Vinagreira (Hibiscus sabdariffa)
Está distribuída pelo mundo, mas é na África e no Brasil, mais especificamente no Estado do Maranhão, que assume maior importância como hortaliça folhosa. Na América Central e México, na Ásia (Japão e Índia, entre outros) e Europa o uso mais destacado da vinagreira é como matéria-prima para chá – o reconhecido chá de hibisco. Pode ainda ser usado como planta ornamental. É um arbusto vigoroso, podendo atingir até 3 m de altura, com caule verde, vermelho ou arroxeado. Entretanto, enquanto hortaliça, efetua-se o manejo com corte, mantendo as plantas com 1,0 a 2,0 m de altura. Suas folhas são alternadas, lobadas e dentadas, com coloração verde ou púrpura. As flores são branco-amareladas, rosas ou púrpuras, com cálices carnosos vermelhos ou brancos que irão formar os frutos, pequenas cápsulas.
Nomes comuns – Groselha, rosela, quiabo azedo, quiabinho e quiabo-de-angola.
Família botânica – Malvaceae, a mesma do quiabo e do algodão.
Origem – Há dúvidas quanto a seu centro de origem. Há controvérsias entre a África Tropical e a Índia. Sua introdução no Brasil deu-se, provavelmente, no período colonial por escravizados africanos.
Variedades – Há diferentes variedades, mas no Brasil o que ocorre é a seleção e manutenção de variedades locais, havendo basicamente dois tipos: as de folhagem verde e as de folhagem avermelhada (púrpura), além de esporadicamente plantas verde-claras, praticamente sem pigmentação, e de plantas com flores diferenciadas em cor e textura. Nos Estados Unidos, visando o aumento do tamanho dos cálices, objetivando a produção de fermentados, e maior rendimento em fibras para a indústria têxtil, foram lançadas as variedades Pokeo e THS 22.
Clima e solo – Desenvolve-se melhor em regiões de clima quente, com temperaturas entre 21ºC e 35ºC. Abaixo de 17ºC, o desenvolvimento é interrompido. Na região Sul, é cultivada a partir de setembro-outubro. Os solos devem ser profundos, bem drenados, sem problemas de compactação e com bom teor de matéria orgânica. Não tolera encharcamento, havendo apodrecimento de plantas.
Preparo do solo – Varia conforme o sistema, podendo ser feito pelo método convencional ou pelo sistema de plantio direto (cultivo mínimo), atentando-se para a adoção de práticas conservacionistas. No caso do preparo convencional, efetua-se aração e gradagem e, em seguida, coveamento ou sulcamento e adubação. No sistema de plantio direto, o revolvimento é restrito às covas ou sulcos de plantio, deixando-se o solo protegido por uma cobertura morta (palhada de cultivo anterior, geralmente gramíneas ou leguminosas) entre as covas ou linhas de plantio.
Calagem e adubação – Com base na análise de solo, efetuar a correção da acidez do solo buscando pH entre 5,8 e 6,3. Como não há recomendação específica para vinagreira, sugere-se a adubação para quiabo. Assim, conforme a textura do solo e seu teor de nutrientes, a recomendação de 40 a 240 kg/ha de P2O5 e de 60 a 240 kg/ha de K2O, fornecendo 50% do K e todo o P no plantio. Recomenda-se também até 50 toneladas de composto orgânico no plantio. Em cobertura, 50 kg de N/ha 30 dias após o plantio. Após cada corte realizado, deve-se realizar adubação nitrogenada, na dosagem de 40 kg de N/ha (COMISSÃO, 1999).
Plantio – A propagação é feita, geralmente, por sementes, mas o enraizamento de estacas é plenamente viável. O plantio pode ser feito diretamente no local definitivo, dispondo-se duas a três sementes por cova (desbastando-se para deixar uma planta por cova somente), ou em bandejas, com transplantio quando as plantas atingem 15 a 20 cm de altura. A emergência ocorre a partir de quatro dias. A propagação por estacas é muito comum, pela facilidade de enraizamento, o que antecipa o ciclo da cultura. As estacas, porém, devem ser tiradas ainda na fase vegetativa de desenvolvimento, antes do florescimento, e devem ser enraizadas em recipientes ou em bandejas com substrato preparado ou comercial. O espaçamento final deve ser de 1,0 x 1,0 m quando se deseja o desenvolvimento das plantas até a frutificação e de 1,0 m x 0,5 m quando se deseja fazer cortes sucessivos de ramos para uso como hortaliça.
Em regiões tropicais e equatoriais, o cultivo pode ser realizado o ano inteiro, desde que haja disponibilidade de água, enquanto em regiões subtropicais ou tropicais de altitude, o cultivo é restrito à época mais quente do ano (setembro-outubro a março-abril).
Tratos culturais – A cultura deve ser mantida sob baixa competição com plantas infestantes por meio de capinas manuais e/ou mecânicas. Deve-se irrigar conforme a necessidade, não havendo recomendações específicas para vinagreira, mas sim o conhecimento empírico de que umidade excessiva pode provocar seu apodrecimento. É bastante tolerante a pragas. Entretanto, há relatos de ataque por formigas cortadeiras (saúvas), cochonilhas, e coleópteros (vaquinhas). Em relação a doenças, ocorre podridão causada por Phytophthora sp. Em regiões com umidade relativa mais baixa, como o Cerrado brasileiro, pode-se verificar a incidência de Oidium sp. (oídio), fungo que ataca a parte aérea.
Colheita e pós-colheita – No caso de uso como hortaliça, a colheita inicia-se entre 60 e 90 dias após o plantio, quando os ramos são cortados com 30 a 50 cm de comprimento. Efetuam-se cortes sucessivos sempre que as plantas atingem porte suficiente para novo corte. No caso de saladas cruas, colhe-se apenas os ápices (extremidades) dos ramos. Produz, aproximadamente, 5 a 10 ton/ha de ramos para uso com hortaliça a cada corte, sendo comum três cortes ou mais. No caso de uso de pétalas ou frutos imaturos (capuchos), deixa-se a planta se desenvolver plenamente até a fase reprodutiva, florescimento, a partir de 150 a 180 dias. As pétalas devem ser colhidas diariamente pela manhã; os frutos imaturos (capuchos) para produção de doces, sucos ou geleias a cada dois dias. A produção de frutos imaturos para doces, sucos e geleias rende cerca de 1,0 a 1,5 kg por planta, portanto, 10 a 15 ton/ha; e a de sépalas para chá, algo como 100 a 150 g por planta ou 1,0 a 1,5 ton/ha que, quando secos, renderão de 50 a 75 kg/ha de chá seco.
Após o corte dos ramos, faz-se uma seleção e eliminam-se partes com defeitos. Em seguida, lavam-se os ramos em água corrente e de boa qualidade e formam-se os maços, com peso médio de 300 gramas. O manuseio deve ser feito em local sombreado e a vida útil é curta assim como todas as folhosas. Na alimentação, destaca-se no Maranhão como base de pratos da culinária local, sendo o mais significativo o “arroz de cuxá”, feito com arroz, camarão seco, vinagreira e condimentos, refelxo de hábitos culinários portugueses e africanos. Os frutos e cálices são matéria-prima para a fabricação de sucos, doces e geleias. Nos Estados Unidos, é comum o preparo de um fermentado a partir do suco extraído dos cálices e das folhas. As sépalas são desidratadas e utilizadas para o preparo de chás, preparados puro (chá de hibisco) ou em mistura ao tradicional chá preto, feito com as folhas de Camellia sinensis. Na Ásia (Japão e Índia, especialmente) e Rússia, é forte a demanda por flores secas de vinagreira para o preparo de chá. Há variedades que são empregadas na produção de fibras para a indústria têxtil.
Figuras 100 e 101: Vinagreira comum, na fase vegetativa e na reprodutiva com colheita de frutos
Figuras 102 e 103: Vinagreira, variedades roxa e de flores aveludadas