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domingo, 17 de março de 2024

Cultivo de baunilha: práticas básicas

 

INTRODUÇÃO

A baunilha (Vanilla planifolia Andrews) é uma planta da família das orquídeas, origináriado México, cujos frutos aromáticos possuem um alto valor comercial. O aroma natural de baunilha, relacionado especialmente à presença da substância vanilina, é o mais popular e largamente utilizado no mundo. Apesar da produção sintética de vanilina, existe uma grande demanda pela produção do aroma da baunilha de origem natural. Estima-se que menos de 1% dos produtos são aromatizados com baunilha de origem natural, particularmente aquela que seja proveniente de sistemas de cultivo agroflorestal e orgânico. O fruto é a parte utilizada da planta, comumente denominada vagem ou fava.

A baunilha era originalmente utilizada pelos povos Astecas em um contexto cultural para fins aromatizantes e medicinais e em rituais com o intuito de atender à nobreza, especialmente ao imperador. A obtenção da baunilha (V. planifolia) era feita de forma extrativista, fruto da polinização natural por abelhas nativas, e, por esse motivo, sua produção era incipiente. A baunilha foi apresentada à cultura europeia pelos espanhóis, que a conheceram na corte do tlatoani (governador) Asteca Moctezuma II (Montezuma). Ao aportar em 1519 no território que hoje se conhece como México, Hernán Cortez, conquistador espanhol, foi recebido pelo governante, que teria lhe oferecido a bebida sagrada tchocoatl, que era feita de massa de sementes de cacau acrescidas de mel e baunilha e engrossada com farinha de milho.

O Codex Florentinus (1540–1590) traz os mais antigos registros europeus conhecidos sobre os usos de baunilha, escritos e ilustrados sob a supervisão do missionário franciscano espanhol Bernardino de Sahagún.

A cultura da baunilha foi introduzida pelos franceses na Ilha da Reunião (1793), de onde foi levada para as Ilhas Maurício (1827), posteriormente para Madagascar (1840) e para as Ilhas Seychelles (1866). Há registros de cultivo de baunilha em Java no ano de 1846. Apesar de a baunilha ser conhecida e cultivada na Europa desde o século XVI, sua disseminação pelo mundo só ocorreu no século XIX, o que se deveu  à dificuldade de produção de frutos fora da área de origem. A superação deste problema se deu somente em 1836, quando Edmond Albius, escravo na Ilha da Reunião, descobriu um método prático de polinização artificial das flores, o qual é utilizado ainda hoje.

A baunilha contém cerca de 300 compostos químicos, responsáveis por um aroma único, com predominância de vanilina, e tem uma grande variedade de usos.

Cerca de 97% da baunilha industrializada no mundo é usada na indústria de fragrâncias e aromas, em sorvetes, iogurtes, produtos de panificação, doces, bebidas e outros produtos aromatizados. A baunilha é um produto com alto valor agregado, que exige mão de obra especializada e procedimentos e tratos culturais específicos.

Atenção especial deve ser dada para a produção de mudas, o desenvolvimento e manejo das plantas, a polinização manual, e o processo longo e criterioso de beneficiamento (cura) dos frutos.

Atualmente, são cultivadas, em escala comercial, três espécies de baunilha: a V. planifolia (aproximadamente 95% da produção mundial), a Vanilla x tahitensis J. W. Moore, um híbrido natural, e a Vanilla pompona Schiede. Os frutos comercializados de V. planifolia são oriundos especialmente de ilhas do Oceano Índico – principalmente Madagascar, responsável por 80% da produção mundial. São conhecidos como Baunilha Bourbon por serem obtidos pelo método de beneficiamento desenvolvido na antiga Ilha de Bourbon, atualmente Ilha da Reunião. Os frutos da V. tahitensis possuem aroma distinto e são oriundos de regiões do Oceano Pacífico, especialmente a Polinésia Francesa. Os frutos de V. pompona são originários do México, América Central, Trinidad & Tobago e América do Sul. Os maiores produtores de V. planifolia são Madagascar, Indonésia, China, Papua-Nova Guiné, México, Índia e Uganda, responsáveis  por 95% de toda a baunilha produzida no mundo. Embora o México tenha perdido sua posição como o maior exportador de baunilha, não perdeu a importância, já que é o principal detentor dos recursos genéticos associados à espécie mais comercializada (V. planifolia). O Brasil ainda não tem tradição no cultivo de baunilha. Entretanto, experiências recentes de alguns agricultores, principalmente dos estados da Bahia, Espírito Santo e São Paulo, indicam que o País apresenta condições ecológicas adequadas (vegetação, solo e clima) para esse cultivo.

O mercado internacional da baunilha é marcado por flutuações significativas nos preços, um reflexo da disponibilidade limitada e da qualidade dos produtos.

Entre os desafios do setor produtivo que afetam as oscilações da oferta do produto e que restringem o crescimento do mercado de baunilha estão a reduzida variabilidade genética de V. planifolia, baseada em poucas cultivares e clones, tornando o cultivo da baunilha altamente suscetível a doenças; o baixo nível de tecnificação na produção e no beneficiamento; e as perdas por desastres climáticos. Este cenário sugere a busca de novos locais favoráveis ao cultivo da baunilha, bem como a exploração de espécies nativas que ainda não são utilizadas comercialmente.

As baunilhas brasileiras podem apresentar características interessantes, como composição química e aroma diferenciados. No entanto, existem grandes desafios a superar para transformar essas espécies nativas em produtos para o exigente mercado da alta gastronomia e da indústria.

Esta publicação tem como objetivos trazer informações técnicas básicas sobre o cultivo da baunilha e o processamento dos seus frutos tendo por base conhecimentos e pesquisas realizadas em países tradicionalmente produtores da V. planifolia, descritas na literatura, e que podem ser adaptados às espécies nativas e às condições de produção no Brasil. Toda a literatura está descrita no item Literatura recomendada ao final da publicação. Espera-se oferecer ao produtor nacional informações para a melhoria da sua produção visando atender ao mercado consumidor, para a redução dos riscos inerentes ao cultivo da baunilha e para a obtenção de um produto de qualidade. Dessa forma, são abordados aspectos como sistemas de cultivo, obtenção de mudas, manejo, tratos culturais, condições fitossanitárias, processos de colheita e beneficiamento dos frutos. 


segunda-feira, 11 de março de 2024

Como é o Cultivo do Wasabi (Wasabia japonica)

 

Wasabia japonica

A wasabi, também conhecida como wasabia e raiz-forte-japonesa, é uma planta nativa do Japão, cultivada principalmente para uso de seu espesso caule subterrâneo (rizoma), mas que é frequentemente chamado incorretamente de raiz. Quando ralado, seu rizoma apresenta um sabor bastante picante, similar ao da raiz-forte, mas não idêntico. Suas folhas também podem ser consumidas e têm um sabor menos picante do que o rizoma.

Muito apreciada na culinária japonesa, seu cultivo vem aumentando também no ocidente, principalmente porque a produção japonesa de wasabi não atende nem mesmo a sua própria demanda interna. Porém, é considerada uma planta difícil de cultivar.

A wasabi é uma planta cultivada em várias regiões do Japão, principalmente em cursos de água fria


Clima

A wasabi ou raiz-forte japonesa cresce bem em locais de clima frio e úmido. O ideal é que a temperatura permaneça entre 8°C e 20°C. Locais que apresentam temperaturas acima de 28°C são considerados inadequados para o cultivo. Em regiões onde a temperatura cai abaixo de -3°C, a parte aérea da planta morre, mas esta pode ainda sobreviver e rebrotar quando a temperatura estiver adequada novamente.

Luminosidade

Esta planta cresce melhor em sombra parcial, embora também possa ser cultivada com luz solar direta em regiões onde o clima é ameno mesmo durante o verão.

A wasabi cresce melhor em sombra parcial 


Sistemas de cultivo

Há dois sistemas tradicionais de cultivar esta planta. O mais utilizado no Japão é o cultivo em um ambiente semiaquático, com um fluxo suave e continuo de água fria. No Japão é comum o plantio em camas de rochas feitas ao longo de cursos de água ou em tanques. Cada cama é composta de uma grossa camada de pequenas rochas sobre as quais há uma camada de cascalho, que por sua vez é coberto com uma camada de alguns centímetros de areia.

O outro sistema é o cultivo em locais de solo úmido, rico em matéria orgânica, geralmente sob grandes árvores que proveem sombra e ajudam a manter o ambiente úmido. Neste sistema o solo deve reter bem a água, permanecendo constantemente úmido, mas não deve ficar encharcado ou inundado. A wasabi cresce bem em água corrente, com boa concentração de oxigênio, não em o solo inundado com água estagnada.

Uma outra alternativa é o cultivo em sistemas hidropônicos. O pH da água e do solo devem estar entre 6 e 7, qualquer que seja o sistema de cultivo empregado.

Mudas de wasabi


Plantio

A wasabi ou raiz-forte japonesa é normalmente cultivada a partir de rebentos ou de sementes. Também é possível usar pedaços dos rizomas, mas isso é menos comum.

O método de propagação por sementes não é o mais apropriado quando se espera colher rizomas, pois as plantas oriundas de sementes muitas vezes não produzem bons rizomas. Quando o objetivo é a colheita comercial de rizomas, o plantio deve ser feito usando apenas rebentos de plantas que produzem rizomas de excelente qualidade.

Quando uma planta é colhida, seus rebentos são retirados e usados para propagar a wasabi. Assim muitas vezes a colheita e o plantio são realizados ao mesmo tempo, pois os maiores rebentos podem ser plantados diretamente no local definitivo. Os menores podem ser plantados em vasos deixados sobre bandejas com água, para que o solo do vaso não fique seco. Os rebentos devem ter uma aparência saudável e ter pelo menos 4 cm de altura e pelo menos 4 folhas. Pode haver até 20 rebentos adequados para propagação em cada planta na época da colheita dos rizomas.

As sementes normalmente não germinam se não passarem por um longo período de baixas temperaturas. Assim é necessário deixar as sementes em um refrigerador a 5°C por dois meses para quebrar a dormência antes de semeá-las (o tempo necessário pode variar, dependendo da variedade cultivada). Semeie em sementeiras, módulos, bandejas e outros recipientes, com pelo menos 10 cm de altura, e deixando as sementes cobertas com 1 cm de solo. A germinação ocorre aproximadamente em três semanas.

Quando as mudas estiverem com pelo menos 4 folhas e 5 cm de altura, o que leva de 4 a 6 meses, poderão ser transplantadas para um canteiro com sombra parcial. Deixe as mudas separadas por 5 cm, com a coroa 1 cm acima da superfície do solo. Cerca de dois meses depois, as mudas estarão com aproximadamente 10 cm de altura e poderão ser transplantadas para o local definitivo.

Já os pedaços de rizoma são colocados em recipientes contendo solo ou areia mantidos constantemente bem úmidos, preferencialmente com temperatura ambiente em torno de 10°C. Os rebentos podem levar dois meses para começar a aparecer, e quando estiverem com 4 ou 5 folhas, podem ser cortados do rizoma e transplantados como indicado no parágrafo anterior.

No local definitivo, as plantas podem ficar espaçadas por uma distância de 30 cm. Ao realizar o transplante, deixe a coroa cerca de 1 cm acima da superfície do solo.

A wasabi pode ser cultivada em vasos, que devem ter pelo menos 30 cm de diâmetro e altura para que a planta possa atingir um bom desenvolvimento. Deixe um recipiente raso com água embaixo do vaso para manter o solo sempre bem úmido.

Vaso com wasabi 

Tratos culturais

Retire as plantas invasoras que estejam concorrendo por nutrientes e recursos, principalmente quando o plantio é realizado no solo. Em sistemas semiaquáticos há menos problemas com plantas invasoras.

Plantação de wasabi em camas de rochas


Colheita

A colheita da wasabi ou raiz-forte-japonesa pode geralmente ocorrer de 18 a 24 meses após o plantio, quando o rizoma está com 3 a 5 cm de diâmetro e de 10 a 20 cm de comprimento. Contudo, algumas vezes a planta fica crescendo por até cinco anos antes da colheita ser feita.