro meses após o semeio. Os frutos deverão ser colhidos quando atingirem até 60 cm de comprimento, amarrando-os em feixes de forma a facilitar o transporte e não causar injúrias ao produto. Pode atingir rendimentos de 20,0 a 30,0 ton/ha.

Os frutos devem ser consumidos ainda imaturos (com 2 a 3 cm de diâmetro), por estarem tenros, podendo ser cozidos, refogados ou fritos.


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

PANCS: Peixinho (Stachys lanata)

 

Peixinho (Stachys lanata)

Planta perene e herbácea, atinge cerca de 20 cm de altura e forma touceiras com dezenas de propágulos. É comum seu cultivo como ornamental, muitas vezes sem o conhecimento do seu uso culinário em países como Portugal, Equador, Argentina e Uruguai.

Nomes comuns – Peixinho, lambarizinho, lambari-de-folha, orelha-de-lebre ou orelha-de-coelho.

Família botânica – Lamiaceae.

Origem – Não se sabe ao certo sua origem, mas é encontrada em estado silvestre em regiões de clima ameno da Europa e da Ásia.

Variedades – No Brasil, encontra-se praticamente um só morfotipo, não se observando variabilidade, sendo esse mantido pelos agricultores.

Clima e solo – Desenvolve-se melhor em regiões de clima ameno, com temperaturas entre 5ºC e 30ºC. No Brasil, é cultivado em locais de altitude (superior a 500m) das regiões Sudeste e Centro-Oeste e na Região Sul. Não tolera o calor excessivo, tendo seu crescimento prejudicado em temperaturas acima de 35ºC. Possui boa tolerância ao frio, inclusive geadas, mas abaixo de 5ºC por longos períodos, o crescimento das folhas é sensivelmente reduzido. Os solos devem ser bem drenados, não compactados e com bom teor de matéria orgânica. Aparentemente, não floresce nas condições climáticas brasileiras.

Preparo do solo – Deve-se realizar as práticas de aração e gradagem, seguindo-se o encanteiramento. Entretanto, como é geralmente cultivada em áreas pequenas, as operações são, em geral, feitas manualmente com auxílio de enxadas. Os canteiros devem ser semelhantes aos utilizados para alface.

Calagem e adubação – Quando necessário, efetuar a correção da acidez do solo com antecedência de pelo menos 60 dias do plantio e aplicar a quantidade e o tipo de calcário recomendados com base na análise de solo, buscando pH entre 5,8 e 6,3. Como não há recomendação específica para peixinho e considerando sua maior rusticidade, sugere-se metade da recomendação de adubação para alface, isto é, conforme o teor de nutrientes no solo, de até 200 kg/ha de P2O5 e 60 kg/ha de K2O, além de 25 ton/ha de composto orgânico no plantio (COMISSÃO, 1999). Deve-se aplicar 20% do K e do N no plantio e o restante parcelado mensalmente a partir da primeira colheita.

Plantio – A propagação é feita pelo desmembramento de propágulos das touceiras, plantando-se as mudas diretamente no local definitivo quando os dias são frescos. Em épocas quentes ou no período mais chuvoso do ano, deve-se fazer o enraizamento das mudas em recipientes à sombra e depois efetuar o transplantio. O espaçamento deve ser de 20 a 25 cm entre plantas.

O peixinho pode ser cultivado o ano inteiro em regiões de clima ameno, desde que haja umidade para seu desenvolvimento. Em regiões muito quentes, com temperatura média superior a 25ºC, o cultivo é dificultado no verão.

Tratos culturais – Sugere-se capinar e irrigar conforme a necessidade, não havendo recomendações específicas, lembrando que se trata de planta perene, exigindo regas no período seco do ano. É recomendada a cobertura morta, por exemplo com grama cortada, para propiciar melhor microclima e evitar respingos que sujam as folhas demasiadamente quando há chuvas fortes e solo descoberto, chegando mesmo a causar apodrecimento das mesmas.

A cultura é bastante tolerante ao ataque de pragas e doenças, possivelmente pela espessura e pilosidade das folhas. Todavia, Os nematoides do gênero Meloidogyne (nematoides das galhas) atacam as raízes das plantas causando alguma redução no seu crescimento. Periodicamente, devem-se renovar os canteiros por uma questão de adensamento excessivo que chega a causar algum apodrecimento de folhas e até mesmo a morte das touceiras, além de permitir uma redução na população de nematoides na área.

Colheita e pós-colheita – A colheita de folhas é feita a partir de 60 a 70 dias após o plantio, à medida que elas atingem um bom tamanho, superior a 8 cm, podendo atingir facilmente 15 cm. Pode produzir durante quatro a seis meses, até a necessidade de se renovar os canteiros, algo como 2 a 4 maços/m2 por semana, cada maço contendo cerca de 20 a 25 folhas ou aproximadamente 100 g, o que proporciona produção em torno de 2,5 a 5,0 kg/m2.

As folhas são consumidas fritas, empanadas ou à milanesa, devendo-se dar atenção especial à higienização. Por serem muito pilosas, as folhas devem ser muito bem lavadas para tirar as impurezas do campo, deixadas de molho por 5 a 10 minutos, e depois secas para posterior preparo ou conservação. Podem ser conservadas em geladeira, previamente embaladas em sacos plásticos.


Figuras 87, 88 e 89: Peixinho; canteiro, detalhe das folhas, folhas empanadas fritas



domingo, 5 de setembro de 2021

PANCS: Ora-pro-nóbis sem espinho (Anredera cordifolia)

 

Ora-pro-nóbis sem espinho (Anredera cordifolia)

Planta perene e trepadeira, com folhas arredondadas e suculentas. Produz tubérculos aéreos (estruturas de reserva) a cada axila das folhas e, em maior concentração, na base das plantas. Esses tubérculos são utilizados como propágulos para o plantio. É cultivada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Nomes comuns – Ora-pro-nóbis sem espinho, espinafre-gaúcho, anredera e, no sul do Brasil, bertalha, apesar da confusão com a bertalha verdadeira, gênero Basella, de origem asiática.

Família botânica – Basellaceae.

Origem – Sul do Brasil e Uruguai.

Variedades – Não se observa ampla variabilidade morfológica.

Clima e solo – Produz melhor sob temperaturas mais amenas, entre 15º e 25ºC nas regiões Sul e Sudeste. Por apresentar desenvolvimento inicial lento, deve ser cultivada em solos ricos em matéria orgânica e de fertilidade mediana a alta.

Preparo do solo – No caso de variedades de hábito de crescimento indeterminado, o plantio é feito em covas orientadas em linhas para tutoramento em espaldeira. O revolvimento de solo deve ser restrito às covas de plantio, deixando-se o solo protegido por uma cobertura morta (palhada de cultivos anteriores, geralmente gramíneas e leguminosas). No caso de cultivo de variedades de hábito de crescimento determinado ou mesmo as de hábito indeterminado, porém colhidas frequentemente para a comercialização, pode-se fazer o plantio em canteiros.

Calagem e adubação – A calagem deve ser feita em função da análise de solo, visando atingir pH entre 5,5 e 6,0. Para que haja elevada produção de folhas, é interessante que seja mantido bom nível de matéria orgânica no solo. A adubação orgânica pode ser feita com composto orgânico, com até 3,0 kg/m2, conforme os teores de matéria orgânica no solo. Durante o período de colheita, a cada dois meses, refazer a adubação de cobertura com até 1,0 kg/m2 de composto orgânico.

Plantio – A propagação é realizada por meio de propágulos (tubérculos aéreos), diretamente no local definitivo, podendo-se utilizar propágulos já brotados. O espaçamento sugerido é de 3,0 m entre linhas por 1,0 m entre plantas nas linhas. Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste desenvolve-se melhor quando plantada de setembro a março.

Tratos culturais – Recomenda-se manter as plantas infestantes sob controle, por meio de capinas manuais; irrigar, de acordo com a necessidade da cultura, normalmente duas a três vezes por semana em períodos secos; e efetuar tutoramento em espaldeira semelhante ao usado para tomate vertical, em linha simples. Devido à sua rusticidade, raramente as plantas são afetadas por pragas ou doenças, a não ser esporadicamente por pragas desfolhadoras (formigas, gafanhotos ou coleópteros).

Colheita e pós-colheita – A colheita das folhas é feita, geralmente, a partir dos quatro ou cinco meses após o plantio, assim que as plantas atingem cerca de 1,5 a 2,0 m. Recomenda-se, quando necessário, a conservação em sacos plásticos em geladeira, o que preserva as folhas em ótimas condições por até cinco dias. A produtividade pode variar em torno de 100 a 200 g/planta mensalmente, perdurando por seis meses ou mais.

As folhas macias e suculentas podem ser consumidas em saladas, refogadas e em combinação com outras hortaliças, carnes e aves. Relatos indicam que os tubérculos aéreos, inclusive auqeles formados no colo da planta, podem ser consumidos de modo similar à batata (Solanum tuberosum).

Figuras 84, 85 e 86: Ora-pro-nóbis sem espinho ou anredeira, planta, tubérculos aéreos e colo da planta com propágulos