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sábado, 23 de outubro de 2021

Cultivo de Pimentas

 

Cultivo

Com a chegada dos navegadores portugueses e espanhóis ao continente americano, muitas espécies de plantas já conhecidas e utilizadas pelos nativos foram “descobertas” pelos Europeus, entre elas as pimentas. Dentre as muitas espécies encontradas nas Américas, as pimentas nativas, do gênero Capsicum, mereceram atenção especial por serem mais picantes (pungentes) do que a pimenta-do-reino ou pimenta-negra, do gênero Piper, originária da Índia, cuja busca foi, possivelmente, uma das razões das viagens que culminaram com o descobrimento do Novo Mundo.

Diversos relatos de exploradores do Brasil-colônia demonstram que a pimenta era amplamente cultivada e representava um item significativo na dieta das populações indígenas. Ainda hoje a importância das pimentas continua grande, seja na culinária, na crendice popular, no artesanato, na medicina alopática ou natural e até mesmo como arma de defesa. Faz parte de remédios para artrites (pomadas à base de capsaicina), dores musculares (como emplastro), dor de dente, má digestão, dor de cabeça e gastrite. 

A capsaicina, responsável pela pungência ou ardume das pimentas (ver capítulo 3), é aparentemente a única substância que, usada externamente no corpo, gera endorfinas internamente, que promovem sensação de bem-estar e acionam o potencial imunológico.

Os índios caetés foram os primeiros brasileiros a usar a pimenta como arma, ao arremessar pó de pimenta seca contra os inimigos. Atualmente, séculos depois, a oleorresina de pimenta em aerossol ou em espuma é usada pelas forças armadas e polícia modernas na forma de “sprays” de pimenta (“pepper spray” e “pepper foam”).

É igualmente substancial a contribuição histórica brasileira na dispersão das pimentas pelo mundo, eficientemente feita pelos navegadores portugueses e pelos povos que eram transportados em suas embarcações. As rotas de navegação no período 1492-1600 permitiram que as espécies picantes e doces (não picantes) de pimentas viajassem o mundo. As pimentas foram, então, introduzidas na África, Europa e, posteriormente, na Ásia.

Cinco séculos depois do descobrimento das Américas, as pimentas passaram a dominar o comércio das especiarias picantes, sendo de relevância tanto em países de clima tropical como temperado. Atualmente, a China e a Índia têm mais de um milhão e meio de hectares cultivados com Capsicum.

E os tailandeses e os sul-coreanos, tidos como os maiores consumidores de pimenta do mundo, comem de cinco a oito gramas desse condimento por pessoa/dia.

No Brasil, cultivam-se pimentas do gênero Capsicum em praticamente todos os estados da federação, mas os principais produtores são: Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Ceará e Rio Grande do Sul. A área anual cultivada é de cerca de cinco mil hectares, com produção aproximada de setenta e cinco mil toneladas. A produtividade média depende do tipo de pimenta cultivada, variando de 10 t/ha a 30 t/ha.

O cultivo de pimentas se ajusta perfeitamente aos modelos de agricultura familiar e de integração pequeno agricultor–agroindústria. As pimentas, além de consumidas frescas, podem ser processadas e utilizadas em diversas linhas de produtos na indústria de alimentos. Sua importância socioeconômica é muito grande, por permitir a fixação de pequenos produtores rurais e suas famílias no campo, a contratação sazonal de mão-de-obra durante o período de colheita e o estabelecimento de novas indústrias processadoras e, conseqüentemente, a geração de novos empregos.

As pimentas, em sua maioria, são cultivadas em pequenas unidades familiares, em áreas que variam de 0,5 hectare a 10 hectares, com baixo uso de insumos. O custo de produção, assim como a rentabilidade obtida da comercialização dos frutos, varia principalmente em função do tipo de pimenta, da produtividade e do período de colheita.

A ocorrência de doenças (ver capítulo 10) e de algumas pragas (ver capítulo 11) tem dificultado o cultivo e afetado a qualidade de pimentas no Brasil. São limitantes à produção de pimenta as doenças causadas pelos fungos Phytophthora capsici e Oidiopsis haplophylli (estágio perfeito: Leveillula taurica), pelas bactérias Xanthomonas spp. e Ralstonia solanacearum e pelos tospovirus, potyvirus e, mais recentemente, geminivirus.

Até 2006, um dos problemas enfrentados pelos produtores de pimentas era a modesta quantidade de cultivares disponibilizadas no mercado pelas companhias de sementes. Por esta razão, os produtores extraíam, de suas próprias plantações, sementes de frutos não certificados quanto à sanidade e pureza, resultando em material de plantio de baixa qualidade. Atualmente, a maior demanda por parte de pequenos produtores familiares é por cultivares de pimentas dos tipos: de-bode, cumarido-Pará, biquinho, murupi, de-cheiro e jalapeño, muitas já encontradas com facilidade no mercado.

As principais demandas dos produtores de pimenta, levantadas por extensionistas e pesquisadores, são: cultivares com resistência a doenças e técnicas alternativas de processamento (para agregar valor ao produto). Porém, tem sido observado no agronegócio familiar de pimenta que todo esforço para a obtenção de genótipos superiores pode ser perdido se não houver manejo pós colheita, processamento e armazenamento adequados, com equipamentos que garantam a qualidade do produto processado.

Também são muitos os problemas enfrentados pelas agroindústrias processadoras de pimenta, dentre os quais se destacam: número limitado de cultivares disponíveis no mercado, pouca diversificação e baixa qualidade de matéria prima, falta de padrões de qualidade dos produtos industrializados, carência no mercado de equipamentos adequados à produção em pequena escala e ineficiência no controle de qualidade e de higiene dos produtos.

A maior exigência de qualidade por parte do mercado consumidor, seja para pimentas frescas ou processadas, requer mais investimentos em inovações técnicas. Estas devem ser capazes de, não somente melhorar a qualidade, mas, também, de reduzir custos de produção, aumentar a produtividade e agregar valor (particularmente com o desenvolvimento de novos produtos obtidos de processamento).

São requisitos básicos para assegurar competitividade e conquistar novos clientes e, pois, para manter e ampliar mercados.

A crescente demanda do mercado tem impulsionado o aumento da área cultivada e o estabelecimento de agroindústrias em diferentes regiões do Brasil; parte da produção brasileira de pimentas é exportada em diferentes formas, como páprica, pasta, desidratada e conservas ornamentais. Em 2005, o volume das

exportações brasileiras de pimentões e pimentas atingiu mais de 9.200 toneladas, no valor aproximado de US$ 23.500 mil, posicionando-se atrás apenas do melão  na pauta de hortaliças exportadas, representando uma contribuição de 13,5% no valor total das exportações brasileiras de hortaliças.

Em 2005, as importações mundiais de pimenta desidratada alcançaram 465.466 toneladas, com valor aproximado de US$ 628 milhões. Seu alto valor econômico torna o agronegócio brasileiro de pimentão e pimentas Capsicum, com mercado anual estimado em mais de R$ 100 milhões, e em crescimento, um dos mais atraentes do Brasil, tanto do ponto de vista do mercado interno como externo.



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